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A mostrar mensagens de novembro, 2022

O CASO

  A operação foi um sucesso, Meireles recebe um louvor, mas sente-se cansado. Está seriamente a pensar em pedir uma licença sabática, mas é promovido e transferido para a capital. Com a promoção, não sei se devo ou não pedir licença, confessa ao Inspector Bernardes, estão os dois a almoçar num restaurante perto do rio. Mereces essa promoção, interrompe o Inspector, desempenhaste um papel fundamental para a conclusão da operação. Fala com as chefias, vê o que eles dizem, não te vão negar a licença, em vez de três, podes ter só um mês... Estava a pensar em seis meses, admite o Meireles, foi um ano muito cansativo, tenho mesmo que organizar a minha vida. As minhas sobrinhas dizem que já não se lembram da minha cara, e os dois homens riem-se. Pagam a conta, o Inspector Bernardes segue para o Departamento, o Meireles foi chamado à sede. A reunião está marcada para as três e meia, mas só às quatro é que o chamam. Na sala, estão o Inspector Geral e o Delegado do Ministério Público, o que surp

O ESTÁGIO FIM

  Não sei a que horas a Maria Rosa chega, já estou a dormir, deve ter sido tarde, resmunga quando a acordo. Nas semanas seguintes, as diferenças entre nós tornam-se profundos, temos vidas separadas, os estágios e os objectivos são diferente, apenas partilhamos um quarto. Não é que me divirta, tenho um grupo agradável de amigos com quem exploro aos fins de semana a cidade e os arredores, mas a Maria Rosa raramente me diz onde vai. Fico surpreendida quando o tio Pedro me telefona, depois das banalidades como estás, estás a gostar? pergunta, E a Maria Rosa? Sabes onde ela está? Acho que hoje fica até mais tarde, sou vaga, mas fico preocupada, ela não telefona muito, nem dá muitos detalhes sobre o que faz, continua o tio Pedro, é por isso que te estou a telefonar. Mas se ela está bem...diz-lhe para me telefonar, ok? e desliga. Tento ligar para o telemóvel da minha prima, ela não me atende, se soubesse onde ela está, ia lá ter, penso, o que é que eu faço? Ouço barulho na escada, talvez seja

O ESTÁGIO PARTE VI

  O jantar é simples, o filho mais velho também está a estudar design e temos uma conversa interessante sobre o assunto. A Maria Rosa e a filha mais nova trocam impressões sobre moda e joelharia, percebo que as duas estão divertidas, pois a minha prima ri-se alto e está com os olhos a brilhar. Na manhã seguinte, acordo cedo, preparo o pequeno almoço, a família abasteceu o frigorífico com o essencial e visto-me. A Maria Rosa ainda dorme, é preciso acordá-la, ela resmunga, mas temos que nos apresentar a horas, digo, não convém chegarmos atrasadas! Cruzamos-nos com o casal no corredor, eles oferecem-nos uma boleia até à empresa, explicam o trajecto do autocarro. Não percebi nada, suspira a Maria Rosa, vais ter que me explicar ou melhor, encontramos-nos aqui à hora de saída e vamos juntas. O átrio é enorme, decorado em cores discretas, apresentamos-nos à recepcionista que toca num botão e nem cinco minutos depois, aparecem dois homens. O Karl deve ter cerca de cinquenta anos, vai ser o res

O ESTÁGIO PARTE V

  Os Pais regressam, sentam-se, a conversa fluí, até a Mãe da Maria Rosa parece mais descontraída. O Pai olha para o relógio, é melhor irmos, diz e lá vamos nós em direcção das escadas rolantes, tens a certeza de que queres ir? ouço a Mãe da minha prima perguntar-lhe. Olho para a minha Mãe, ela suspira e abana a cabeça, ela vai ficar bem, responde o tio Pedro, é uma boa oportunidade e ela vai aproveitá-la, não sei, não tenho a certeza disso, insiste a Mãe e a Maria Rosa explode, eu vou e não há nada a fazer! Fazemos o check-in, despedimo-nos dos Pais e a Maria Rosa respira fundo quando nos sentamos no avião. Pensei que ela ia ficar calada, explica, mas não, tinha que fazer uma última cena, não sabe como é ridícula? Não faço comentários, penso nos meus Pais, na sorte que tenho em os ter como Pais, extravagantes, é certo, mas acessíveis, o que é que eu quero mais? Adormeço e quando acordo, a Maria Rosa está a conversar animadamente com os nossos vizinhos, já trocaram números de telemóvel

