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A mostrar mensagens de novembro, 2020

O ESTÁGIO - PARTE IV

O Gustavo chega a casa a meio da manhã; é o fim de semana de folga da Mãe, por isso está em casa. O filho nota que ela está mais magra, mais pálida e fica preocupado com a tristeza que lê no olhar. Apenas pergunta, onde está a Clarinha? e entra no quarto. O quarto está todo desarrumado, com livros e roupas espalhados pelo chão; a Clarinha recusa-se a fazer a cama, a tomar banho e a vestir-se. Que vergonha! diz o Gustavo e apressa-se a abrir a janela. A Clarinha fica calada e depois tenta abraça-lo, mas o irmão esquiva-se. Tomara tantos meninos terem uma casa como esta, roupa limpa no armário e uns Pais tão carinhosos, continua e tu estás a comportar-te como uma selvagem. Não sou nada uma selvagem, grita a Clarinha, mas eles não são os meus Pais! Que ingrata! responde o Gustavo, claro que são teus Pais! São os únicos Pais que tens...trouxeram-te bebé para casa, cuidaram de ti como se fosses um de nós e és um de nós! Mas a Clarinha cerra os lábios e não diz mais nada. O Gustava fala mais

O ESTÁGIO - PARTE III

  Os rapazes mudam-se no mês seguinte e tanto a Aída como a Madalena tentam ser fortes perante os outros, mas estão muito preocupadas. Se acontece alguma? e depois repreendem-se, eles são adultos, têm que se defender, que resolver as situações. E o pior de tudo é que os rapazes pedem para só lhe telefonarem uma vez por semana; por vontade delas, telefonavam todos os dias e a todas as horas. A Clarinha volta a fugir, são horas de aflição para a Madalena e para a Matilde. Felizmente, a Clarinha está no parque perto da antiga casa deles, um agente da polícia encontra-a e avisa a central. O Inspector Bernardes leva-a para casa, é acolhida com reprimendas, abraços, mas a Clarinha não se mostra arrependida e quando lhe dizem que está de castigo, só sai de casa para ir para a escola, responde " Com muito gosto". A Matilde fica furiosa e só não lhe bate porque os Pais a impedem. Acham que um castigo físico não vai resolver nada; têm que encontrar outra solução. " Que outra soluç

O ESTÁGIO - PARTE II

  A Madalena também não está a aceitar a notícia da forma airosa como o Gustavo esperava. Este tinha convocado o Pai para a reunião, talvez a Mãe não tenha um ataque se lá estiveres, explica e o Inspector Bernardes suspira e diz ao filho que este tipo de assunto devia ser discutido em família, não apresentar o caso resolvido. Oh, pai, já não sou um adolescente irresponsável, protesta o Gustavo, pois não, concorda o Pai, mas seria melhor, demonstrava uma certa consideração para com a tua Mãe, em especial. Quando vê a Mãe triste e abatida, o Gustavo compreende o que o Pai quer dizer.  Naqueles meses difíceis após o divórcio, a Mãe precisou de apoio e o Gustavo assumiu o papel de " salvador da Pátria" como diz; claro que todos terão que se adaptar à nova realidade, mas a Mãe vai perder o braço direito dela. O Gustavo suspira, pede desculpa e abraça a Mãe. A Clarinha pergunta se não pode ir com ele, oh, catraia, achas que vou ter tempo para te aturar? responde o irmão, vais ficar

O ESTÁGIO

  O Bernardo está diferente, queixa-se a Aida ao Bruno, está distante, pouco fala e quando lhe pergunto se aconteceu alguma coisa, encolhe os ombros e não responde. Está apaixonado, sugere o Bruno, deixa-o resolver o assunto; se precisar de conselhos, sabe que pode contar connosco. Mas a Aída está inquieta, sente que o filho está perturbado com qualquer coisa e tem quase a certeza de que não está relacionado com qualquer relação. Tenho que perguntar ao Major, se aconteceu alguma coisa, ele desabafou com o Major. Mas o Amadeu também não sabe de nada; ok, posso tentar conversar com ele, mas não prometo nada. O Bernardo conta ao Major o que se passa, mas pede-lhe para não contar à Mãe.  Quer ser ele a dizer, mas não é ainda o momento oportuno; aguarda confirmação de certos detalhes. Não sei como a Aida vai encarar isto, confessa o Major à Glória nessa noite. A Aída sabe que um dia ele vai sair, talvez saia mais cedo do que ela está a pensar, como sempre, a Glória é prática e o Major conco

