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A mostrar mensagens de novembro, 2018

O PLANO DE AFONSO - PARTE II

O porteiro não acha nada estranho o Afonso pedir-lhe para abrir a porta. Aliás, o Senhor Engenheiro foi bem claro: sempre que os meus filhos aparecerem e eu não estiver cá, deixe-os entrar. O Afonso entra, larga a mochila e o anorak no hall e visita a cozinha. Vai a passar no corredor que vai para os quartos quando ouve vozes. O Pai está em casa? Não o ouviu entrar?  Bate à porta, entra sem esperar resposta e vê o Pai na cama abraçado à Tia Eugénia, mulher do tio Romeu. Afonso fica estupefacto, a Tia Eugénia solta um grito e tapa-se e o Pai diz, zangado: " O que fazes aqui a esta hora? Porque é que não telefonaste para saberes se podias ou não vir? " Afonso não responde, foge do quarto, derruba o tabuleiro que tinha preparado e, arrastando a mochila e o anorak, saí. Desce as escadas rapidamente, passa pelo porteiro que o tenta, sem sucesso deter e está na rua. Está tão nervoso que perde o sentido de orientação e quando dá por si, não

O PLANO DE AFONSO

Afonso tem um plano. Se conseguir despistar o Frederico e o Pedro, apanha o autocarro em frente ao Shopping e vai para casa do Pai. Ao princípio, achou um absurdo o divórcio, mas depois, até descobriu vantagens. Quando quer fugir à vigilância da Mãe, que continua a não tolerar faltas de educação ou pedidos inadequados, vai para casa do Pai, certo de que este fará tudo para o manter bem-disposto. Abrir o porta-moedas da Mãe e retirar de lá cinco euros foi fácil. Quando descobrirem, vai receber um sermão, mas que importa? Infelizmente, encontra o Frederico que lhe pergunta onde é que ele vai com tanta pressa, mas Afonso despista-o, dizendo que vai estudar para casa de um amigo. Frederico ainda protesta, quer telefonar à Mãe para confirmar, mas Afonso afasta-se sem lhe prestar atenção. Cá está ele na paragem, à espera do 345. Já tentou ligar para o telemóvel do Pai, mas este não atende. Pode estar numa reunião e não estar em casa, mas Afonso já é um grand

A LISTA - O FIM

O Natal e o Ano Novo passam com o João e a Maria mais relaxados do que é habitual e até a trocarem umas piadas. Em Janeiro, Maria aceita a proposta do cliente do João e apresenta a demissão à empresa. Recebe umas piadas maldosas e começa a ser tratada como se fosse invisível. Como está de saída, Maria não se preocupa e concentra as energias em resolver os detalhes do divórcio. A casa tem que ser vendida rapidamente e o dinheiro dividido para cada um comprar um apartamento. Fazem o inventário do recheio da casa e escolhem as peças de que gostam mais para irem para os respectivos apartamento.  O resto será vendido ou oferecido, ainda não sabem.  Consultam um advogado e está quase tudo definido quando finalmente se reúnem com os filhos e lhe contam o que vai acontecer. Afonso fica histérico e dá um grande soco a Maria. João intervém de imediato e castiga-o, o que surpreende o filho mais novo, habituado que está a obter tudo o que quer do Pai. Frederic

A LISTA - PARTE V

A Berta escuta-a atentamente e acha que ela deve ir para fora com o João. " Para conversarem verdadeiramente. Não te preocupes com os miúdos; eu e o Jaime ficamos com eles. Vamos à Serra da Estrela; em vez de 4, vamos 7. Não faz qualquer diferença; o Hotel tem baby sitter, actividades para crianças e por isso,  eu e o Jaime também vamos relaxar." e sorri para a irmã, embora esteja preocupada, pois, confessa ao marido, aquele casamento está nas últimas. O João aceita a ideia, um pouco relutante é certo, mas a Maria atribui isso ao excesso de trabalho. Conseguem falar, não estão distraídos com os miúdos, a família ou os telefonemas de trabalho, mas a única coisa em que ambos estão de acordo é que a Maria deve mudar de emprego. O João acha que pode ajudar, um dos seus clientes está à procura de alguém com formação em Marketing e pode ser uma boa oportunidade para ela crescer mais na área. A ideia do divórcio fica em cima da mesa...  Não para já, há muita

