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A mostrar mensagens de julho, 2021

A HISTÓRIA - FIM

  A Matilde vai à reunião daquele sábado, gosta do ambiente, é bem recebida. Só tem alguma dificuldade em falar sobre o problema em público, mas recebe bons conselhos. A primeira coisa a fazer é tentar fazer as pazes com a Carolina e esta ouve-a atentamente, mostra-se solidária. Acabam por sair naquela noite, nada de bares, diz a Carolina, um bom filme e um gelado depois também resultam, responde o namorado. Encontram uns amigos no cinema, acabam por ir a uma pizzaria jantar, nada de álcool, recomenda a Carolina, mas ninguém pensa nisso. Querem apenas gozar a noite e a Matilde até se diverte bastante. Chega a casa depois da hora combinada com os Pais, estes não estão nada satisfeitos, mas aceitam a explicação que a Matilde dá. As consultas com a Dra Madalena e as reuniões com o Grupo estão a resultar, a Matilde sente-se mais feliz. Toda a família repara, respira aliviada e a Rita aconselha a sobrinha a contar tudo aos Pais. Vais ouvir um sermão, diz, mas é melhor que eles saibam por ti

A HISTÓRIA PARTE V

  A Dra Madalena tem uma vaga naquele dia, é à hora de almoço, desculpa-se, mas a Matilde aceita. A colega do Gabriel é muito simpática, não deve ter mais de trinta, trinta e poucos anos e escuta-a atentamente. A Matilde tem uma ideia muito vaga dos acontecimentos daquele dia, acha que encontrou a Isabel, a ex-colega de casa e o namorado numa esplanada. E, porque é que isso foi importante para ti a ponto de te embebedares? interrompe a Dra Madalena e a Matilde fica calada uns minutos. Acho que foi, diz lentamente, porque ele disse que terminou tudo com a Isabel por minha causa e a médica fica surpreendida. O que é que aconteceu entre vocês? pergunta a médica, tivemos um caso, dormimos juntos uma noite, confessa a Matilde, acho que foi por causa disso que comecei a beber. A beber mais, corrige. Já bebias, mas não a ponto de ficares em coma? repete a Dra Madalena, não, admite a Matilde, bebia e muito, mas adormecia e acordava com uma grande ressaca. A médica olha para o relógio, tem que

A HISTÓRIA PARTE IV

  Conversam mais uns minutos, o Gabriel dá-lhe o numero de telemóvel da colega e promete falar com ela, explicar o que aconteceu e ela te poder ajudar melhor, diz. Despedem-se, entro ao serviço dentro de dois minutos, justifica-se e a Matilde vai lentamente para a paragem de autocarro. Continua confusa, mas tem que encontrar uma alternativa para bem de todos; por isso, resolve falar com a Rita. Pede para jantar com eles, o Gonçalo percebe que ela tem qualquer coisa pessoal para discutir com a tia e desaparece com o pretexto de vigiar a Francisca, hoje, ela teve um pouco de febre, diz, está agitada, fico no quarto a fazer-lhe companhia. A Rita escuta atentamente os argumentos da sobrinha, até concorda com o ponto de vista do Gabriel, mas não tem a certeza de que a irmã e o cunhado aceitem. Foi muito duro para os teus Pais, explica, nem calculas como! Serem chamados ao Hospital porque a filha estava em coma, falarem-lhe de programas... Até posso não concordar com a forma que escolheram p

A HISTÓRIA PARTE III

  Olá, fala Matilde Bernardes, apresenta-se cuidadosamente, não sei se te lembras de mim, a rapariga desmaiada na discoteca e tu telefonaste aos meus Pais? Ah, sim, responde a Joana, como estás? Recuperaste bem? Sim, sim, obrigada, diz apressadamente a Matilde, eu gostava de falar com o teu irmão. Sei que foi ele quem me prestou os primeiros socorros. Ah, sim, o Gabriel, esclarece a Joana, o meu irmão tem turnos doidos, mas acho que se fores às urgências e perguntares por ele, as enfermeiras chamam-no. Espera aí.... sim, ele vai estar de serviço amanhã às duas da tarde. Se puderes estar lá a essa hora.... Ok, obrigada, podes enviar-lhe um SMS a avisá-lo? pede a Matilde e as duas raparigas combinam os detalhes. Ás duas da tarde, com a desculpa de que tem uma aula suplementar, a Matilde está na cafetaria do Hospital. A Joana enviou-lhe um SMS, o irmão diz que é o melhor local para falarem, as urgências têm estado caóticas e ali ninguém os interrompe. Há várias mesas ocupadas, a Matilde o