OS AMANTES - FIM

  O Nicolau anota o numero de telemóvel do estudante de mestrado e o Major pergunta se não será uma boa ideia o Trovador voltar para Portugal. O Reino está diferente, tem um novo rei, talvez mais ambicioso, mas a mulher dele morre no parto, explica o Major, ele pode deixar o bebé com a família dela. Ou conhecer um Duque importante, acrescenta a Rita, e a filha ser criada com os filhos do Duque. O Nicolau ri suavemente, será que nunca explode, pensa a Sofia e responde, obrigada, são sugestões interessantes que vou ter em conta, mas tenho que explorar várias questões antes de me sentar a escrever. A Mariana já adormeceu, os filhos da Teresa e do António também, dão o jantar como terminado. A Sofia gostava de continuar a discutir os possíveis enredos do livro, mas o Nicolau, alegando que está muito cansado, deixa-a em casa. Fica surpreendida, um pouco magoada por não ficar em casa dele, desabafa com a irmã, mas a Benedita aconselha-a a não ser " pateta", deixa o homem respirar.

OS AMANTES - PARTE IV

  " Não tiveste filhos, porquê?" pergunta a Sofia e percebe imediatamente que cometeu um " faux-pas". O Nicolau torna-se mais sério, mais distante e a Sofia procura desesperadamente uma forma de desanuviar a tensão. Lembra-se então da reunião com a editora: esta quer que o Nicolau escreva um novo livro da série do Trovador e o Nicolau quer tentar uma coisa nova. " Porque não escreves sobre eles?" sugere e o Nicolau olha-a espantado. " Sobre quem? "  " Sobre os filhos do António e do Major.... não, não estou a sugerir um livro de crianças. Podes continuar a escrever sobre o Trovador e as aventuras dele no século XV, mas, em paralelo, podes escrever sobre um dos seus descendentes neste século." explica a Sofia triunfante. O Nicolau fica calado por uns minutos e depois aperta-lhe a mão. " É uma ideia interessante. Terei que fazer uma certa pesquisa, mas a Glória pode ajudar-me nisso...Obrigada, minha querida." e dá-lhe um beijo q

OS AMANTES - PARTE III

  A Rita não sabe, o Nicolau sempre evitou esse tipo de perguntas, admite, só falou abertamente sobre a profissão e a Glória diz que era um professor brilhante, muito querido dos alunos. Bem, se foi casado, responde o Gonçalo, foi com alguém que tinha um péssimo gosto, nenhuma mulher de bom senso deixaria o marido andar com aqueles camisas horrorosas. A Rita ri, não tenho que me preocupar contigo, pois tu és o mestre da elegância e bom gosto e o Gonçalo convida-a para jantar fora com a promessa de uma surpresa mais tarde, no quarto, acrescenta. Entretanto, a Sofia aceitou o convite do Nicolau para jantar.  Como está bom tempo, decidem jantar no jardim. O jantar é muito simples: sopa, uma quiche e uma salada de frutas. Como muito pouco ao jantar, desculpa-se o Nicolau, mas a Sofia abana a cabeça, está perfeito, declara. Não sabia que havia aqui um jardim, gosto. Flui com a casa, explica, sempre viveste aqui? Não, vivi perto da Universidade nos primeiros anos da carreira, depois, mudamos

OS AMANTES - PARTE II

  " Tenho uma senhora que vem todos os dias limpar-me a casa, faz-me as compras e o almoço se estiver em casa. Também me deixa sopa, fruta para o jantar." explica o Nicolau " E, depois aprendi a trabalhar com isto." aponta para a máquina de lavar a loiça. A Sofia sorri, bebem o chá sossegados, a conversar sobre banalidades e não sobre o que aconteceu entre eles. A Sofia decide ir para casa, tenho um dia ocupado amanhã, desculpa-se, mas o Nicolau compreende perfeitamente. Tenho uma reunião com a editora, ah, um novo livro? pergunta a Sofia e o Nicolau volta a sorrir, ai, como estou apaixonada por este sorriso, pensa a Sofia. Talvez, minha querida, ainda não decidi nada, responde o Nicolau. Despedem-se no jardim, telefono-te à hora de almoço, prometem e a Sofia volta para casa. O dia seguinte é muito atribulado, só consegue cinco minutos para falar com o Nicolau. A reunião com a editora não está a correr bem, confessa-lhe, mas depois falamos sobre isso. Ao fim da tard

