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A mostrar mensagens de abril, 2023

O DIVÓRCIO PARTE IV

  Vamos falar a sério, diz o Inspector quando se sentam à mesa do restaurante, não estás bem e o primeiro passo é admitir o facto. Isto é um interrogatório? pergunta a Rita, não sou um dos teus suspeitos, Telmo. Eu sei que não és, responde o cunhado, mas a Francisca está preocupada, diz que passas os dias fechada naquele escritório e as noites no teu quarto. Não comes, não falas com ninguém... estamos todos preocupados contigo. A Francisca exagera, repete a Rita, mas o cunhado abana a cabeça, não, a Francisca não exagera, é tua filha, adora-te, precisa de ti e depois, Rita, o Gonçalo não é o Raul, acrescenta. A Rita levanta a cabeça, há um brilho nos olhos, bom, fi-la reagir, pensa o Inspector, pois não, o Gonçalo não é o Raul, magoou-me é certo, mas não destruí a minha vida. Uma vida que tu voltaste a reconstruir, interrompe o cunhado, tens que o voltar a fazer, sei que é difícil, mas tens que recomeçar. A Rita suspira, estou cansada, sinto-me velha, comenta e o Inspector ri-se, sabes

O DIVÓRCO PARTE III

O Gonçalo parte para a Bélgica, ficará lá entre 6 meses a um ano o que contraria bastante a filha, tanto tempo? Porquê? mas o Pai é lacónico na resposta. A Rita pouco diz sobre a partida do ex-companheiro, está ocupada a reorganizar a empresa, tenta que a filha se interesse, mas a Francisca está preocupada com o Pai, com o curso, o que a Mãe decidir, está bem, diz. Não me ajuda em nada, desabafa a Rita com a Teresa, é natural que esteja um pouco perdida! opina a amiga, não deve ser fácil ver os Pais separarem-se, o Gonçalo partir e tu também não estás bem. Ela está preocupada contigo! Que disparate! responde a Rita apressadamente, mas a vivacidade que a caracterizava desapareceu, está sombria, envelhecida, concluí a Aída, não é a mesma Rita que conheci no Clube de Leitura! Faz-lhe falta a irmã, explica a Teresa, bem tento conversar com ela, mas a Rita afasta-me, somos amigas, sim, mas há coisas que ela nunca conversará comigo! É uma pena, ela precisa de conversar e muito, concorda a Aí

O DIVÓRCIO PARTE II

  As semanas seguintes são frenéticas, o casal tem um vasto capital que é preciso apurar e dividir. O Gonçalo só está interessado em ficar com a casa da Vila e os lucros do último ano, é só isso que queres? insiste o António confuso, tens muito mais do que isso e tenho a certeza de que a Rita não está a fazer qualquer objecção. Não, não está, confirma o Gonçalo, eu quero que seja assim, já transferi as minhas acções da empresa para a Francisca. Mas o que é que vais fazer? Vais tornar-te num velho excêntrico, fanático pela saúde? pergunta o António, acho que não vou aguentar ter que lidar com dois irmãos malucos! O Gonçalo ri-se, dá-lhe uma palmada nas costas, não te preocupes, tenho planos, vou trabalhar uns meses para Bélgica e depois vê-se...Propuseram-me trabalhos como consultor e sabes que sou bom nisso. Tens a certeza? repete o irmão e o Gonçalo volta a rir, está confiante, diz o António à Teresa naquela noite, totalmente confiante. O teu irmão sempre foi uma pessoa positiva, inte

O DIVÓRCIO

  Eu e a Rita decidimos pedir o divórcio, diz o Gonçalo ao irmão ao jantar, encontraram-se num restaurante discreto perto do cais, come-se bem e não é caro, diz ao telefone. O António olha-o fixamente durante uns segundos, outra vez? repete, vocês andam sempre às turras e depois fazem as pazes e fica tudo maravilhoso. Não desta vez, declara o Gonçalo, andamos a evitar a verdade, temos que a enfrentar e sermos sinceros. Adoro a Rita, vou adorá-la sempre, é a Mãe da minha filha, mas... O irmão suspira, e a empresa? os bens, etc? pergunta e o Gonçalo abana a cabeça, vou sair da empresa, vou passar as minhas acções para a Francisca, mas tenho direito a parte do lucro deste ano e é aí que tu entras. Pois, já estava à espera disso, interrompe o António, não será melhor pedires a um outro gabinete? Não, não, apressa-se a dizer o Gonçalo, tanto a Rita como eu confiamos em ti e trabalhas com outros contabilistas, um deles pode fazer esse trabalho. O António volta a suspirar, o irmão tem sempre