A LISTA - PARTE IV

" Bolas!" exclama o João quando fecham a porta " Quase que os expulsavas com essa cara de enterro! O que se passa contigo?" " O que se passa comigo??? Também te posso perguntar a mesma coisa! Que ideia foi essa de falares na minha lista e os deixares gozarem-me?" repete a Maria. " Lá estás tu a fazer uma tempestade num copo de água. Foi uma brincadeira; parece que não sabes o que é uma brincadeira.!" reclama o marido. " Claro que sei o que é uma brincadeira, mas podemos brincar com outras coisas, não achas?" responde a Maria. " O QUE SE PASSA CONTIGO? Estás sempre a reclamar. Por causa do teu emprego, o Frederico quer isto, o Pedro aquilo!" refila o João. " Talvez se me escutasses, não teria que reclamar. Mas a única pessoa a quem escutas verdadeiramente é o Afonso. Se ele te pedisse a Lua, desconfio bem que lha davas!" diz a Maria, indignada. " Não, não estamos a discutir o que se pass

A LISTA - PARTE III

" Algum problema com o João, com os miúdos? " insiste a Berta " Ou com o teu emprego?" " Sabes como é, já me habituei a trabalhar com pessoas malucas. Ainda vão arruinar a empresa, mas o que posso eu fazer? " diz Maria. " Procurar uma alternativa, principalmente se está a interferir na tua vida pessoal." observa Berta " E a relação com o João? " " Os problemas habituais. O Frederico quer praticar voleibol, mas o João acha que ele deve ir para o ténis. O Pedro quer aprender a tocar guitarra e o João diz que é um absurdo. Em contrapartida, não nega nada ao Afonso e os outros dois ficam furiosos." conta a Maria. " Temos discutido exactamente por isso." " E tens toda a razão! "  concorda a irmã " Vou falar com o Jaime, ele pratica voleibol num clube perto de casa e o Frederico pode ir com ele. Quanto ao Pedro, sou madrinha dele e pagar-lhe as lições de guitarra é uma óptima ideia.Isto est

A LISTA - PARTE II

Devo ter falado durante o sono e o João ouviu, pois durante um jantar de amigos, o Gonçalo pergunta-me, em tom de confidência, mas suficientemente alto para todos ouvirem: " Então, queres ir para Gstaad? Para gastares o que não tens?" e a mesa explode em gargalhadas. Fulmino o João com o olhar, mas o meu marido encolhe os ombros e também se ri. " Não me queres levar contigo? Mas tu pagas!" comenta a Beatriz. " Também quero ir! Só para ver o desfile de estrelas de Hollywood por lá!" diz a Margarida. " Mas tu não gostas de neve; o que vais fazer para lá? " questiona a minha irmã sensatamente. Respiro fundo e explico: " O objectivo é exactamente esse: perguntarem-me porquê. Quero fazer qualquer coisa diferente, desafiar-me!" " E fazeres uma coisa que detestas é um desafio ?" observa o meu marido. " Ou estás simplesmente aborrecida e queres atenção!"  brinca o Gonçalo. A minha ir

A LISTA

Sabes, adoro fazer listas. Por isso, este ano, juntamente com o cartão de Natal, vou enviar a lista dos presentes que quero receber. Pelo gozo... os comentários divertidos e a surpresa se algum dos meus amigos a seguir à risca. Vou começar por pedir uma viagem à Gstaad ou a Aspen...  Um contrasenso, pois não gosto de esquiar...  Talvez a pergunta que façam seja: porque não ir a Madrid ou a Londres, já que adoro Museus, Teatros? É o que quero que descubram: porque é que estou a pedir uma viagem a um local que não me diz nada? Por ser diferente? Para me desafiar? Para contrariar a minha rotina? E, passamos ao nº 2. Um workshop de cozinha básica... outra coisa que os vai fazer pensar. Detesto tudo o que tenha a ver com a cozinha.  Cortar vegetais, fazer a sopa, preparar a carne ou o peixe ou mesmo um bolo... Não sou o que vulgarmente se chama " um garfo", um "gourmet"... A comida agora é aborrecida e até gostava d