OS AMANTES

" Meu caro Nicolau, ou convida a Sofia para almoçar connosco..." e o Major faz uma pausa tão longa que faz com que a Glória, o Nicolau e até a Mariana que não percebe nada o olhem desconfiados " ou eu assalto a sua casa e roubo as suas boinas." A gargalhada é geral e o Nicolau sorri. " Ok, eu convido a Sofia. Tenho que admitir que é uma boa companheira, amiga..." " Ah. não vai dizer que é velho demais para ela. Já conversou com ela sobre o assunto? Não?... Então, não tem a certeza de nada." interrompe a Glória. Em casa da Sofia, a Benedita tenta explicar à irmã porque não concorda com a relação com o Nicolau. " É mais velho do que tu! Ok, têm os livros em comum, mas é só isso!" " Temos muita coisa em comum, não são só os livros!" comenta a Sofia " E, não estamos apaixonados nem a pensar em nos envolver... Somos amigos e está a ser muito bom para mim. Apresentou-me aos amigos do Clube, adoro a loja da Teresa... Estás a pôr

O DILEMA DA SOFIA - FIM

  É durante a viagem que o Nicolau me fala da casa que comprou perto de uns amigos numa pequena aldeia, pensei que ia passar lá mais tempo e dedicar-me à agricultura biológica, mas decidi-me pela escrita, ri-se. Eu rio também; o Nicolau tem sentido de humor e não sei explicar porquê, faz com que me sinta segura. Na casa, há só o letreiro de vendida, do André nem sinal. Telefono à imobiliária, também não têm notícias dele e ainda bem que telefonou, dizem, tiramos as mobílias da casa, os novos donos não as querem e não sabemos o que fazer. Fico com os dados do armazém onde estão, prometo tratar do assunto e o Nicolau pergunta-me se há um restaurante ali perto. Corremos o risco de encontrar os amigos do André, comento, mas o Nicolau encolhe os ombros, o que podem eles dizer? E tanta preocupação para quê? Eles não tomaram partido? No restaurante, estão dois desses casais, mas tal como o Nicolau previu, cumprimentam-me um pouco forçadamente e voltam rapidamente à comida que está em cima da

O DILEMA DA SOFIA - PARTE IV

  A Benedita e o Manuel estão à minha espero no aeroporto, o Manuel diz que o André concordou com a tua proposta e a reunião com o notário é dali a dois dias. Eu estarei presente, acrescenta e eu aceno que sim. Estou muito cansada, tenho uma série de relatórios para apresentar à Administração, mas estou a horas no notário. O André chega um pouco tarde, nota-se que está agitado, há um certo desleixo na apresentação, o que me surpreende, pois foi sempre vaidoso. Assinamos os documentos em silêncio, o dinheiro deverá ser transferido para a conta até ao final da semana. Depois, eu faço a transferência para a tua, diz o André e despede-se rapidamente. Suspiro de alívio, esta etapa está resolvida, ele que viva a vida dele como quer, confesso ao Nicolau quando me encontro com ele para jantar. " Não vai ter saudades dele?" e eu olho-o um pouco confusa. " Nestes últimos anos, estávamos tão distantes, tanto física como emocionalmente que acho que não lhe vou sentir a falta. Princi