A HISTÓRIA - FIM

  MATILDE Não sei o que pensar, não sei mesmo como o Bernardo vai reagir à ideia de ter um quinto filho. O Júnior e a Margarida foram planeados, os gémeos uma surpresa e contratar a D. Margarida para nos ajudar foi um grande alívio. Concentrei-me em mim, na minha carreira e não me importo de voltar a ajustar os meus horários com os do bebé. Mas estou preocupada com o Bernardo, disse qualquer coisa como espero que seja a última vez, preciso de respirar um pouco. Respiro fundo, tenho que me preparar para a festa, a Teresa, a tia Rita e a minha sogra ajudaram-me, tenho pena que a Mãe não esteja cá. A Clarinha ficou um pouco aborrecida por não lhe ter pedido ajuda, tenho óptimas ideias, ia ser uma festa de arromba, protesta. Deixamos o entretenimento por tua conta, diz a Tia Rita, mas nada de exageros, interrompo, coisas simples! Pois, tencionava contratar um encantador de serpentes, responde a minha irmã trocista e eu tremo só de pensar no que ela vai organizar. Chego mais cedo ao hotel,

A HISTÓRIA PARTE VI

  BERNARDO Sei que estão a preparar uma festa para celebrar os meus quarenta anos de vida, a Mãe a a Matilde fecham-se na cozinha, conversa  privada, dizem, vão dar uma volta e eu levo os miúdos até ao parque para uma  caminhada, uma volta de bicicleta. O Pai também deve estar dentro do segredo, mas desvia a conversa sempre que falo nos meus anos, quem diria? interrompe-me, vais fazer quarenta anos, sinto-me velho. Rio-me, o Pai ainda está cheio de energia, respondo, mas a verdade é que estou satisfeito com o rumo que a vida tomou, aprendi imenso enquanto estive fora, em São Tomé e em Cabo Verde e sabia que era um risco abrir uma empresa com o Gustavo. Mas estamos a ter um sucesso, estamos a ponderar contratar novos membros para reforçar a equipa e pessoalmente, não podia ter encontrado uma companheira tão perfeita. Sei muito bem os problemas da Matilde, ajudei-a a recuperar e a verdade é que estive sempre apaixonado por ela. Por isso, decidir viver com ela e mais tarde casar foi o pas

A HISTÓRIA PARTE V

  AVÓ AIDA Há rumores de que a livraria vai ser adquirida por um grupo e não me surpreendo quando me fazem uma proposta, uma indemnização generosa e a carta para o Fundo de Desemprego. Alguns membros do Clube de Leitura que supervisiono não ficam muito satisfeitos com a minha saída e preferem desistir do que ficar sob a alçada de outra pessoa. Também não há certeza de que o Clube continue, dizem, vá lá, tentem, peço, mas eles abanam a cabeça, não, não, somos uma família, queremos continuar como tal, respondem. É então que tenho a ideia de continuarmos com o Clube, em vez de ser na livraria, pode ser em casa de um uma semana, na seguinte, na minha, etc sugiro. Ah, não, isto é tipo terapia, explicam, é uma forma de sair da rotina e eu fico a pensar no assunto. É a Natália quem tem a ideia de fazer as reuniões do Clube na Fundação, não é só para eventos da Universidade? pergunto e a Natália ri-se. Eu sou a Presidente da Fundação e posso decidir isso, declara, no Verão até podem ter a reun