AS DIFICULDADES DE BERNARDES - O FIM

Brites está satisfeito  quando relata a conversa com o porteiro. Os escritórios funcionaram ali, mas o armazém ficava na zona baixa da cidade. Conhecia relativamente bem os funcionários, pessoas discretas e bem-educadas e foi realmente uma pena terem fechado de um dia para o outro. Numa semana, esvaziaram os escritórios e entregaram as chaves. " Não sei porquê... " explica Brites " Alguma coisa me dizia que devia ver o espaço e cheirou-me a lixívia. Pode ser um tiro no escuro, mas chamei a equipa forense. Ela pode ter morrido ali." Lucas não teve tanta sorte. O advogado mudou de cidade e não deixou endereço. " E o armazém? Onde é? " pergunta Bernardes. O armazém fica numa zona um pouco isolada, o portão está fechado com um cadeado que forçam. Cheira a pó, a velho. Acendem lanternas e há caixotes empilhados, mobília, computadores encostados a um canto. Bernardes faz sinal a Lucas e avança para a parte de trás. Há uma

AS DIFICULDADES DE BERNARDES - PARTE V

" O facto de ter pago à irmã e a outra pessoa uma determinada quantia para retirarem a queixa, não quer dizer que ele não tenha assassinado a mulher." observa Brites. " Certo, mas pode ter pago a alguém. Uma das hipóteses é lavagem de dinheiro; as empresas dele são perfeitas demais." insiste Loureiro. Bernardes fica pensativo e Soeiro interrompe-o: " As outras vítimas trabalhavam numa empresa chamada " Corcel". "Desapareceram" depois de um turno extra. Sei que vi isso nestes processos." e abre-os. Lucas começa a folhear o outro processo e encontra o nome da empresa. " Então, vamos investigar essa empresa e saber se esta nova vítima também trabalhava lá. Quero saber tudo: quem são os sócios, contas bancárias, impostos, etc." ordena Bernardes, satisfeito com o rumo da investigação. Contudo, o relatório do médico legista arrasa uma das hipóteses: o ADN recolhido dos ferimentos da vítima não é do marido.

AS DIFICULDADES DE BERNARDES - PARTE IV

No dia seguinte, reúnem-se para discutir o assunto pendente. Segundo Brites, o marido tratou as queixas de violência doméstica como um assunto secundário (afinal, até foram retiradas) e afirmou-se como um homem "mudado, responsável". Bernardes e Lucas também não tiveram muita sorte com a irmã.  Esta mostrou-se distante, repetiu várias vezes que tinha interpretado mal a situação. Decidiram não insistir mais no assunto e retiraram-se. Soeiro encontrou dois outros casos com pormenores semelhantes e vai falar ainda de manhã com os detectives responsáveis. " A questão é: será que mudou mesmo? " diz Bernardes. " Os extractos bancários são perfeitos demais!" comenta Lucas e Soeiro concorda. " Droga, lavagem de dinheiro? " sugere Brites e Bernardes acredita que é uma hipótese a considerar. " Mas porquê matá-la? " questiona Lucas " Há ferimentos defensivos, por isso, ela tentou defender-se. E ela estava em boa

AS DIFICULDADES DE BERNARDES - PARTE III

Os três homens olham uns para os outros... O Inspector não deixa de ter razão....  Não lhe deram o benefício da dúvida, pois convenceram-se de que Lucas assumiria o comando e ressentiram a nomeação daquele homem que não teria mais do que 40 e tal anos. Soeiro interrompe o silêncio, cumprimentando-os com um: " Olá, mas o que se passa? Morreu alguém? " " A partir de hoje, quem chegar atrasado, paga uma multa." decide Bernardes " Hoje, é a vez do Soeiro que vai pesquisar todos os casos em que a vítima apareceu asfixiada num local deserto.  Mulher, entre 25, 30 anos e com sinais de violação. A ver se encontramos uma ligação entre esses casos e o presente." Brites respira fundo e pergunta: " Gostava de interrogar novamente o marido. Estive a pesquisar e encontrei arquivadas algumas queixas contra ele por violência doméstica." " Dela? " observa Bernardes. " Não, ao que parece, uma das queixas foi fei

