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A mostrar mensagens de abril, 2022

PEDRO PARTE II

  As minhas irmãs apoiam a minha decisão, a Teresa até me oferece o livro de culinária que acaba de publicar. Sabes que eu sei cozinhar? lembro, por causa dos problemas com a Laura, se não o fizesse, eu e o Miguel morríamos à fome! Que exagero! interrompe a Carolina, estivemos sempre presentes, a apoiar-te! e rimos-nos. O António e o Gonçalo ajudam-me a embalar as coisas, aluguei um T2, um quarto para mim e outro para os miúdos, explico, quando o Miguel estiver comigo, a Maria Rosa fica cá. A Beatriz não quer que estejam juntos! Isso é um absurdo! exclama o António, são irmãos, têm que aprender a conviver um com o outro, vão crescer como estranhos! Encolho os ombros, não me estás a dizer nada que eu não tenha dito à Beatriz, confesso, mas ela está irredutível! Nem parece ser uma psicóloga, diz o Gonçalo, não a escolheria para minha médica! Não me inspira confiança, desculpa a franqueza! Compreendo o teu ponto de vista, mas ela está a defender a filha dela, continuo, mas o António abana

PEDRO

  Não sei se aceitar este novo emprego foi uma boa ideia. Estou longe dos meus filhos, das minhas irmãs; adoro aqueles almoços de domingo, falamos todos ao mesmo tempo, estamos felizes por estarmos juntos. É o caos total, a Beatriz confessou-me uma vez que não se sentia à vontade no meio de tanta gente e às vezes, desculpava-se com o trabalho em atraso e não ia. Depois, o comportamento do Miguel piorou, tive que o inscrever num colégio interno e naquela noite de tempestade, os meus ex-sogros telefonaram-me a dizer que a Laura fugiu da clínica. Ela já voltou para a clínica, foi instalada num área com mais vigilância, mas ainda não sabemos bem como é que ela conseguiu escapar. Eu e a Beatriz tivemos uma grande discussão por causa disso, ela já não é problema teu, gritou, mas continua a ser Mãe do meu filho, respondi e a minha companheira calou-se. Vivemos num ambiente tenso, quase hostil nas semanas seguintes e foi então que recebi a proposta desta empresa. Implica mudar de cidade, expli

A CASA DE FÉRIAS FIM

  Tal como o Gustavo previa, a casa fica pronta no início de Verão, faltam apenas algumas peças de mobiliário, a Carolina pede desculpa por isso, mas a Teresa nem quer ouvir. Podemos ficar lá, diz, o essencial está feito, por isso, não te preocupes! O Gonçalo leva uns amigos, a Francisca também, temos que concluir o projecto da horta, explica e por isso, acampam todos no terreno, só utilizam a casa de banho e participam nas refeições, a Teresa impôs essa regra, se são férias em família, pelo menos, ao jantar estamos juntos! exige. Exploramos o parque, as redondezas e ao fim da tarde, instalamos-nos no alpendre, como lhe chama a minha mulher, a ler, a conversar, a beber um copo de vinho fresco. A Sofia preocupa-nos, pois ou passa parte do dia fechada no quarto a trabalhar " no meu romance" ou sentada no parque com um livro. O resto do pessoal passa a tarde a explorar o parque, faz passeios de canoa, comenta a Teresa, não sei onde vão buscar tanta energia depois de estarem toda