O DILEMA DA SOFIA - PARTE III

  " E esqueceu?" pergunta-me o Nicolau nessa noite. É o último dia que passamos em Frankfurt, por isso, decidimos explorar a cidade durante a tarde e jantar no hotel. À chegada, descobrimos que nos reservaram quartos no mesmo hotel e foi fácil manter o contacto. " Não posso!" respondo " Estamos a discutir a venda da casa da serra, se quiser ficar com ela, tem que me dar a minha parte, mas ainda não chegamos a acordo. O meu cunhado está a tratar disso, diz que o André tem sido irracional." " Compreendo." diz o Nicolau " A mulher com quem ele está agora, sabe quem é?" " Sim, sim. Uma amiga de um casal amigo. Não a conhecia bem, mas ao que parece, trabalham na mesma área e foi fácil avançarem para uma relação." explico e o Nicolau aperta-me a mão amigavelmente. " Não deve ter sido nada fácil!" concorda. " Não era minha amiga; por isso, nem raiva sinto. Quanto ao André, está a ser mais complicado; foi muito frio, mu

O DILEMA DE SOFIA - PARTE II

  Não sei responder, há muito que não falamos e tenho muita coisa em que pensar quando chego a casa. O André já lá está e pergunta-me de chofre de quanto tempo preciso para sair de casa. O quê? Sair de casa porquê? e o André continua a falar, já não gosta de mim, conheceu outra pessoa, quer ir viver com ela e aqui nesta casa. Não consigo respirar, quem, como, quando é o que quero saber, mas o meu cérebro só regista o facto dele querer ficar com a casa. A casa? Mas eu também a estou a pagar, não saio daqui, tenho tanto direito como tu, grito, mas o André insiste, são pormenores que se podem discutir depois e repete quando é que podes sair? Não saio, só saio quando a casa for vendida e o dinheiro dividido, afirmo. O André fica exasperado, diz que não estou a compreender a situação, estou a ser irracional e eu volto a repetir que não saio de casa. O André fecha-se no quarto de hospedes, eu fico na sala e telefono ao meu cunhado que é advogado. Aconselha-me a ter calma, a manter-me firme n

O DILEMA DA SOFIA

  A minha irmã Benedita disse que eu era uma tonta se casasse com o André, não confio nele e recusou-se a esclarecer a afirmação. Mas eu estava apaixonada; o André era arrogante, ambicioso e eu adaptei-me, porque também eu queria sucesso na vida profissional. " Olha que não é tudo na vida, Sofia!" avisou a Mãe, mas eu ignorei-a. Passamos os dois primeiros anos a cimentar a nossa posição nas empresas que nos contrataram e um belo dia, achamos que tínhamos que descansar, longe de casa, da família, de tudo. Foi o começo dos nossos fins de semana fora de casa, íamos sexta ao fim da tarde e regressávamos domingo à noite. A família protestou, só estamos juntos nas datas festivas, dizem, mas isso pouco importa ao André. Há sempre um grupo de amigos que nos acompanha, um casal resolve comprar uma casa na serra e o André acha isso uma óptima ideia. Nunca estamos sozinhos, há sempre amigos a entrar e a sair, pois muitos compram casas perto e eu começo a ficar cansada. Tenho saudades de

O ENCONTRO ENTRE CLUBES - FIM

  A Sofia e o Rodrigo acham um disparate terminar com o Clube, só porque " aquele arrogante deixou de vir" e as três senhoras fazem coro com eles. " Gostamos do tema que estamos a explorar, mas será possível não falarmos tanto de política? " pergunta a D. Matilde. " Sim, é importante enquadrarmos o livro na situação política da altura em que foi escrito, mas não é preciso debatermos isso até à exaustão!" corrobora a D. Mercedes. " Concordo com o que a Matilde e a Mercedes dizem. Devo confessar que o Sr Eduardo era muito desagradável. Não me sentia muito à vontade com ele." diz a D.Cristina. A ideia de se reunirem de dois em dois meses com o outro Clube é aplaudida e o Bruno suspira de alívio. "Tenho que ser sincero, conta mais tarde à Aida " o Eduardo era muito arrogante e também eu não me sentia à vontade com ele." O António comenta na sessão seguinte que a Sofia apareceu na loja, tomou chá com o Nicolau e levou uma série de produ