O ESTÁGIO PARTE IV

  Acho que não te deves preocupar demasiado com isso, aconselha a Mãe quando lhe falo dos meus receios, aproveita o estágio, aprende, mas diverte-te também. Não te vais preocupar com o que a Maria Rosa vai ou não fazer, se ela tiver uma atitude de que não gostas, fala abertamente com ela! Pois... tenho a impressão de que ela aceitou fazer o estágio para estar longe da Mãe, explico e a Mãe abana a cabeça, talvez seja, mas esse não é o teu problema. Concentra-te nos teus objectivos, mas está atenta às atitudes dos outros. Suspiro, a Mãe tem razão, estou muito entusiasmada com o estágio, já enviei um mail à pessoa responsável pelo meu estágio na empresa, estabelecemos um programa que discuti com o meu professor. Os meus Pais acompanham-me ao aeroporto no dia da partida, a Maria Rosa diz que vai lá ter, espero que não chegue atrasada, resmungo e o Pai ri-se. Se bem conheço o Pedro, até já lá devem estar, diz, mas eu duvido. Contudo, quando entro no átrio principal do aeroporto, a primeira

O ESTÁGIO PARTE III

  Já passou uma hora e a Maria Rosa ainda não chegou, começo a ficar desesperada... Já sei mais ou menos o que vou comprar, até pedi para guardar, pois quero que a minha prima veja, explico e volto a sentar-me num banco perto da porta principal. Estou quase a desistir, ir buscar as coisas, pagar e ir-me embora quando a Maria Rosa irrompe esbaforida, atravessa o átrio, desculpa, desculpa, pede, mas a minha Mãe fez-me uma cena. Tive que pedir ajuda ao Pai, porque ela não me deixava desligar... Ainda por causa do estágio? interrompo, pensei que estava tudo resolvido, também eu, admite a Maria Rosa, mas a Mãe continua a ver fantasmas. Nem parece uma psicóloga, respondo, mas há pessoas que só vêem o lado negativo da situação, repito a explicação da minha Mãe. A minha prima suspira, a minha Mãe sempre foi uma exagerada, acho que o Pai pensa isso, comenta, embora seja muito correcto quando fala dela comigo. Mas eu sinto, sabes?... mas deixa lá isso, vamos comprar coisas? Levo-a até à loja ond

O ESTÁGIO PARTE II

  A Maria Rosa telefona-me nessa noite, ah, Francisca, estou tão excitada, confessa, mal posso esperar por começar o estágio... Estou a fazer uma lista do que tenho que comprar... Lá também há lojas, interrompo, escusas de ir muito carregada! Leva mas é um bom anorak, luvas quentinhas e botas forradas. Foi um conselho que a minha Mãe me deu. Pois, a tia Rita viajou por este Mundo e o outro, diz a Maria Rosa, nem sabes a sorte que tens, a tua Mãe é uma pessoa acessível....Já a minha... O facto de ser acessível não quer dizer que não se preocupe, aviso, fez questão de saber tudo o que podia sobre a empresa onde vamos estagiar e mesmo sobre a família onde vamos ficar. Tenho uma lista de coisas a cumprir...não penses que não me vai controlar...só que aborda a questão de uma outra maneira! A minha prima suspira, mas mesmo assim, persiste, a minha Mãe podia ser um pouco mais aberta! Aquele marido não é boa influência... aquela mania de controlar tudo e todos! Fico calada, não sei bem o que d