A HISTÓRIA PARTE IV

  TIA Y Ouvi tantas vezes a história do porquê de me chamarem "Y" que desisti de me pedir para me tratarem pelo nome dado no baptismo. Chamo-me Graça, nasci já o meu irmão Bernardo era adulto, teria uns 23 anos e achou imensa piada ter uma irmã naquela idade. Os meus Pais estavam divorciados, estavam a viver com outras pessoas, mas encontraram-se num evento da Livraria, jantaram juntos e acabaram na cama. Decerto que foi uma noite romântica, mas o romance é deles, os detalhes são deles e eu não vou imaginar a cena. Adiante, o mano Bernardo escolheu o nome, que graça ter uma irmã agora que estou a iniciar a minha vida de adulto! exclamou e Graça ficou. O Bernardo Júnior nasceu quando eu tinha dez anos, tinha alguma dificuldade em dizer os "g" e os " r" e por isso, começou a chamar-me " Y". Sou a " Y" para toda a família, menos para a Mãe que insiste em chamar-me Graça, se é o teu nome, diz, vou chamar-te pelo teu nome e não se fala mais

A HISTÓRIA PARTE III

  GÉMEOS Deve ser mais fácil dizer " gémeos, venham cá depressa" do que " Flávia, Francisco" e temos que nos apressar, pois o Pai não admite demoras. A Mãe é mais paciente, mas também não gosta de palavras repentinas ou insultuosas... tivemos que pedir à D. Margarida para nos explicar o que era. Infelizmente, o Júnior ouviu-nos e quando nos quer chatear, sim, vamos dizer chatear, sabemos muito bem que é aborrecer, mas este é o nosso diário e podemos escrever o que nos apetecer. Como estávamos a dizer, quando o nosso mano nos quer chatear, faz um grande discurso com palavras tão eruditas que ninguém percebe nada. O Francisco vinga-se, inventa uma linguagem complicada, o Júnior fica perplexo e a Margarida adora, pensas que estás a lidar com idiotas! diz, é bem feito que eles te paguem na mesma moeda! Aprendo também a tal linguagem, as educadoras ficam nervosas quando nos ouvem falar, lá estão os gémeos a esconderem-se, exclamam e recomendam à Mãe terapia da fala. A Mã

A HISTÓRIA PARTE II

  MARGARIDA Ok, gosto de estar ao corrente de tudo e de falar e escrever correctamente. Creio que o Júnior fala mal só para me aborrecer; claro que os Pais o criticaram quando tentou dizer palavrões na frente deles, mas isso não o impede de os repetir quando estamos sozinhos. Quanto aos gémeos, eles não estão interessados no que o Júnior diz, querem jogos de guerra e perseguições de extraterrestres e o meu mano mais velho é craque nisso. Não é que eu não goste de jogos e não participe, mas gosto mais de estar na loja da Avó Madalena e da Tia Teresa a conversar com os clientes. Agora que a Avó Madalena morreu, é raro lá ir, a Mãe diz que é penoso demais, mas sempre que há uma festa cá em casa, quem trata do catering é a Tia Teresa. A governanta também cozinha muito bem, mas a comida da Tia Teresa é mais sofisticada e eu delicio-me com a feijoada de marisco ou o tornedó wellington. Esta noite, o Avô e a Tia Clarinha vêm cá jantar, é a D.Margarida quem faz o jantar e só os filhos mais vel

A HISTÓRIA

  BERNARDO JÚNIOR Como neto mais velho, tenho a responsabilidade de escrever as memórias da família. Sou mais ligada às ciências, mas a prima Sofia diz que não se importa de fazer a revisão do texto e o tornar apelativo aos leitores. Apresentações: chamo-me Bernardo Júnior, sou o filho mais velho do Bernardo e da Matilde, um casal cheio de harmonia e paz. Numa só palavra: um casal original que me presenteou com uma irmã abelhuda, a Margarida e uns gémeos terroristas, o Francisco e a Flávia. Como irmão mais velho, tenho que dar o exemplo, diz o Avó Bernardes, um homem muito sério que raramente levanta a voz. Quando o faz, estamos metidos num grande sarilho e apenas o Luís, o filho da Tia Clarinha, o ignora. Mas o Luís raramente faz asneiras e desconfio que é o neto favorito, mas o Pai assegura-me que o Avó não tem favoritos. Há o tio Gustavo, que mal conheço, pois ele só aparece nas festas familiares e a Tia Clarinha, que é, segundo diz a Mãe, um espírito livre. Mas eu adoro a Tia Clari