A HISTÓRIA PARTE II

  Acho que não foi a Carolina, desabafo, deve ter sido alguém da escola que estava lá. O irmão olha-a atentamente e diz, não sei qual é o espanto, desmaiaste numa discoteca cheia, alguém achou piada e filmou. Estou a receber piadas e algumas não são muito agradáveis, confesso e o Gustavo ri-se. Gostava de dizer que tenho pena de ti, continua, mas não tenho! Francamente, Matilde, beberes até desmaiar... o que é que se passa contigo? O que é feito do teu plano? Está tudo confuso, tudo sem nexo... A Matilde baixa a cabeça, também ela não sabe o que está a acontecer, sinto-me muito perdida, responde e o irmão dá-lhe um abraço. Estamos aqui para te ajudar, afirma, eu, a Luísa, os Pais e vai conversar com a Carolina. Foi uma boa amiga, pediu ajuda e tiveste sorte em lá estar aquele estudante de medicina! Pois, concorda, gostava de saber quem é! Sei o nome de quem me tratou, mas quem organizou tudo foi esse tal estudante e como foram os Pais quem assinaram a alta... não tive a oportunidade de

A HISTÓRIA

  Já te disse que não fui eu quem avisou os teus Pais! e a Carolina, geralmente tão calma, eleva a voz furiosa. Só podes ter sido tu! insiste a Matilde, por tua causa, estou a ser vigiada, só posso sair para ir às aulas e o resto do tempo, tenho que estar no escritório da Rita. Vê se cresces, Matilde! responde a Carolina, foi a irmã do médico que te assistiu na discoteca que contou tudo aos teus Pais. Perguntaram-me se sabia o nº de telemóvel dos teus Pais, a rapariga achou que eu estava nervosa demais e tratou ela do assunto! Também não foi fácil para mim, sabes? Os meus Pais também tiveram que me ir buscar ao hospital! A Matilde não diz mais nada, tem apenas vagas recordações daquela noite, mas lembra-se muito bem do discurso que recebeu. Isto não é desculpa, Matilde, foi o Pai quem abriu as hostilidades. Acordou com a boca a saber mal, a Mãe levou-lhe o pequeno almoço à casa e aconselhou-a a tomar um duche. Não saias daqui! disse e saiu, regressando meia hora mais tarde com o Pai, o

O JANTAR DANÇANTE FIM

  O Luís saí, eu sento-me um bocado e acabo por adormecer. É o Luís quem me acorda, já falei com os Pais, conta, expliquei os vários programas que há disponíveis, aconselhei uma consulta de psiquiatria, mas não me pareceram muito receptivos. É sempre um choque, a primeira reacção é negar, respondo, mas o Luís abana a cabeça, acho que sabem e estão a tentar lidar com a situação. Ok, vou para casa, ver se consigo dormir mais um bocado, comento, estou curioso por saber como correu o jantar dançante. O meu colega ri-se e eu saio para o ar frio da madrugada. Olho para o relógio, quase seis da manhã, o pessoal deve já estar a dormir. Não há barulho quando entro em casa, as portas dos quartos estão fechados, a que horas terão voltado? mas não quero saber. Entro no meu antigo quarto, a cama está feita, encontro um pijama e fecho-me na casa de banho. Tomo um duche rápido, volto para o quarto e deito-me. Quando acordo, já passa das duas da tarde, lá em baixo, alguém fala excitadamente. Desço, es