O ESTÁGIO

  Foi um escândalo, bem não diria que foi um escândalo, mas os nossos Pais não aceitaram bem a ideia de eu e a Maria Rosa fazermos um estágio no estrangeiro. Por sorte, as empresas que nos ofereceram o estágio, eu para design de mobiliário e a Maria Rosa para jóias, são na mesma cidade e podemos partilhar um quarto em casa de uma família. A Mãe da Maria Rosa foi tão agressiva que se o Tio Pedro interviesse, acho que a Maria Rosa tinha fugido. Os meus Pais extravagantes quiseram analisar a proposta feita pela empresa, fizeram umas perguntas discretas a clientes que trabalham para aquele mercado e até escreveram à família, apresentando-se. Não achas que foi um exagero? Escreverem à família, quero dizer, pergunto à Tia Teresa, não, concordo em absoluto, a família fica a saber que não estás sozinha no Mundo... Achas que me iam raptar para ser escrava sexual? interrompo e a Tia Teresa fica muito séria, não digas isso a brincar! Infelizmente, isso acontece mais vezes do que pensamos e esta f

O DIÁRIO DO BÉBE FIM

  Tentar saber se a minha Mãe ficou numa dessas cidades revela-se um processo moroso, o Pais não tem representação diplomática, explica o tio Gustavo, temos que pedir ajuda às ONG que estejam a trabalhar no local. Celebro o meu aniversário, há balões, palhaços e um bolo enorme, mudo de sala no infantário e torno-me num perito em desenhos abstractos. O meu Pai está irritável, aprendo-me a não cruzar o caminho dele quando está muito calado, muito sério, as Avós estão preocupadas, gostava que esta história se resolvesse o mais rápido possível, desabafa a Avó Dalena com a Avó São. Também eu, confessa a Avó São, não só por causa do meu filho, mas também por si, a Madalena está a sofrer imenso.  A Avó Dalena suspira, o que é que aquela maluca da minha filha está? Onde é que eu falhei? repete mentalmente, mas não se atreve a dizer isso alto, lê censura nos olhos da outra Avó, ou será imaginação sua? Nessa noite, sente-se mal, o Inspector leva-a para as Urgências, tem que ficar em observação,

O DIÁRIO DO BEBÉ PARTE IV

  Pelos vistos, o corpo da tal mulher não é da minha Mãe, a informação fez a Avó Dalena suspirar de alívio, embora estivesse apreensiva com a viagem complicada do Avô e do meu Pai ao tal País que não sei o nome. Por isso, onde é que ela está? pergunta a tia Matilde, sabemos que ela embarcou, o nome está no manifesto de bordo, por isso, onde é que ela está? repete. Pode estar num hospital de campanha algures, a sofrer de amnésia, sugere o tio Bernardo, pode ter perdido os documentos.... Isso não tem piada, Bernardo, interrompe a tia, mesmo nesse tipo de hospitais, eles tentam identificar as pessoas e encontrar os familiares. Também há outra possibilidade, diz a tia Rita, e todos olham para ela, muito séria, a Clarinha pode ter simplesmente fugido! O caos instala-se na sala, falam todos ao mesmo tempo, oh, Rita, não acredito que tenhas dito isso! exclama a Avó, zangada. Mas a tia Rita até pode ter razão, diz o tio Gustavo muito calmo, gosto muito dele, sorrio-lhe, mas ele não vê e contin

O DIÁRIO DO BEBÉ PARTE III

  Quando entramos na sala, estão todos a falar ao mesmo tempo, muito excitados e a Avó Dalena pergunta, mas o que é que aconteceu? Recebi uma mensagem de um amigo da ONG, explica o Pai, recuperaram um corpo de mulher, pode ser a Clarinha. Não sabes, interrompe a Matilde, ainda não há identificação formal, alguém tem que ir lá... Eu sei disso, Matilde, responde o Pai secamente, eu sei o que tenho que fazer, melhor do que tu! Sou marido dela! E eu sou a irmã, repete a Matilde zangada, basta! soa a voz de comando do Avô Bernardes, temos que analisar a situação calmamente, diz, a única certeza que temos é que há um corpo, um corpo de uma mulher que pode ou não ser a Clarinha. Por isso é que alguém tem que ir lá e identificar, insiste a Matilde, certo, concorda a Teresa, mas a Clarinha é adoptada, como é que a vão identificar? Parece que a Tia levantou uma questão pertinente, ficam todos calados por uns minutos, o que é isso? Adoptada? Mais uma palavra para a minha lista, pensa. Penso que a