A PRISÃO FIM

  Isto muda tudo, diz o Chefe lentamente, exige uma outra abordagem e temos que ser discretos, acrescenta e o Bernardes concorda. Decidem voltar a casa, dormir umas horas, ter nova reunião à tarde, estabelecer uma estratégia, declara o Chefe. A Clarinha e o Luís preparam-se para sair quando o Inspector chega a casa, então? pergunta, mas o Inspector está cansado, abana a cabeça, mais tarde, mais tarde, repete e fecha-se no quarto. Acaba por dormir, acorda perto do meio-dia e fica mais uns minutos na cama, a pensar em tudo o que está a acontecer. Talvez seja melhor visitar novamente a Madame X, pensa, ela sabe alguma coisa. Pois está errado, Inspector, interrompo o chato do Inspector que insiste em dizer que a minha prisão foi resultado de uma cilada, a Filomena era uma idiota, era lá capaz de me trair!!! O Inspector volta a sorrir, eu tenho vontade de lhe bater, prefiro que as pessoas gritem, mostrem que estão irritadas do que esta calma, esta segurança. Ok, vou deixá-la em paz, observa

A PRISÃO PARTE V

  O Inspector observa o envelope atentamente, o que é que aconteceu para o Meireles deixar uma encomenda a cargo de um advogado? O que é que ele suspeitava? Alguma coisa muito grave, pensa. Abre, não faças todo este teatro, interrompe a Clarinha, não aguento mais! e o Pai abre a carta. É uma mensagem muito simples, estão a cumprir as instruções do Sargento Meireles, se ele não os contactasse dentro de um mês e lessem alguma coisa sobre ele no jornal, deviam entregar a caixa ao Inspector Bernardes. Há uma carta dentro da caixa que explica tudo, dizem e ficam ao dispor do Inspector para qualquer outro esclarecimento adicional. A caixa está selada, o Inspector tem que cortar a fita, tira a caixa, no topo está a dita carta, em baixo, os blocos de apontamentos de capa preta onde o Meireles escrevia todas as anotações sobre os casos que investigava. O que é? pergunta a Clarinha, pegando num bloco que o Pai lhe arranca das mãos, são os apontamentos sobre os casos que o Meireles investigava, e

A PRISÃO PARTE IV

  O Jeffrey visita-me finalmente, nota-se que está nervoso e apenas diz que " não participamos". O quê??? Estás a brincar comigo??? quase grito, alguma coisa se passa e vocês estão ao corrente... Não, o Jeffrey é assertivo, surpreende o tom de voz duro, o Zé deve ter dado instruções para só me dizer o essencial. Não, a visita não é nada produtiva, não sei se a morte do Meireles foi um acto isolado ou está ligada a qualquer operação sobre a qual eu não sei nada. Porque é que me apaixonei pelo Meireles e me deixei enganar daquela maneira? Estúpida, estúpida, agora estarias lá fora e saberias tudo, murmuro. Entretanto, a brigada está desanimada, as pistas não revelam nada de novo, as pessoas que o Meireles investigava estão dispersas pelo País. O Inspector Tomás suspira, está tudo calado, podem saber alguma coisa, diz, mas ficam calados, repete. Ainda penso que está relacionado com a operação da Madame X, interrompe o Bernardes, mas ela não vai falar e os outros membros estão es

A PRISÃO PARTE III

  Não resisto à curiosidade em saber o que se passou e telefono à Alice. A Alice está afastada há anos do circuito, mas ainda fala com pessoas que trabalham com o Zé, pode ser que tenha ouvido qualquer coisa. Oh, são só rumores, diz, não tenho a certeza de nada! Sim, fala-se na morte do polícia, ninguém sabe ao certo quem o matou, mas há quem esteja verdadeiramente feliz com isso. Ele esteve muito perto, mas mesmo muito perto de desmantelar o gangue dos DoisVentos. Que raio de nome! murmuro, mas não sabes mesmo nada? insisto e a Alice suspiro, não, não sei mais nada e desliga. Tenho vontade de gritar, mas tenho que manter a cabeça baixa, não quero que façam muitas perguntas, sinto o olhar dos guardas em mim. Sorrio-lhe irónica, afasto-me do telefone e volto para a minha cela, porque é que o Zé não deixou o Jeffrey vir?  Só pode ser um jogada, quer castigar-me e deixar-me na ignorância. Entretanto, o Inspector janta com a família, está pensativo e a Clarinha não aguenta mais, interrompe