AS DIFICULDADES DE BERNARDES - PARTE II

Leandro deixava-o expor as ideias e, concordasse ou não, explicava-lhe as razões. Bernardes tentou fazer a mesma coisa com o Sargento Lucas, mas este ficou calado, à espera de instruções. "Fui promovido cedo demais!" murmura baixinho, mas cala de imediato esse pensamento. Se foi promovido, foi porque o mereceu, porque mostrou iniciativa, interesse, capacidade. Por isso, esta brigada tem que entrar nos " eixos" e vai ser hoje, resolve.  Levanta-se e abre a porta do gabinete. Os outros sobressaltam-se e o Sargento Lucas apressa-se a dizer: " Bom dia, Inspector, não sabíamos que já cá estava !" " E, no entanto o meu gabinete fica em frente da porta!" comenta Bernardes, sarcástico. O Sargento fica sem saber o que dizer. Talvez deva desculpar-se, mas explicar o quê? Nesse momento, entra, ofegante  o Agente de Ligação. " Bolas, pensei que não chegava cá hoje..." e as palavras morrem-lhe nos láb

AS DIFICULDADAS DE BERNARDES

Bernardes, agora Inspector, está desanimado. Há uma certa hostilidade na brigada e ele não sabe muito bem como contornar a situação. Talvez seja novo demais e os mais velhos achem que deviam ter sido um deles a ser promovido. Mas ele esforçou-se bastante para atingir aquele posto e a culpa não é dele se os outros não o fizeram. Que pena o Tavares e o Torcato terem sido transferidos para outra brigada!  Eram uma boa equipa, se bem que a verdadeira estrela fosse o Inspector Leandro. Ai, Leandro, que pena não estares aqui para me aconselhares, pensa Bernardes. A porta abre-se e o novo Inspector levanta a cabeça para ver quem é. É o Detective Brites, calmo, inteligente, mas muito pouco comunicativo.  Atrás dele, vem o Sargento Lucas, eficiente e distante.  Falta o Detective Soeiro e o agente de ligação Pontes. Estes chegam quase sempre atrasados e às vezes, Bernardes pensa que eles fazem de propósito. Já insinuou que há horários a cumprir, mas eles

ALICE - O FIM

Relembrei cada conversa que tivemos, cada email que trocamos. Tinha que encontrar uma pista, alguma coisa que explicasse a atitude do Carlos. Dinheiro? e quanto mais pensava no assunto, mais me convencia que isso podia ser a chave. O Carlos não falava abertamente no assunto, aliás dava a impressão de que estava bem na vida, mas, de vez em quando, dizia que estava um pouco " apertado", pois não tinha recebido a " transferência". Mostrei-me solidária, mas não me ofereci para lhe emprestar dinheiro. Talvez tivesse compreendido que não iria ser fácil enganar-me e fugir com o meu dinheiro. Ou tinha encontrado outra mulher aqui na Polónia...  Ou tinha uma mulher indiana à espera dele e veio à Europa à procura de fundos.  Ups!" pensei " Isto parece uma novela, um filme!" mas encaixava no puzzle. Por isso, quais eram as minhas opções? Ficar aqui e tentar encontrar um emprego? Ou voltar para casa, desfazer-me em desculpas para o R

ALICE - PARTE V

A viagem decorreu sem problemas e após reclamar as malas, procurei o Carlos no meio daquela multidão. Nada. Tentei ligar-lhe para o telemóvel, mas não deu qualquer sinal. Liguei de uma cabine, mas recebi uma mensagem em polaco que me fez desistir de imediato. Estava a escurecer, estava cansada e com fome e por isso, procurei um Hotel ali perto. No dia seguinte, escrevi a morada do apartamento do amigo num papel que mostrei ao motorista do táxi. Cerca de meia hora depois, estava a bater à porta do apartamento num edifício sombrio e mal cuidado. A porta abriu-se com cuidado e um homem alto e desajeitado encarou-me mal humorado. Disse qualquer coisa que não entendi e em inglês, perguntei-lhe pelo Carlos. " Carlo?" repetiu e eu acenei com a cabeça: " Yes, where is he? " " Not here. Left!" e sorriu. " Not yesterday, last week!" " Last week?!" gritei.  Mas como, se no último mail ele dizia que che