O JANTAR DANÇANTE PARTE VI

  Matilde, Matilde Bernardes, responde uma rapariga tão pálida que decido levá-la também na ambulância. Tens o numero de telemóvel dos Pais? insiste a Joana e quando a rapariga acena que sim, a minha irmã pede, dá-me o numero, eu telefono-lhes, tu estás muito nervosa! A ambulância chega, explico rapidamente o que se passa, peço para as levar para o Hospital Universitário, já contactei o meu colega que está de serviço nas urgências, está à espera delas, é o Dr Luís Belmonte. A Joana já está a falar com os Pais, eu faço-lhe sinal que vou até ao Hospital, levo o meu carro, os Pais terão que organizar a boleia da Avó. Quando chego às urgências, a Matilde está em observação e a colega, o Luís diz-me que se chama Clara, está apenas em estado de choque e deram-lhe um sedativo. Falas tu com os Pais? pede-me, isto tem estado caótico, fazias-me um grande favor! e desaparece num dos gabinetes onde alguém grita com dores. Fico na recepção, à espera dos Pais da Matilde e da Clara. Aparecem primeiro

O JANTAR DANÇANTE PARTE V

  A senhora da mesa ao lado ri-se, vejo que o meu marido conquistou a sua Mãe, comenta, porque é que não lhe dizemos que também sabemos dançar? e estende a mão ao meu Pai. O Pai fica surpreendido, mas sorri e conduz a senhora até à pista. Tanto a Mãe como a Avó parecem estar muito divertidas, a música termina e todos batem palmas. A banda muda de ritmo, penso que as senhoras vão regressar à mesa, mas há troca de pares e vejo que o bailarino convida a Avó e o senhor a Mãe. Não vejo onde está o Pai, a Joana está algures a tirar fotos e eu percorro a sala com o olhar à procura de um par. Acabo por me sentar no bar instalado ao fundo da sala, preciso de uma bebida mais forte. Quem diria que a Avó é tão boa dançarina? E a Mãe? Pena que a Joana não esteja aqui, podíamos trocar impressões sobre os talentos escondidos dos nossos Pais. Decido voltar à mesa, os meus Pais já lá estão a conversar intensamente com o outro casal e a Avó beberrica um pouco de champagne. Ah, Gabriel, diz quando me vê,

O JANTAR DANÇANTE PARTE IV

  Até o Pai! comento e a Avó ri, o meu filho não é nada como o Pai! O teu avô abria sempre o baile e era um excelente dançarino! suspira. Espero que me conceda uma dança, antes de ser arrebatada por todos aqueles galãs, digo e a Avó volta a rir. O ponto de encontro combinado foi o hall de entrada do Hotel, os Pais e a Joana já lá estão. Tenho que concordar com o Pai, o vestido da Joana é muito curto e a louca fez uma madeixa cor de rosa, mas a Mãe está deslumbrante. Anabela, estás linda! observa a Avó e a Mãe recompensa-a com um largo sorriso, também a Mãe! Vamos à procura do Salão Dourado, da mesa 37, confirma a Joana e seguimos um cortejo de homens e mulheres elegantes. Reparo que não há muita gente da minha idade ou da Joana, mas não me importo, vim por curiosidade. São mesas de quatro ou seis pessoas, a nossa fica perto da pista de dança. Há música ambiente, mas a banda ainda não subiu ao palco. Ah, há uma exibição de dança! lê a Joana, deve ser para abrir o baile, declara a Avó. S

O JANTAR DANÇANTE PARTE III

  A semana seguinte é excitante, as mulheres só falam de vestidos e de maquilhagem, queixa-se o Pai. Acha o vestido da Joana curto demais, e o da tua Mãe, confessa, é esquisito! Não é nada! protesta a Joana quando lhe falo no assunto, é de seda, cinzento e tem o ombro direito a descoberto. A Mãe parece uma modelo com ela! A Avó Berta vai emprestar-lhe um broche e uma pulseira de safiras e vai ser um sucesso. As duas desaparecem no sábado de manhã, têm hora marcada no cabeleireiro e por isso, o Pai convida-me para almoçar. Consegui " negociar" com dois dos meus colegas, terei que trabalhar dois fins de semana sem folga, mas só a perspectiva de estar com a Avó no jantar dançante e ouvir os comentários dela vai valer a pena! Vais buscar a tua Avó? pergunta-me o Pai, não sei qual a ideia dela! E, sabes, a tua Mãe parece uma mulher diferente, rejuvenesceu! Pareces surpreendido! respondo, se calhar, é isso que estava a faltar! Uma oportunidade de mudar de visual, de encontrar pesso