O DIÁRIO DO BEBÉ PARTE II

  Olá, olá, mas quem é esta de fato de treino que me desafia para uma corrida contra o aspirador? Deve ser a senhora que vem limpar a casa, ouvi a Avó Dalena dizer ao Pai que é melhor opção, ele precisa de ajuda. A Avó suspira, o Pai confessa abertamente que não tem tempo para isso, mas a Avó diz que trata de tudo. E, aqui entra a D.Filomena que me faz cocegas na barriga e prepara umas sopas fabulosas, creio que segue as instruções das Avós. Este domingo, vamos almoçar em casa da Tia Carolina, ainda estou um pouco perdido a perceber quem é irmão de quem, mas estou rabugento, testo a paciência do Pai até ao limite. Chegamos atrasados, os dois bastante mal humorados, mas o Pai sabe como contornar o assunto e distribui beijinhos, apertos de mãos e sorrisos pela multidão. Sou salvo pela prima Francisca que me leva para a cozinha e me dá a sopa, ouço os adultos rirem-se alto, vai ser uma tarde divertida. Agora, pergunta a Francisca, que achas de uma pequena sesta? e tira-me da cadeira, igno

O DIÁRIO DO BEBÉ

  Ai, mas porque é que têm que estar sempre a fotografar-me com o telemóvel? Vá lá, Francisco, olha para cá...olha, Matilde, não é tão engraçado quando sorri? e eu tenho uma vontade louca de deitar a língua de fora. Não o faço para não ofender as pessoas como disse o meu Pai muito sério uma vez... ele fala comigo como se eu fosse um adulto, ouço muitas vezes a avó criticá-lo por isso. Coitado, nunca esperou ficar sozinho comigo, sei que há uma história qualquer relacionada com a minha Mãe, raramente falam dela. Resumindo: vivo sozinho com o Pai, quando ele está de serviço, fico em casa de uma das avós e se estiver livre ao fim de semana, vamos à natação juntos. Para reforçar os laços entre Pai e filho, explica e eu sorrio... não percebo nada do que ele diz, mas ele sorri também e eu sei que ele fica feliz. A família? Há os avós, os tios e tantos primos que acho que nunca vou decorar nomes, só a Tia Matilde tem quatro! Há também a Tia Teresa, uma mulher gorducha, muito simpática, sempre

O VOLUNTARIADO FIM

  Toma nota mentalmente para falar com a D. Eulália, as duas têm que dar uma limpadela a esta casa o mais depressa possível. O que é a Mãe do Mateus está a pensar? preocupa-se a Madalena, mas a senhora está no quarto do neto, encontrou dois sacos, abriu os armários, está a escolher roupa. A Madalena ajuda-a, o Pai do Mateus aproveitou e despejou o lixo que encontrou e despedem-se na rua, o casal vai buscar o Francisco ao infantário. Tive tanta vergonha ao ver aquela casa tão desarrumada, desabafa com a Teresa, não foi isto que lhe ensinei! Onde é que eu falhei? repete, mas a Teresa abana a cabeça, a partir de certa altura, os filhos voam sozinhos, escolhem outras prioridades! A Sofia até se esquece de comer quando está a escrever um livro, tenho que me impor... A Madalena suspira, não está convencida, a Matilde tem a casa impecável apesar de ter um trabalho absorvente e quatro crianças, diz A D.Eulália está lá para ajudar, mas mesmo assim, há certas coisas que somos nós quem tem que or

O VOLUNTARIADO PARTE V

  A Madalena suspira de alívio, depois acusa a filha de ser uma irresponsável, o Inspector deixa-a desabafar, pois também ele quer dizer umas verdades à Clarinha. A Madalena telefona aos Pais do Mateus que ficam espantados com a notícia e sugerem um encontro, temos que nos revezar a tomar conta do miúdo, dizem, enquanto a Clarinha não regressa, o Mateus vai dizer-lhe para vir no primeiro avião. A Madalena tem sérias dúvidas de que a filha regresse de imediato, mas concorda com o encontro, pode coordenar melhor o trabalho. Telefonam também da ONG, estão verdadeiramente surpreendidos pela atitude da Clarinha, ela apenas disse que estava a pensar em tirar uns dias de férias, explicam, achamos isso natural... Com a Clarinha, nada é natural, murmura a Madalena baixinho, mas limita-se a agradecer. Não sei, Rita, não sei, confessa à irmã mais tarde, tenho que me acalmar, porque acho que lhe vou bater quando ela estiver à minha frente. Sabes que nunca bati aos meus filhos, sempre tentei resolv