A CASA DE FÉRIAS PARTE V

  O projecto é aprovado, o pedido de empréstimo também e a " casa de férias" é o tema favorito nas reuniões familiares. A Carolina faz questão de ser ela a encarregar-se da decoração, não te preocupes! Conheço-te muito bem e depois, a casa deve pedir uma decoração rústica! diz. O Gustavo vai reformar-se no próximo mês, posso tomar conta da obra, resolver pequenos problemas, afirma, ocupo o tempo. estava a começar a ficar um pouco stressado a pensar que não ia ter tanto caos na minha vida! Se não te importas, comento, mas o meu cunhado abana a cabeça, dá-me uma palmada nas costas, nada! Há um parque perto, não há? pergunta, até posso levar os netos e deixar que andem por lá a correr e a saltar. Até é bom que o Gustavo esteja presente, confesso à Teresa naquela noite, é o mês dos impostos, fechar contas e o Gonçalo vai viajar em negócios! O meu cunhado prova ser uma mais-valia, resolve os problemas que surgem com eficácia e eu respiro aliviado. De vez em quando, vamos até lá pa

A CASA DE FÉRIAS PARTE IV

  Sabes onde estão a tua irmã e a tua prima? pergunta a Teresa, o Gonçalo encolhe os ombros, acha que a minha irmã está a escrever debaixo de uma arvore, está armada em artista incompreendida, diz, e a Francisca foi fazer uma caminhada. Sozinha? interrompo, e deixaste ir sozinha? Que imprudência, Gonçalo!!! mas o meu filho volta a encolher os ombros, não me preocupava com isso! A Francisca tem um bom sentido de orientação e não é nada parva! acrescenta. Suspiro, não compreendo toda esta indiferença, estou indeciso, não sei se a devo ir procurar, mas a porta abre-se, é o meu irmão, o arquitecto, seguidos pela Francisca. O Gonçalo e o arquitecto conversam animadamente, depreendo que este já tem um plano e a minha sobrinha está descontraída, sorridente, aceita uma chávena de chá e um croissant. Então? pergunto, aqui o Amadeu tem ideias geniais, exclama o Gonçalo, espera até que explique o layout quando estiver pronto. Oh, tio Gonçalo, o meu quarto tem que ter vista para a serra, comenta o

A CASA DE FÉRIAS PARTE III

  Então, é uma boa ideia, continua, eu renovo aquele anexo, faço um apartamento interessante para mim e para a Francisca e tu e a Teresa ficam com a casa principal. Mas primeiro que tudo, vamos ver se temos que pedir empréstimo ou nada, ver quem nos apresenta o projecto mais interessante. Não me atrevo a dizer mais nada, estou aliviado, comovido, não sei bem definir o que sinto. A Teresa nem quer acreditar, fica em choque, mas ouve atentamente os planos do Gonçalo. Com o Gonçalo a entrar, concluímos que, pelo menos, nesta fase do projecto, não temos que pedir empréstimo. Ainda ficamos com algum que podemos usar na renovação, diz a Teresa, mas não concordo, para já, vamos deixar esse dinheiro quieto, utilizamos só para uma emergência, sugiro, depois vemos. Sabias que o Gonçalo tinha assim tanto dinheiro disponível? pergunta a minha mulher, não, mas também não me surpreende, ganha-se bastante em publicidade e o Gonçalo trabalha com boas marcas. Apenas o nosso filho Gonçalo fica entusiasm

A CASA DE FÉRIAS PARTE II

  Não voltamos a falar da casa, mas sei que a Teresa está feliz, estabeleceu uma nova rede de contactos, trouxe uma pequena remessa de produtos e até já está a planear uma sessão de degustação. Eu acho que cometi um erro, talvez devesse ter falado com a imobiliária e por isso, convido o meu irmão para almoçar, para ter uma outra perspectiva do assunto. O Gonçalo entra no restaurante, confiante, sorridente, indiferente aos olhares de admiração que as mulheres lhe deitam, mas eu conheço-o bem, sei que está a observar tudo atentamente. Trocamos um sorriso cúmplice, um abraço, o meu caro irmão está com um problema, diz, para me convidar para almoçar! Era lá capaz disso! protesto, mas sim, tenho um problema e preciso da tua opinião, confesso. O Gonçalo ouve-me atentamente e só fala quando tem a certeza de que terminei, oh, pá, para quem lida com números, às vezes és mesmo idiota! comenta, ainda não tens dados nenhuns para tomar uma decisão. Como é que sabes se tens que pedir ou não emprésti