ALICE - PARTE IV

O parto foi complicado e fiquei muito fraca. A minha Mãe queria ficar uns dias para me ajudar, mas a Rafael não concordou, que tínhamos que nos organizar e não podíamos depender dos outros. O primeiro mês foi um desastre, com o bebé sempre a chorar, o Rafael a querer impor regras que ninguém entendia. No segundo mês, tive uma crise de choro tão grande que o Rafael compreendeu finalmente que o melhor seria eu ir para casa dos meus Pais. Rodeado de todo o carinho e compreensão, comecei a melhorar e aproveitando o tempo que a minha Mãe passava com o bebé, fiz as minhas pesquisas no Google para estabelecer o plano de "fuga". Talvez fuga não fosse a palavra mais adequada, mas não encontrei outra melhor. Carlos mandou-me um mail a dizer que partia no dia 22 para Varsóvia e eu marquei a minha viagem para o dia 01. O encontro seria no Aeroporto, só tinha que confirmar o nº e a hora de chegada do voo. Foi uma benção o meu Pai ter insistido no jantar e

ALICE - PARTE III

A ideia era excitante, mas eu tinha muitas questões a resolver antes de me pronunciar. Estava grávida do Rafael e não podia fugir antes do nascimento... Durante aqueles meses em que me transformei lentamente num pote de mel, o Carlos respondia a todas as minhas perguntas. Tinha já um plano elaborado e só esperava que eu dissesse sim. O que me decidiu mesmo foi o facto do Rafael achar que eu devia considerar a hipótese de não trabalhar durante um ano ou dois após o nascimento do bebé. Foi uma discussão violenta e durante uns dias não falamos. Decidi abrir uma conta num outro banco e transferir parte do meu salário para lá. " Ele não vai achar estranho? " perguntou o Carlos. " Quero lá saber!" respondi " Diz-me uma coisa, o que é que vamos fazer lá na Índia? " " Tenho lá amigos, uma pequena loja e tu também podes arranjar qualquer coisa. Não te preocupes, vai correr tudo bem!" assegurou-me e dei por mim a pensa

ALICE - PARTE II

Soltou uma gargalhada e repetiu: " TU, UM ESPÍRITO LIVRE, CASADA???" e eu fiquei perturbada com o comentário. Pouca atenção dei ao Rafael que tentou explicar-me o problema que surgiu com o novo projecto, pois lembrei-me da conversa que a minha Mãe teve comigo antes de casar. Foi exactamente isso que ela perguntou, se tinha a certeza de que estava pronta para assumir as responsabilidades, os sacrifícios. Ela não gostava do Carlos, mas talvez soubesse que o Rafael não era o homem ideal para mim. A verdade é que eu não gostava dos amigos deles e ele também não estava interessado nos meus. Por isso, uma vez por mês, cada um saia com o seu grupo de amigos para desanuviar. Como o Carlos descobriu isso, nunca perguntei, mas estava no bar onde eu e as minhas amigas resolvemos ir naquela noite. A partir daí, choveram telefonemas, houve almoços no centro e o encontro escaldante no apartamento dele tinha que acontecer. Nessa semana, descobri que estava grávid

ALICE

Fugi... E depois? Talvez tenha sido precipitada, leviana...  Talvez tenha maltratado os meus pais, os meus irmãos e o Rafael. E por ter abandonado o bebé... sou uma desnaturada... O mal de tudo? Ter dito sim.... hesitei bastante, mas o Rafael insistia em casar e como o Carlos nunca mais se decidia, acabei por aceitar. Até podíamos ter sido felizes se o Carlos não tivesse voltado da sua viagem espiritual. Encontrei-o no centro comercial a tomar café na minha boutique favorita. " Olha quem é!" disse aquele homem barbudo, de jeans desbotadas e T-Shirt branca. " Não te lembras de mim?" Fiquei parada no meio da boutique, consciente dos olhares dos outros clientes e respondi: " Não, desculpe, mas não me lembro." " Oh, Alice, sou o Carlos. Não te lembras mesmo de mim? " repetiu. Fez-se luz no espírito e sorri. " Oh, Carlos, mas não estavas no Nepal ou na Tailândia? " " Na Índia, re