O JANTAR DANÇANTE - PARTE II

  Que caras! Qual é o problema? repete a Avó, vá lá, Anabela, conta-nos mais. Eu vou buscar o PC e pesquisamos tudo, oferece-se a Joana, porque, se a Avó vai, eu também vou. Pode ser um bom artigo de opinião. E eu também quero ir, acrescento, terei que negociar com os meus colegas, mas vai valer a pena! A Avó ri-se, tens medo que eu tenha um ataque cardíaco, é? e eu rio também. A Joana volta com o PC, escreve o nome do Hotel e em breve, estamos todos a discutir os detalhes. Mas vocês estão doidos??? interrompe o Pai, que palhaçada é esta? E, a Mãe está a incentivá-los! Oh, Amadeu, cala-te! Estás a ficar muito antiquado! diz a Avó e a Joana ri-se. O Pai suspira novamente, levanta-se da mesa, eu não vou! observa e a Avó Berta, se quiseres passar por um velho casmurro... e o Pai fica indignado. Não se preocupe, intervém a Mãe, eu convenço-o! enquanto a Joana preenche o formulário de reserva. Terei que comprar um vestido, continua a Mãe, há tanto tempo que não vou ao evento tão chique que

O JANTAR DANÇANTE

Está decidido: ou fico a dormir no Hospital ou alugo uma casa. Não posso ficar aqui em casa, o Pai parece não entender que tanto eu como a Joana, a futura estrela do jornalismo, escolhemos profissões sem horários. Principalmente agora que vou começar a especialização e o pouco tempo que tenho livre é para dormir, divertir-me. Acho que a Joana está a pensar o mesmo, mas para ela é mais complicado sair, pois vive da mesada dos Pais. Se ficam surpreendidos por eu aparecer para jantar naquele domingo, não dizem. A Avó Berta está presente, tem sempre histórias divertidas para contar e quer saber tudo o que acontece com o futuro médico. Pena que não te possa consultar, diz, o meu neto doutor! Posso sempre aconselhar um colega, sugiro, ah, e um rapaz jeitoso, por favor, responde a Avó. Oh, Mãe, que disparate! interrompe o Pai, mas a Avó ri-se. Estou velha, mas não tão velha assim! Ainda sei apreciar um homem, protesta a Avó, precisas de sair mais, estás a ficar antiquado! A Mãe esconde um sor

O COMEÇO FIM

  No email, há uma mensagem furiosa do Professor Luís, a tua sorte, Joana, é dizeres que qualquer semelhança com acontecimentos reais é pura coincidência!!! Tens que pensar muito bem no que queres ser, uma jornalista sensacionalista ou alguém respeitado no meio! Isto quer dizer que ele leu o blog e agora estou numa encruzilhada. Não posso parar a história a meio, seria desleal; por isso, continuo a escrever, falo nas várias hipóteses como se fossem pensamentos vagos. Deixo uma pergunta no ar para os meus leitores, faço " save " e deito-me,  a pensar que tenho que descobrir quem é o auxiliar. No dia seguinte, há uma verdadeira revolução na escola, há discussões acaloradas, o Professor Luís acha que é o momento ideal para desenvolvermos as nossas capacidades de análise. Ando no meio da turba, a gravar conversas, a fazer perguntas, umas vezes, sou maltratada, ameaçam mesmo destruir-me o telemóvel se não apago os comentários. Há outros estudantes que fazem questão que eu grave os

O COMEÇO PARTE V

  Reescrevo o artigo seguindo as instruções dadas, o Professor Luís dá luz verde com um ar sombrio e envio-o para os colegas da paginação. Abro o blog, leio atentamente os comentários e suspiro. Há duas opções: ou o auxiliar tentou a sorte com a médica e esta deu-lhe com os pés ou fez chantagem, ameaçando revelar o que se passou naquele quarto. Como eles recusaram, ele apresentou queixa à direcção e quanto mais penso, mais me convenço que as duas opções são viáveis. Se eu conseguisse falar com o auxiliar ou mesmo com o Dr Novais. Não, é melhor não, ainda trabalha na clínica e poria a carreira da minha Mãe em perigo! Escrevo um novo post, falo sobre as duas opções e faço " save ". Vejo as horas, já passa das seis e meia, prometi à Mãe ir ao supermercado e saio a correr. Vou a descer a escadas e vejo no átrio o Professor Luís a discutir com a Dra Telma, a Professora de Técnicas Narrativas. Mentiste-me! acusa o Professor e a Dra Telma suspira, já te disse que fui visitar a minha