A CASA DE FÉRIAS

  É complicado convencer a Teresa a passar uns dias fora, a loja? os miúdos? repete e explico-lhe pacientemente que a Madalena é uma excelente colaboradora, pode perfeitamente tomar conta do negócio sozinha. Quanto aos miúdos, continuo, têm idade suficiente para ficarem sozinhos em casa. Mas se isso te deixa preocupada, podemos pedir à Clarinha para dormir lá e supervisionar as idas e as vindas. Tanto a Madalena como a Clarinha acham que é uma óptima ideia, a Sofia e o Gonçalo ficam amuados por não serem incluídos no plano. Mas supostamente é a viagem de lua de mel e como a Teresa não quer viajar para fora do País, escolho um local a cerca de 100 Km de casa, uma vila pitoresca que oferece uma série de actividades ao ar livre. Podemos fazer caminhadas, participar em workshops temáticos, observo, tirar fotografias (descobri que até sou bom e a conselho do Major, estou a tirar um curso), enfim, explorar a zona, concluo. A Teresa concorda e ficamos alojados numa casa de turismo rural, o qu

A IRMÃ MAIS NOVA FIM

  Mas eu não quero pensar no Miguel, quero pensar nas minhas férias, recebi um convite para passar uns dias na praia do Norte com uma amiga do colégio. A Mãe fica hesitante, o Pai acha que é uma boa ideia e o Miguel nem quer saber.  Por isso, eu vou para casa da minha amiga, o Miguel passa uns dias com os avós maternos e o Pai e a Mãe vão viajar. Divirto-me imenso, não sei como é que os Pais da minha amiga têm paciência para aturar seis miúdos entre os oito e os doze anos, mas são criativos e há sempre qualquer coisa interessante para fazer. Regresso mais cedo que os Pais, fico em casa da Tia Carolina, felizmente estão lá os netos e nem sinto a falta os Pais. Acho muito estranho que seja apenas a Mãe a vir-me buscar, o Miguel não quer regressar, por isso, o Pedro foi até lá para o convencer a passar o resto das férias aqui, desculpa-se, e tanto eu como a Tia Carolina achamos a desculpa esfarrapada. Tenho a impressão de que a Tia Carolina sabe mais do que diz, quando o telemóvel tocou u

A IRMÃ MAIS NOVA PARTE IV

  A Tia Carolina é pontual, como sempre elegante, perfumada e sorridente, também lhe sorrio. As três senhoras almoçam na sala, eu e o baby sitter não somos convidadas para a mesa principal, temos que improvisar um almoço requintado na bancada da cozinha. A porta da sala fica fechada, não sei o que discutem, mas a Mãe vai jantar fora com o Pai, espero que ceda um bocadinho, diz a avó ao avô e este encolhe os ombros, a filha pode ser muito teimosa. Têm que pensar na miúda, insiste a avó e eu fico muito ofendida com o termo " miúda ", eu sou uma rapariga grande, afirmo e os avós riem-se. A Mãe chega tarde, ainda não se levantou quando a baby sitter me leva ao colégio, mas as notícias são boas. Vamos voltar para casa, o Miguel vai para um colégio interno no próximo semestre, mas eu não sei se vai resultar, lamenta-se a avó, o miúdo é problemático, eu sei, mas um colégio interno é uma faca de dois gumes: ou se torna responsável ou um rebelde! Eu sei que é uma lotaria, interrompe o

