O DIÁRIO DO BEBÉ PARTE III

 

Quando entramos na sala, estão todos a falar ao mesmo tempo, muito excitados e a Avó Dalena pergunta, mas o que é que aconteceu?

Recebi uma mensagem de um amigo da ONG, explica o Pai, recuperaram um corpo de mulher, pode ser a Clarinha.

Não sabes, interrompe a Matilde, ainda não há identificação formal, alguém tem que ir lá...

Eu sei disso, Matilde, responde o Pai secamente, eu sei o que tenho que fazer, melhor do que tu! Sou marido dela!

E eu sou a irmã, repete a Matilde zangada, basta! soa a voz de comando do Avô Bernardes, temos que analisar a situação calmamente, diz, a única certeza que temos é que há um corpo, um corpo de uma mulher que pode ou não ser a Clarinha.

Por isso é que alguém tem que ir lá e identificar, insiste a Matilde, certo, concorda a Teresa, mas a Clarinha é adoptada, como é que a vão identificar?

Parece que a Tia levantou uma questão pertinente, ficam todos calados por uns minutos, o que é isso? Adoptada? Mais uma palavra para a minha lista, pensa.

Penso que a ONG terá feito um arquivo com amostras de sangue e afins de cada funcionário, alguns vão para locais perigosos, esclarece o Avô, e o dentista deve ter radiografias dos dentes da Clarinha, acrescenta o Pai.

E tem aquele sinal que parece uma âncora nas costas, lembra a Avó Dalena, muito pálida, a Francisca apressa-se a tirar-me dos braços dela.

Vou contactar a Embaixada, a ONG, tenho que arranjar forma de ir até lá, decide o Pai, eu vou também, e o Avô Bernardes está muito sério.

Talvez seja melhor eu ir também, declara o tio Gustavo, não, Gustavo, protesta de imediato o Avô, preciso que fiques aqui, no centro das operações!

O tio ri-se, isto não é uma investigação criminal, Pai, troça, mas cala-se de imediato, porque percebe que o Avô tem razão: é uma investigação!

A Francisca parte a fatia de bolo em pedacinhos, deixa-me comer com as mãos.

Hoje, não podem fazer nada, intervém o Tio António, é domingo e todos suspiram.

Não sei se de alívio, ou frustração, não há dúvida de que hoje estou a aprender muitas palavras novas!

CONTINUA



Comentários

Enfim, uma família em alvoroço, em pânico, e uma criança absorvendo tudo. Não é caso para menos! Gostei

Beijo. Bom dia.
Elvira Carvalho disse…
Gostei de ler. Se de facto for a Clarinha tenho muita pena. Ainda tenho esperança de que ela por algum motivo não tenha embarcado naquele avião. Bem sei que pensei que a rebeldia dela precisava de uma lição, mas a morte não é lição para ninguém. Enfim, é a vida e nela estas coisas acontecem.
Abraço e saúde
Sou da opinião da Elvira. Gostaria que ela não tivesse embarcado...

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