O COMEÇO PARTE IV

  Mas a Mãe está muito cansada, tudo o quer é tomar um duche e dormir. Por isso, o Pai ajuda-me a arrumar a cozinha, vou para o escritório, diz e eu subo as escadas até ao meu quarto. Ligo o computador, abro o blog e começo a escrever. Título: O que é que aconteceu com a Dra? e acrescento um mistério sem solução. Isso vai atrair a atenção dos meus leitores, mas as palavras do Professor Luís vêm-me à mente. Fico indecisa, não sei se hei-de continuar a escrever, tenho apenas boatos, opiniões de outras pessoas. Podia tentar descobrir o tal auxiliar, mas se perguntar à Lena ou à Conceição, elas vão ficar surpreendidas por eu insistir no assunto. Pior, podem alertar a Mãe e não quero isso! Por isso, faço como nas séries policiais da Foxcrime, escrevo uma nota a frisar que o tema e as personagens são ficcionais. Estou tão embrenhada no conto que só dou conta que o Pai subiu porque ele abre a porta do quarto e pergunta-me o que faço ainda acordada. Nada, nada, respondo, faço " save "

O COMEÇO - PARTE III

  A cafetaria está quase deserta e tanto a Lena como a Conceição fazem-me uma grande festa. Queixam-se da nova enfermeira chefe, é muito miudinha, diz a Conceição, da nova auxiliar que dá ares de importante, mas a tua Mãe já a pôs no lugar, acrescenta a Lena e suspiram pelo Dr Novais, um espectáculo de homem. Se eu fosse uns anos mais nova, confessa a Lena, ias ficar com o coração partido como as outras, interrompe a Conceição. Ups! Isto é bom, mesmo bom, penso e pergunto, porquê, ele anda envolvido com alguém daqui? A Lena encolhe os ombros, são rumores, apenas rumores, comenta, podem nem ser verdade! Houve alguém que os encontrou numa posição comprometedora num quarto vazio, interrompe a Conceição, ao que parece, não era a primeira vez! Mas escusava de ir fazer logo queixa ao Director Clínico! protesta a Lena, contaram-me que essa pessoa quis depois voltar atrás e já era tarde! Quem foi a mulher? Foi a Dra Belmira? sugiro inocentemente e a Lena olha-me curiosa, como é que sabes? A tu

O COMEÇO PARTE II

  Enquanto arrumamos a cozinha, a Mãe pergunta-me se estou feliz, se tenho a certeza de que jornalismo é realmente o que eu quero. Tenho a certeza absoluta, afirmo, neste momento, estou a escrever pequenas crónicas, opiniões sobre o que se passa no Mundo e como também gostaram de uma das minhas histórias, publicaram-na. Ainda bem, responde a Mãe, estou um pouco preocupada, jornalista pode ser uma profissão muito ingrata. Qualquer profissão pode ser ingrata, observo, não me estou a ver fechada numa sala de aula ou num escritório. Quero viajar, conhecer outras pessoas, escrever sobre o que vejo... Ok, já percebi, interrompe a Mãe, só quero que estejas consciente que vai ser difícil...terás que lutar e muito por um lugar ao Sol. Mas foi isso que os Pais nos ensinaram, estar prontos para aceitar as derrotas e recomeçar, repito, não te preocupes, eu sei o que estou a fazer.... Por falar nisso, o que é que aconteceu à Dra Belmira? Não sei exactamente, houve um problema qualquer com um exame,