O ENCONTRO ENTRE CLUBES - PARTE VI

  A Aída e o Bruno estão satisfeitos com o resultado do encontro e acham a ideia da Sofia muito interessante. Ainda não sabem muito bem como organizar os Clubes, mas talvez o Nicolau possa ajudar, diz a Aída, afinal, foi graças a ele que eu consegui gerir as primeiras sessões. Combinam falar com os respectivos Clubes na sessão seguinte e exposta a ideia, o Nicolau acede de imediato. " Não há grande coisa a fazer, Aída." diz o Major " Basta escolher um dia, um livro..." " Um encontro mensal ou de dois em dois meses, porque acho importante continuarmos a explorar os objectivos do nosso próprio Clube." interrompe a Rita. " Absolutamente! É sempre bom trocar ideias com novas pessoas. Estamos a acabar o livro do Nicolau." confirma o António e continua " Porque não propor a leitura do segundo livro dele e reunirmo-nos no primeiro sábado de Janeiro?"  " Porque é que tem que ser o meu livro?" protesta o Nicolau, mas todos lhe assegura

O ENCONTRO ENTRE CLUBES - PARTE V

  Também as outras três senhoras não participam, escutam atentamente e dão um opinião apenas se lhe fizerem uma pergunta directamente. Caso contrário, confidencia o Bruno, conversam entre si e nada mais. Não sei muito sobre elas, acho que são as três viúvas e estarem num Clube é uma forma de preencher a solidão, continua. Fizeram uma pausa, estão a petiscar. Há empadinhas recheadas com queijo fresco, tostas barradas com pasta de azeitona com especiarias, bolo de cenoura, sumo de laranja, a Teresa e a Madalena esmeraram-se, todos concordam. A Sofia elogia o buffet, o António explica que a loja é da mulher, apareça por lá para tomar chá e scones, convida e o Nicolau diz que é um bom local para relaxar. O Rodrigo Meireles conversa com o Major e o Bernardo, está surpreendido por encontrar alguém tão jovem e ri-se quando este lhe conta de que foi " apenas cumprir a sentença dada pelos Pais ". Quando dão por terminado o encontro, todos são unanimes em dizer que gostariam de se enco

O ENCONTRO ENTRE CLUBES - PARTE IV

  Mas não é isso que a Sofia pergunta; quer saber se o facto de ser membro de um Clube de Leitura o influenciou, inspirou a escrever os livros. O Nicolau sorri, gosta do olhar franco da Sofia e explica que já tinha escrito dois livros, mas são livros de referência para estudo, explica. O Clube mostrou-lhe o caminho para uma outra vertente da literatura, novas estruturas de escrita, de enredos e decidiu transpor isso para os livros. Como Professor de Literatura Medieval Francesa, escolheu esse período para desenvolver a história, diz. " Claro que tive que pesquisar os acontecimentos históricos a nível político, por exemplo para situar a história, mas o resto é ficção." acrescenta " É um pouco como o Major que adora Mapas antigos e história militar. Ajudou-nos a perceber as manobras da Guerra Civil Americana." " Ah, e tudo isso por causa de um Clube de Leitura? Está a brincar comigo?" interrompe o Eduardo e a Rita olha-o desconfiada. Não deve ter mais do que

O ENCONTRO ENTRE CLUBES - PARTE III

  Combinam o encontro para dali a duas semanas, melhor ser na tua livraria, diz a Aída, a sala é maior e comunicam a data aos membros dos Clubes. A Teresa oferece-se para preparar um pequeno buffet, as pessoas conversam melhor se estiverem a comer, explica e o Major sugere levar os Mapas dele. Perante o olhar espantado dos outros, esclarece, então? foi a partir dos livros que desenvolvi este hobby, é relevante. Naquele sábado, a Teresa e a Madalena aparecem por volta das cinco para organizarem a mesa, a Aída ajuda-as. O Bruno e os outros colaboradores preparam as cadeiras e por volta das seis menos um quarto, a Aída desaparece no vestiário. Trouxe um vestido, terá que vestir o colete com o logótipo de livraria, mas é melhor que o uniforme habitual das calças de ganga e T-Shirt. E, depois, se bem que não possa competir com a Rita, esta parecerá ter saído da capa de uma revista de moda. Quando volta à sala, o Major e o Bernardo já lá estão a conversar um senhor de cabelo grisalho que a A