A IRMÃ MAIS NOVA PARTE III

  Dou uma risada, a Mãe repreende-me, não está nada satisfeita e quando o Pai entra na cozinha, faz-lhe sinal, fecham-se na sala de estar. A discussão é terrível, quando saí da sala, a Mãe está muito séria, pede à baby sitter para preparar um saco com as minhas coisas, vamos passar uns dias com a avó, anuncia. Mas porquê? protesto, estou a adorar a cena, o Miguel a limpar, a varrer, até a fazer a cama, mas a baby sitter pega-me na mão, apressa-se a atravessar o hall e quinze minutos depois, estamos de casacos vestidos, os sacos na mão à espera da Mãe. Oh, Beatriz, isto é uma idiotice, diz o Pai, não, não é! responde a Mãe, isto não pode continuar assim! Tens que tomar uma decisão! e abre a porta da rua, não vê o meu pé e eu grito de dor. Oh, Maria Rosa, tem mais cuidado! ralha, vamos, a avó está à nossa espera! e descemos para a cave. É uma viagem silenciosa, a baby sitter coloca os auscultadores para ouvir a música frenética que adora e eu respiro fundo. Nunca vou entender estas discu

A IRMÃ MAIS NOVA PARTE II

  O quarto do Miguel parece uma pocilga, cheira mal e eu franzo o nariz. Onde é que ele terá fotografias? Em cima da secretária, há uma fotografia, reconheço os avós e na mesinha da cabeceira, há outra só da avó. A porta do armário está meia aberta, puxo-a devagarinho e encontro um álbum no meio de sapatilhas e sapatos com lama. Que horror, Miguel! Como é que consegues viver aqui? murmuro e sento-me no meio do chão a folhear o álbum, será que vou encontrar uma fota da maluca da Mãe dele? Mas tenho uma desilusão, só são fotos dele a cavalo, no lagar, com os empregados na quinta, na loja, nada da Mãe. Estou curiosa, é loira, é morena, alta, baixa, magra, gorda, tem ar de louca? mas não tenho tempo para procurar mais nada, porque o Pai está a chamar por mim e abre a porta. Valha-me Deus! grita, oh, Beatriz, há quanto tempo ninguém limpa este quarto???? O Miguel não deixa ninguém entrar, explica Mãe, noto que está aborrecida, ainda mais por me encontrar sentada no chão (detesta que o faça,

A IRMÃ MAIS NOVA

  Com tantos nomes disponíveis e escolheram logo Maria Rosa. A baby sitter chama-me a " Rosinha dos Limões", os Pais Rosa ou Maria Rosa se fiz asneira e o mano Miguel " empecilho". Não compreendo bem o Miguel, parece que me odeia e por isso, mantenho-me bem longe dele. Suspiro aliviada quando ele fica em casa dos avós ou das Tias, porque a Mãe não fica tão tensa e brinca comigo. Sei que há uma história qualquer com a Mãe do Miguel, se calhar, ele herdou a doença dela, diz a Mãe à avó, tenho quase a certeza disso!, dá conta que estou a ouvir e baixa a voz. Mas o Pai não se importa com isso, fala abertamente do assunto com o Tio António e descubro então que a Mãe do Miguel está há anos fechada numa clínica. Fechada será um exagero, de vez em quando, a tal Laura passa umas temporadas em casa dos Pais, uma quinta cheia de mistérios que a Mãe não me deixa desfrutar. O Miguel dá muito trabalho, a Maria Rosa volta connosco, desculpa-se e estala invariavelmente uma discussã

O PEDIDO FIM

  É o Pedro quem faz o primeiro discurso, um discurso engraçado e termina por agradecer ter " não uma, mas duas irmãs extraordinárias e dois cunhados topo de gama!" O Gonçalo responde, confessa não ter palavras para falar de um irmão que " está sempre presente na minha vida, mesmo quando sou um chato de primeira", o que faz com que os convidados se riam, e " isto sem falar de uma cunhada", continua, " que me ajudou a desvendar os segredos de uma boa refeição gourmet". A Teresa sorri, atira-lhe um beijo e o António levanta-se. Também ele não tem palavras para agradecer, ver toda a família e os amigos reunidos numa ocasião única e importante, ainda mais porque, o António hesita, a Teresa aperta-lhe a mão, casamos há dois dias. Primeiro há um silêncio profundo, depois explodem aplausos, risos, abraços, beijos, parecem todos loucos, murmura a Inês. A banda devia começar a tocar, afinal o bolo só deve ser cortado por volta das onze e não sabe o que fa