O COMEÇO

  Ao jantar, a conversa gira em torno de casos complicados e tanto eu como o Pai suspiramos. Com um estudante de medicina e uma enfermeira em casa, não é fácil gerir as conversas  à mesa e  naquela noite, o Pai anuncia que está farto, que ou param as histórias médicas ou nós, e incluí-me, jantamos no turno a seguir. Ora, nós somos uma família, diz, por vezes, temos horários desencontrados e por isso, temos que aproveitar o tempo que temos para estarmos verdadeiramente juntos! Os " culpados" apressam-se a pedir desculpa, a Mãe pergunta como correu o dia no Banco, o Pai confessa que as pessoas fazem pedidos estranhos e o Gabriel interrompe-o, talvez estejam dementes! Já não sei nada, as pessoas estão diferentes, impacientes, arrogantes, conta o Pai, e sobretudo, desconfiadas. Perguntaram-me se tinha a certeza que aquele produto tinha acabado, no ano passado, tinham subscrito um! As coisas mudam num ano, concorda a Mãe, quem diria que a Dra Belmira ia pedir a demissão de um dia

A ENTREVISTA - FIM

  S ão questões pertinentes, dirá mais tarde o editor, mas o que posso fazer quando recebo um telefonema do Pai da miúda a pedir para respeitar a privacidade da filha? E não deixa de ter razão!!! O Meireles convida o Inspector para almoçar naquele dia. Se ficou admirado, o Bernardo não diz nada. Sentaram-se na esplanada do restaurante perto da esquadra e o Meireles conta que a Joana Freitas está " limpa". É filha de um empregado bancário e de uma enfermeira, explica, tem um irmão mais velho que é médico. É uma família simples, sem problemas... Não há qualquer ligação, mesmo que remota à família da Clarinha! O Bernardes olha-o desconfiado e o Sargento apressa-se a tranquilizá-lo, desculpe, revi o caso, sei que foi o Inspector e o Sargento Brites que investigaram. Sei também que todos os protocolos foram seguidos, por isso, ninguém pode questionar a adopção da Clarinha, acrescenta, talvez ela só queira escrever sobre a adopção. Coincidência a mais, interrompe o Bernardes, ela j

A ENTREVISTA PARTE IV

  É também essa a pergunta que não deixa o Inspector Bernardes dormir. Os bons jornalistas pesquisam a vida dos entrevistados, mas a adopção da Clarinha seguiu o processo normal. A Polícia encontrou-a no apartamento onde a Mãe foi assassinada, entregou-a à Segurança Social como manda o protocolo e esta tentou localizar os parentes mais próximos. O Pai, acusado do assassinato da Mãe, foi preso e o Bernardes soube há pouco que morreu na prisão. Nenhum dos progenitores tinha irmãos, os avós já tinham morrido e a Segurança Social não descobriu mais ninguém. A não ser que houvesse família no estrangeiro e tenha escapado ao radar da Segurança Social. Não, diz o Bernardes mentalmente, não é possível! e tenta adormecer. Está de mau humor quando entra na Brigado no dia seguinte, ainda fica pior quando o Meireles lhe conta o encontro com a jornalista. Ela não disse que era com o Inspector que queria falar, diz o Sargento, mas eu depreendi que fosse. Desculpe a pergunta, mas porque é que ela está

A ENTREVISTA - PARTE III

  Claro que sim, responde a ruiva, chamo-me Joana e o Meireles aproxima-se. A conversa escorre, fluída, provocante até que a Joana diz, tu trabalhas na Polícia, não é verdade? e o Meireles olha-a atentamente. A Joana aguenta o olhar, sorri e insiste, disseram que este é um bar frequentado por polícias, por isso, deduzi que o fosses também. Sim, sou sargento de brigada, confirma o Meireles e antes que faça qualquer outra observação, a Joana interrompe, que coincidência! Queria tanto entrevistar um dos vossos Inspectores, mas ele diz que está tão ocupado...Talvez me pudesses ajudar... e deixa a frase no ar, espera que o Meireles reaja. Mas o Meireles lembra-se do aviso do Bernardes e como é cauteloso por natureza, recusa delicadamente. Não vejo como; não sei com quem falaste, mas mesmo que o conhecesse o suficiente para lhe pedir que conversasse contigo, ele pode recusar e está no seu direito. Porque é não contactas o Departamento de Imprensa? Temos um Departamento de Imprensa, frisa. A