O ENCONTRO ENTRE CLUBES - PARTE II

  A Aída conta-lhe resumidamente a conversa, o Bruno sorri, já não era sem tempo, mudo-me no fim de semana e hoje, vou lá jantar. A  conversa é divertida ao jantar, o Bernardo quer saber mais detalhes sobre o encontro, acha a ideia interessante. " Temos uma celebridade no nosso; o Nicolau pode dar uma palestra." sugere. " Não, não é bem isso que queremos. É falar dos livros em geral, o que se procura, o que é relevante - o tema ou o autor." protesta o Bruno. " Propomos uma tema para discussão. O teu grupo não está a discutir a literatura chilena e a influência da ditadura?" interrompe a Aída " Primeiro temos que abordar o assunto com os respectivos Clubes; podem não concordar, até porque cada Clube tem um estilo próprio." " Eu acho uma óptima ideia!" diz o Bernardo " É expandir a literatura, os pontos de vista...." O Bruno ri-se e fica combinado discutirem o assunto com os respectivos Clubes na próxima sessão. Para já, acresce

O ENCONTRO ENTRE CLUBES

  " Sabes que isto é um disparate, não sabes?" pergunta o Bernardo naquela manhã. A Aída faz-se desentendida e responde à pergunta com outra: " O que queres dizer?" " Oh, Mãe, tu e o Bruno são um casal, fazem tudo juntos. Ele só não dorme cá, porque, de resto, está aqui. Não achas que devias assumir a relação?" o Bernardo é directo. " Estamos bem assim." defende a Aída " O divórcio foi complicado, o que aconteceu depois foi complicado para ti e não quero...." " É um disparate, Mãe. Tu estás com o Bruno há uns dois, três anos? Considero isso uma relação sólida." interrompe o Bruno " Não te estás a comportar como o Pai que tem uma mulher diferente todos os meses!" " Por falar nisso, quem é a deste mês?" a Aída está curiosa; o ex-marido está sempre acompanhado de mulheres mais novas, algumas vezes, o Bernardo exigiu que saíssem só os dois. " Não sei. Acho que trabalha no Tribunal; é um pouco diferente das

O LIVRO DO NICOLAU - FIM

  A partida da Natália é um rude golpe para mim; tenho que acabar o livro, insisto com o editor para utilizar um dos sketches do Bernardo na capa, mas, à noite quando estou sozinho, penso no verdadeiro motivo da decisão. " Acho que não deve pensar nisso...Sei que é complicado, Nicolau, não vou dizer o contrário, mas, pelo menos, ela disse-lho na cara. Isso demonstra respeito e carinho por si." diz o Major. Não respondo, não estou ainda pronto para discutir o assunto. A data do lançamento do novo livro é marcada, o Clube de Leitura comparece em peso. A Aída está feliz por ver o nome do Bernardo como autor do design da capa e o filho cora imenso, pede-lhe para não falar no assunto. Mas o que os surpreende verdadeiramente é a dedicatória, ficam calados por uns minutos quando a lêem e creio que há uma lágrima teimosa nos olhos da Rita e da Aída. São a minha família, o meu rochedo, encheram a minha vida de alegria, era justo que os mencionasse pelo nome na dedicatória. Não me esqu

O LIVRO DO NICOLAU - PARTE VII

Não sei nada da Natália há semanas, estou num ponto crucial do livro e o meu editor adorou os primeiros capítulos. Está a pressionar-me, quer já discutir a capa comigo e eu ainda nem sei qual vai ser o desfecho. No Clube de Leitura, todos estão excitados com o novo livro e pedem detalhes, mas eu finjo que estou ofendido, pergunto não estamos a discutir o primeiro? e voltamos rapidamente à discussão. O Major fez um Mapa que ilustra as viagens do trovador e o Bernardo uns pequenos sketches que me interessam bastante. " Isto está muito bom, Bernardo. Como é que te lembraste disto?" pergunto. " O Major trabalhou no Mapa, eu achei que isto ilustra o que se passa no capítulo!" explica o rapaz, satisfeito com o resultado. " Tens a certeza de que queres seguir informática?" insisto, o Bernardo ri-se e diz que informática é apenas desenhar doutra forma. Posso ficar com eles? claro que sim, são seus, responde o filho do Aída e eu fico a pensar se não será uma boa id