O PEDIDO PARTE V

  Mas a Inês amua, vocês são uns chatos! grita, destrava a porta e desaparece no corredor. Espera que ela não faça nenhuma asneira na festa! comenta a Sofia, mas o irmão encolhe os ombros, a Inês? É doida, mas não tanto! assegura. No sábado, estão todos nervosos, a Sofia está um pouco aborrecida, porque a Mãe não a deixa fazer madeixas, nem mesmo uma? pede, mas a Teresa não concorda, podes fazer um penteado mais sofisticado, mas não mais do que isso! declara. A Carolina e a Inês têm a mesma discussão e num gesto de rebeldia, a Inês pede para lhe cortarem o cabelo. Não sei mesmo o que fazer com a tua irmã, diz à Filipa, esta ri-se, vai arrepender-se e isso vai ser castigo suficiente, exclama a filha, não te preocupes. O Matias não sabe onde guardou a gravata, percorre todos os cantos possíveis e imagináveis, tem que ir à pressa para comprar outra. No meio do caos, a única que está calma é a Matilde, estou grávida, explica ao Bernardo, não tenho muito por onde escolher, só tenho mesmo qu

O PEDIDO PARTE IV

  Se estavam preocupados com as eventuais perguntas dos filhos por estarem ainda mais elegantes naquele dia, enganaram-se. A Sofia e o Gonçalo estão tensos, têm um exame importante naquele dia e mal tocam no pequeno almoço. O António e a Teresa olham um para o outro, aqueles são os nossos filhos? pergunta e o companheiro ri-se, vamos lá, não podemos chegar atrasados, diz o António. O Pedro e o Gonçalo já estão na conservatória, também eles muito elegantes e excitados por participarem na " conspiração". Meia hora depois, os papeis estão assinados, o Gonçalo pede a um oficial da Conservatória para lhes tirar uma foto e depois, regressam todos aos respectivos locais de trabalho. Entretanto, a Matilde e a Carolina estão a preparar a decoração do salão e o layout das mesas. Acho que os menores de dezasseis devem ficar numa mesa separada dos maiores de dezoito, sugere a Carolina, já sei que a minha filha Inês vai protestar, mas o Edgar disse que não vem se ela se sentar à mesa dele

O PEDIDO PARTE III

  Que mal há nas cores da natureza? protesta a Teresa adepta de moda sustentável e só usa vestidos feitos de tecidos orgânicos e a Carolina tem que admitir que está preocupada com o que ela vai usar na festa. Que tal verde-água e o branco? sugere a Matilde, pessoalmente, é o meu esquema de cores favoritos. A Teresa está indecisa, a irmã está desapontada, a Madalena acha que este salão é perfeito, o preço é razoável e a amiga acaba por concordar. Separam-se na rua, a Carolina e a Teresa combinaram encontrar-se com filhos para lancharem, a Matilde está cansada, quer ir para casa e a Mãe acompanha-a. Tiveste uma ideia brilhante, diz a Madalena, pensei que iam começar a discutir por causa das cores. A Teresa tem um estilo único, responde a filha, até gosto da forma como ela se veste. Confesso que não usaria aqueles vestidos e aqueles cores, mas nela fazem todo o sentido. Tudo na Teresa faz sentido, concorda a Mãe, tem uma energia, uma alegria... é difícil explicar! Nem podemos tentar, obse