O VOLUNTARIADO PARTE IV

  O amigo do Bernardo não sabe nada, acaba de regressar de uma missão muito complicada, está a gozar uns merecidos dias de descanso. Posso contactar a responsável pelo Departamento, diz, mas o Bernardo agradece, vamos tentar saber isso doutra forma, responde. O Inspector Bernardes chega tarde, está cansado, passou horas numa reunião para reverem o procedimento num determinado caso e os intervenientes não estão de acordo. Tudo o que quer é deitar-se e dormir, uma mulher nervosa que não é coerente não faz parte dos planos. Tem calma, Madalena, repete, respira fundo...agora conta-me tudo. Do princípio... e senta-se resignado no banco da cozinha. A mulher explica tudo o que aconteceu, acho que vais ter que falar com os teus amigos dos Serviços de Fronteiras, tenho quase a certeza de que ela foi ter com o Matias, concluí. O Inspector suspira, mas o que é que se passa com aquela rapariga? É muito louvável o que faz, mas a responsabilidade agora é outra... e não posso estar sempre a pedir fav

O VOLUNTARIADO PARTE III

  Ás oito e meia, a Clarinha ainda não apareceu, a Madalena tenta o telemóvel, vai directo às mensagens. Telefona para a ONG, mas ninguém atende, a central indica apenas o numero do oficial de serviço e a Madalena decide não telefonar. Há rotatividade nessa função, a pessoa que a atender pode até nem conhecer a filha e fica parada no meio do corredor sem saber o que fazer. De repente, alguma coisa faz click e a Madalena diz alto, não, ela não ia fazer isso! O telefone toca, é a sogra da filha, pede desculpa por a incomodar, mas recebeu um telefonema do Mateus, muito preocupado, porque não consegue contactar a mulher. A D.Madalena sabe alguma coisa? pergunta e a Madalena suspira, a Clarinha apareceu aqui às oito da manhã, deixou-me o menino e diz que ia trabalhar até tarde. Não atende o telemóvel, já não consigo telefonar para a ONG. A sogra fica calada uns minutos, não estará com a irmã ou com algum amigo e esqueceu-se das horas? sugere, não, não, a Clarinha não faria isso, interrompe

O VOLUNTARIADO PARTE II

  A Rita decide contar à Madalena, o Gonçalo não concorda, mas a Rita acha que a irmã ficará aborrecida se ela não tocar no assunto. Felizmente, a Clarinha já tinha abordado o assunto, a Madalena está enervada, irritada, não sei o que se passa na cabeça daquela minha filha!!! desabafa. A Rita não sabe o que dizer, acho que é uma irresponsabilidade, opina, a Clarinha sempre foi uma pessoa inquieta, mas nestes últimos anos...não sei, parece estar mais calma, mais responsável. Não, não! interrompe a irmã, a Clarinha é empenhada, luta pelos objectivos, mas continua a não pesar os prós e os contra! Não há nada de mal em arriscar, diz a Rita calmamente, mas arriscar com a vida do filho...não posso concordar. Ninguém concorda, insiste a Madalena, e a questão fundamental é que a Clarinha está a ignorar as opiniões dos outros e o Mateus está a ficar doido com as discussões. A Rita cala-se, compreende o dilema da irmã, mas o que aconselhar quando a sobrinha está a ser teimosa e se recusa a ouvir