O LIVRO DO NICOLAU - PARTE VI

Sinto que a Natália me evita nas semanas seguintes. Continua a enviar-me material sobre a época em questão, a aluna de mestrado também contribuí, mas raramente aceita os meus convites para jantar lá em casa e discutir o rascunho ou tomar um simples café na cafetaria da Universidade. Sinto-me magoado, confesso ao António, não ao Major que culpo da situação. " Se calhar, a Natália nunca pensou no assunto e a conversa com a Glória obrigou-a a encarar a questão, o que é o Nicolau para ela? Um amigo, um companheiro de trabalho ou mais do que isso?" comenta o António, sensatamente. " Talvez tenha razão; não considerei essa possibilidade!" admito e o António sorri. Convida-me para jantar, a Teresa e os miúdos estão cheios de saudades suas, esclarece, principalmente a Sofia que está sempre a perguntar pelo Tio Lau. Tio Lau, repito, gosto... Adoro aqueles miúdos e a Mariana; considero-os meus netos, aliás, é a única coisa que lamento, não ter tido filhos. Mas, tanto eu como

O LIVRO DO NICOLAU - PARTE V

  " Mas a Glória pode falar de si, da amizade que tem pela Natália, talvez ela se abra..." lembra o Major " Ficamos a saber o que ela pensa sobre si..." Não estou muito convencido, a Natália está tão ocupada que só responde aos meus telefonemas depois das dez da noite e só para dar uma explicação, acrescenta. Eu revejo os capítulos que já escrevi, há um ou outro pormenor que vou corrigir, mas estou a gostar da forma como o enredo está a evoluir. No dia seguinte, a sessão no Clube de Leitura é um sucesso, principalmente por causa do Bernardo. Aprendeu a letra de uma das canções que reproduzi no livro e entoa-a. Escutamos espantados, ninguém sabia que ele tinha uma voz tão potente e no final, aplaudimos vigorosamente. " Quando der uma palestra sobre este livro, já sabes, tens que me acompanhar e cantar...." digo, mas o Bernardo faz uma careta. " Nem pensar; estamos entre amigos!" protesta. " Ora, Bernardo, não sejas modesto! Podes vir a ser um

O LIVRO DO NICOLAU - PARTE IV

  Algumas das sugestões que recebo para o enredo do novo livro são bem interessantes; outras, considero-as hilariantes. " Não faz mal um pouco de humor!" diz a Natália enquanto me ajuda na pesquisa sobre os Caminhos de Santiago. O trovador vai viajar com um grupo de peregrinos e a meio de caminho, encontra uma casa senhorial. Ávidos de notícias e entretenimento é convidado e a partir daí, nem eu sei ainda o que vai acontecer. " Não, isso será um livro completamente diferente. Tenho uma personagem construída, vamos acompanhar a evolução dela." protesto " Não digo que não tente mais tarde, mas agora estou verdadeiramente empolgado em desenvolver esta ideia." A Natália não diz mais nada e trabalhamos mais umas horas. Convido-a para jantar, a minha governanta fez uma quiche e uma salada, mas a Natália recusa, educadamente. Vou jantar com as filhas do meu ex-marido, explica polidamente e eu fico espantado. Não sabia que foste casada, observo, não falo muito no

O LIVRO DO NICOLAU - PARTE III

  Já em casa, abro o computador, clico no Word e começo a escrever algumas notas. Com o ambiente tenso na corte depois da morte do Rei, talvez seja melhor o trovador regressar a França. No caminho, pode parar numa casa senhorial, ficar lá hospedado uns tempos e pode apaixonar-se pela filha dos senhores. Alguém ser assassinado e ele ter que fugir porque acham que é ele o culpado? Será que a donzela parte com ele? Terei que estudar os eventos históricos relacionados com a morte do Rei D. Duarte, mas é um bom ponto de partida. Também estou curioso, será que alguns dos alunos que assistiram à palestra vão partilhar ideias comigo? Subo até ao andar de cima, deito-me e penso na Natália. Tem sido uma verdadeira amiga, creio que gostaria de ser um pouco mais, mas sou velho demais para ela. Tenho os meus hábitos e rotinas, estou sozinho há muito tempo, teria que fazer muitas cedências e não estou pronto para isso. " O meu amigo é um grande egoísta!" diz o Major quando abordo o assunto