O PEDIDO PARTE II

  No fim do jantar, o António está ainda mais confuso, começa a pensar que foi uma ideia estúpida. Encontra a Teresa na cama a ler, os miúdos já devem ter adormecido e o António estende-se ao lado da companheira, sem se despir. Correu bem o jantar? pergunta a Teresa, o companheiro suspira, falei com eles sobre o casamento, conta, eles acham a ideia muito estranha! Foi uma surpresa, confessa a Teresa, estamos juntos há vinte anos, nunca abordamos o assunto! Mas achas a ideia estúpida? insiste o António e a Teresa sorri-lhe, pensando bem, não, não é estúpida! Não temos que justificar nada a ninguém, mas.... Mas o quê? protesta o António, tens alguma ideia a fervilhar aí dentro, diz-me! Podemos casar-nos secretamente, sugere a Teresa, e anunciar na festa! O António franze o sobrolho, será que endoideceu? pensa, mas ao ver o sorriso maroto da companheira, percebe a ideia e ri-se. Será uma surpresa, continua a Teresa, devemos ser o tema favorito das conversas neste momento, não falamos mais

O PEDIDO

  O António e eu estamos juntos há 20 anos e ele quer assinalar a data, conta a Teresa à irmã. A Carolina ri-se, é boa ideia! O que é que pensas fazer? Uma festa na loja? mas a Teresa abana a cabeça, não, ele quer que seja num Hotel, quer que eu me divirta apenas, explica. A irmã concorda, a Teresa tem uma vida agitada entre a loja e o serviço de catering, merece descanso, mas vê que ela está preocupada com outra coisa. Passa-se alguma coisa, Teresa? questiona, algum problema com os miúdos, com o António? A Teresa fica calada por uns minutos, hesita, não sabe como expor a questão, o António perguntou-me se queria casar, diz. Agora? Depois de vinte anos juntos e dois filhos adolescentes? a Carolina espanta-se e volta a rir-se, é uma ideia interessante! Mas eu acho que não é importante, construímos toda uma vida, asseguramos estabilidade e conforto aos miúdos sem isso, comenta a Teresa, e porquê agora? O que é que o António disse? insiste a Carolina, o cunhado é um homem ponderado, não é

O NOVO HOMEM FIM

  Mas abro a porta, é o Gaspar, (como é que descobriu onde eu morava?) completamente bêbado e a gritar achas que és boa demais para mim, bruxa??? Não o deixo entrar em casa, ele pontapeia a porta, atraí a atenção do vizinho do lado, que aparece no patamar. Precisa de ajuda, Dra? pergunta, o Gaspar também lhe grita, mete-te na tua vida, cota, este assunto é entre mim e a Dra. Nesse momento, o elevador abre as portas e a Cláudia e o Bruno saem. O que é que estás aqui a fazer, pá? e o Bruno aperta-lhe o braço, vamos embora, eu chamo-te um táxi. O Gaspar recua, tenta afastar-se, mas o Bruno não o larga e acompanha-o até ao átrio. A Cláudia está muito corada, não sabe o que dizer, peço imensa desculpa, Filipa, murmura, mas eu acalmo-a, ela agiu na melhor das intenções. Mas não voltes a fazer isto, concluo, se tiver que acontecer, acontece. Não gosto de te ver sozinha, protesta a Cláudia, mas eu não estou sozinha, tenho os meus filhos, a minha família, interrompo, deixa que voe! Vejo que não

O NOVO HOMEM PARTE V

  A Mãe fica abismada com a história, e o que diz a Cláudia? Afinal foi ela quem vos apresentou! exclama, creio que ficou tão surpreendida como eu, respondo, acho que não o conhece muito bem, mas como éramos os únicos solteiros do grupo... Compreendo, diz a Mãe, pensou que seria bom para os dois! Vais almoçar cá? pergunta, claro que sim, isso nem se pergunta! comento. É um almoço barulhento, para distrair os miúdos, a Inês organiza um concurso de imitações e a certa altura, já não sabemos verdadeiramente do que é que nos estamos a rir. O Miguel aparece para o café, o Edgar e a Inês levam os miúdos até ao parque para andarem de bicicleta e os adultos ficam a conversar sentados à mesa da cozinha como nos velhos tempos. Por volta do lanche, voltamos para casa, a baby sitter chega pouco depois, eu vejo a agenda para amanhã. Há uma nota da minha assistente, um doente cancelou a marcação da hora de almoço e eu resolvo ir até ao ginásio perto do consultório. Vou recomeçar com as aulas de defe