A ENTREVISTA - PARTE II

  Conheces uma Joana Morais, uma jornalista da revista X? pergunta o Bernardes e a mulher olha-o curiosa. Sim, entrevistou-nos, a mim e à Teresa a propósito da loja e do serviço de catering, responde a Madalena, como é que sabes? Essa dita jornalista telefonou para a Polícia, queria marcar uma entrevista comigo, explica o Bernardes, pensei que fosse sobre o caso que estou a investigar, mas surpresa, surpresa, ela quer falar sobre a adopção da Clarinha. Ah, a Madalena está indignada, ela insistiu nesse assunto, eu disse-lhe que era privado, que o importante era o trabalho da loja, esclarece, e descobriu o teu nome e toca a incomodar-te! Maldita jornalista! Pensa que a história será mais interessante que a da loja e o serviço de catering, continua o Bernardes, eu declinei o convite, assuntos privados são privados. Até avisei o Meireles para ter cuidado com o que diz se ela telefonar. Mas o Meireles não sabe da história ou sabe? diz a Madalena, o único que sabe o que aconteceu foi o Brite

A ENTREVISTA

  O que é que mudou na minha vida? repete a Madalena e olha curiosa a jornalista. Tanto ela como a Teresa ficaram surpreendidas pelo convite daquela revista; já entrevistaram a Teresa, que falou longamente sobre os motivos que a levaram a abrir a loja e o serviço de catering. Agora, é a vez dela; a jornalista acha a história dela interessante, uma Mãe de família que retoma a vida activa e se torna sócia de uma empresa gourmet. Ter mais tempo para mim, responde a Madalena, continuo a estar presente na vida dos meus filhos, mas eles já têm vida própria, até mesmo a Clarinha, que vai fazer nove anos. A Clarinha, e a jornalista consulta as notas, é a filha adoptiva, não é? Quer falar-me um pouco sobre isso? A Madalena fica pensativa uns minutos e depois abana a cabeça, não, não posso, tenho que proteger a Clarinha, por isso, agradeço que não me faça perguntas sobre isso. A jornalista sente-se desconfortável, tinha um plano, tem agora que o adaptar, ok, certo, como é que surgiu o convite? F

O DESATINO DA MATILDE FIM

  Apesar da cena com a Clarinha, a noite é divertida, quase esqueço o que aconteceu com o Mateus e regresso bem humorada a casa. Sou recebida por uma Isabel muito agitada, que me chama hipócrita, traidora e afins e amaldiçoo de imediato o Mateus. O palerma contou-lhe tudo e nem me avisou! Tento justificar-me, mas a Isabel está muito nervosa, não me quer ouvir, saí pela porta fora, depois, venho buscar as minhas coisas, avisa. Telefono de imediato ao Mateus, o que é que fizeste, pá? Nem sequer tive a oportunidade de me defender! Mas o que é que te passou pela cabeça? protesto. Matilde, tem calma. Ela estava a fazer planos para as férias e eu não aguentei, esclarece, tive que lhe dizer que não estava interessado em ir com ela para o Algarve e ela insistiu em saber a razão... E tu disseste que te envolveste comigo, etc, etc, interrompo, mas eu nem sequer estou interessada em ti! O Mateus fica abismado, então, porque é que fizeste amor contigo? pergunta e eu suspiro, mas eu disse-te que fo

O DESATINO DE MATILDE - PARTE VI

  O projecto para o qual a Rita nos convida é aliciante, aguça a curiosidade do Mateus e passamos horas a discutir ideias. A Isabel cansa-se de nos ouvir, deita-se cedo, deixa-nos sós e conversamos bastante. O que acontece um dia é inevitável e sinto-me muito culpada no dia seguinte. Não me consigo concentrar nas aulas, o Mateus confessa sentir o mesmo quando nos encontramos na biblioteca nessa tarde. Não pode acontecer novamente, estamos a trair a Isabel, repito e o Mateus suspira, não sejas tão dramática! Por amor de Deus, Mateus, és namorado dela! insisto, e a Isabel adora-te! Além disso, eu vivo com ela, isto não devia ter acontecido! Matilde, tem calma, eu não estou arrependido! diz o Mateus, às vezes, a Isabel aborrece-me com toda aquela dedicação! Não consigo respirar! Não quero ouvir mais nada! interrompo, hoje vou jantar com os meus Pais! e deixo-o a falar sozinho. Não gosto muito da ideia do jantar semanal, mas tu pisaste o risco, observa o Gustavo quando me queixo, e o Pai n