O VOLUNTARIADO

  Sinto-me presa, confessa a Clarinha à Rita, estão as duas sozinhas na sala, a Francisca ofereceu-se para ir até ao parque com o bebé. A Clarinha está nervosa, nota a Rita, o filho olha desconfiado para as pessoas e aplaude a ideia da filha, o ar fresco, as pessoas a passarem, devem distrair o sobrinho-neto. O Mateus quer voltar ao terreno, acha que é uma mais valia para o CV profissional, conta a Clarinha, já estabeleceu contactos com os Médicos Sem Fronteiras e eu... também quero ir! E o teu filho? pergunta a Rita, não o podes levar, é muito pequeno! e a sobrinha abana a cabeça, claro que não o posso levar! Sei isso muito bem, mas sinto que estou aqui sem fazer nada, gosto de andar em movimento... Oh, Clarinha, mas quando engravidaste, sabias que isto ia acontecer, o teu filho é a tua prioridade, exclama a Rita, e podes fazer muita coisa para ajudar os outros! Mas é isto que eu gosto de fazer, ir para fora, ajudar as vitimas de violência da guerra, fome, protesta a Clarinha e a tia

O FIM DE SEMANA FIM

  O Bruno está a dormir quando chegamos ao Hospital, a enfermeira diz-nos que está a reagir bem ao tratamento e a Matilde senta-se na cadeira ao lado da cama. O meu telemóvel vibra, saio da enfermaria para falar com a Madalena, a Marina tem uma ligeira otite, está sem febre, mas o pediatra medicou-a, conta, se houver alguma alteração, aviso. E, o Bruno? Explico-lhe a situação, a Madalena despede-se e eu volto para a enfermaria. O Bruno já acordou, quis ir para o colo da Mãe, sorri quando me vê, mas volta a encostar-se à Matilde. É melhor ires trabalhar, aconselha a Matilde, é escusado estarmos os dois aqui, se houver alguma alteração, eu telefono-te. Aceno com a cabeça, até tenho trabalho acumulado, tenho mesmo que ajudar o Gustavo e dou um beijo aos dois. O meu cunhado fica admirado quando me vê, não ias ficar no Hospital? pergunta, mas noto-lhe um certo alívio no olhar. Temos algum trabalho atrasado, estamos a ponderar contratar mais alguém, mas até agora não encontramos ninguém com

O FIM DE SEMANA PARTE V

  Está tudo combinado para passarmos o fim de semana fora, mas naquela noite, um dos gémeos acorda aflito, não consegue respirar. É a noite de folga da D. Eulália, a Matilde tem que ficar com os miúdos, vou sozinho para a urgência. Meia hora depois, aparecem o Gustavo e o meu sogro, não sei de nada ainda, estão a fazer-lhe exames, explico. Começo a desesperar, ninguém me diz nada, o meu sogro aconselha-me calma e estou pronto a invadir a sala de tratamento quando o médico aparece. É uma otite grave, esclarece, estamos a dar-lhe antibióticos, gostaríamos que ficasse cá hoje para observação. Amanhã, se tudo correr bem, pode ir para casa. E a irmã? pergunto, ele tem uma irmã gémea, ela também pode ter? É possível, concorda o médico, pode ser vista aqui na urgência ou pelo vosso pediatra. Posso vê-lo? mas o médico abana a cabeça, agora não, está a descansar, é melhor voltar à hora de visita. Respiro fundo, o Inspector dá-me uma palmada nas costas, vamos tomar o pequeno almoço na confeitari

O FIM DE SEMANA PARTE IV

  A Margarida inspira fundo, prepara-se para contar as aventuras que teve com a Avô, mas um dos gémeos derruba o copo e a água espalha por todo o lado. Agora sei que estou em casa, sussurro e a Matilde ri-se enquanto a D. Eulália tenta remediar o desastre. Temos mesmo que organizar as coisas doutra maneira, diz a Matilde quando nos deitamos, acreditas que já estou exausta e só regressamos há quatro horas? A D. Eulália facilita imenso a situação, mas mesmo assim... Os gémeos estão a crescer, interrompo, para o ano, vão ficar o dia inteiro no infantário, vamos ter mais tempo livre. Achas que sim? repete a Matilde, mas nem espera resposta, mal deita a cabeça na almofada, adormece de imediato. É num almoço de domingo, em família que voltamos a discutir as saídas a dois. Claro que sim, não podemos ficar com os quatro juntos, mas eu e a Aida revezamo-nos, concorda a Madalena, a D. Eulália tem o fim de semana livre e vocês também. Não será demais? pergunta a Matilde, preocupada, mas a Mãe aba