O NOVO HOMEM PARTE IV

  A discussão é violenta, mas eu tenho três irmãos e ainda não me esqueci das aulas de defesa pessoal. O facto de defender a minha posição, de não me sentir intimidada ainda irrita mais o Gaspar e a gota de água é quando ergue a mão pronto para me esbofetear. Seguro-lhe o pulso, digo, separando bem as palavras, Não te atrevas! e depois largo-o, ele cambaleia. Abro a porta do carro, enfio a chave na ignição e saio do parque de estacionamento sem olhar para trás. O telemóvel vibra, é o Gaspar, mas não o atendo, em casa, trato de bloquear o numero.  No elevador, procuro o numero do Miguel, preciso de falar com alguém, mas engano-me e responde-me o Tadeu. Ele percebe que aconteceu alguma coisa, afinal, foi casado comigo alguns anos e aparece meia hora mais tarde, para conversarmos, estás a precisar disso, acrescenta. Acabo por lhe contar o que se passou, o Tadeu suspira, ele deve ser doido! exclama, esquece-o, há homens mais interessantes por aí! Quanto ao vestido, o decote é realmente um

O NOVO HOMEM PARTE III

  Aproveito a hora de almoço para ir até ao Centro Comercial, fico encantada com os vestidos do Cortefiel, hesito, não sei se comprar aquele casaco rosa choque da Mango é uma boa ideia, mas com um vestido preto ou azul escuro por baixo fica perfeito. Compro lingerie sexy, marco hora naquele cabeleireiro de topo para sábado de manhã e sinto-me uma nova mulher quando regresso ao consultório. Tenho medo de ter exagerado, confesso à Tia Teresa mais tarde, mas passo mais tempo a escolher roupa infantil que quase me esqueci do prazer que é experimentar roupa! Oh, Filipa, não te esqueças de ti! responde a Teresa, guarda tempo para ti, para as tuas coisas, diverte-te! Adoro os meus filhos, comento, mas vou gostar de sair, ver, conversar com  outras pessoas. Ainda bem que conheceste esse Gaspar! Estou muito contente por te ver assim, feliz, diz a minha Tia e eu sorrio. Não sei se gosto do novo corte de cabelo, creio que o decote do vestido é um pouco exagerado, vejo espanto no olhar da Mãe quan

O NOVO HOMEM PARTE II

  Fiquei um pouco de pé atrás quando ele disse, conto ao meu irmão quando ele passa pelo consultório e me convida para tomar um café. Um doente cancelou a consulta, o outro ainda não chegou e por isso, tenho uns minutos para relaxar. A nossa família assusta qualquer um, diz o Miguel, sete pessoas barulhentas e agora há genros, noras, netos...se ele é filho único, é capaz de se sentir... sufocado? Lembro-me que foi isso que a Bia sentiu na primeira vez que almoçou connosco. Por falar nisso, como é que ela está? pergunto, mas o meu irmão desvia a conversa, continua a falar sobre o Gaspar, tens que lhe dar tempo para assimilar, se estiver verdadeiramente interessado em ti... achas que está? Não sei, admito, só estivemos juntos naquele dia no parque com os miúdos, pensei que íamos jantar com os miúdos, mas ele desculpou-se, ia ter com a Mãe dele, respondo, não voltou a telefonar! Pode ser que o faça, tu não és de deitar fora, goza o Miguel e eu dou-lhe uma palmada amigável no braço. O meu