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A mostrar mensagens de maio, 2022

O CASO PARTE II

  Talvez o Pai me responda, mas sinto que está cansado, desiludido, não, tenho que o deixar descansar. O Pai dá-me um beijo no topo da cabeça, abre a porta do quarto devagarinho para não incomodar a Mãe e eu fecho-me no meu a pensar em tudo o que aconteceu. No dia seguinte, chego tarde e cansada, o Armando encheu o meu " voicemail" com mensagens que ignoro e apago rapidamente. Encontro o carrinho dos gémeos no corredor, a Matilde deve estar na cozinha a conversar com a Mãe, suponho, cada uma com um bebé ao colo. O quê??? a voz da Matilde soa aguda, o Pai suspeita que o Meireles é corrupto??? Sei que és amiga dele, diz a Mãe, tive um caso com ele, corrige a Matilde, e foi, continua a ser um bom amigo; é difícil acreditar que ele tenha feito isso! A Mãe suspira, o Pai também não acredita! Acha que há qualquer coisa escondida nesta história, só não sabe bem o quê, explica, o Meireles " desapareceu" e isso não abona nada a seu favor! " Desapareceu" como? pergu

O CASO

  Com a tragédia a tocar-nos de perto, não tenho coragem de dizer aos Pais que quero sair de casa, que eu e o Armando falamos em morar juntos como um casal. Não vejo qual é o problema, insiste, trabalhamos os dois, teremos que controlar os gastos, mas creio que podemos dar o salto. Eu estou hesitante, há qualquer coisa nele que não " bate certo", explico à Matilde, mas a minha irmã, ocupada a tentar acalmar dois bebés furiosos , encolhe os ombros, então não arrisques! aconselha. Nessa noite, o Armando exige uma resposta, torce-me o braço e o olhar é frio como o aço. Liberto o braço, o Armando ergue a mão, mas eu esquivo-me e ele tropeça e caí. Ah, peste! Vais pagar tudo! grita, mas eu volto a esquivar-me e a queda é aparatosa. Esqueces-te que sou filha de um Inspector, aprendi muito sobre defesa pessoal, troço, nem pensar viver contigo!  O Armando está furioso, ainda mais porque a malta que assistiu ao " confronto " no parque de estacionamento ri-se. Deixa-me sozinh

A GOVERNANTA FIM

  A D.Carolina começa a gritar então, toda a dor que escondeu da família liberta-se e eu apenas a escuto. Ouço-a suspirar por fim, estendo-lhe a caixa com lenços, o relógio apita e desligo o forno. Pode ajudar-me, D.Margarida? pede a D.Carolina, preciso de ir à casa de banho, quero lavar a cara antes que algum dos meus filhos chegue. É uma caminhada lenta até à casa de banho, a D.Carolina recusa-se a usar a cadeira de rodas, a fisioterapeuta diz que tenho que andar, explica, demore o tempo que demore! Deixo-a na casa de banho, chame quando quiser, digo e volto para a cozinha, acabo de pôr a mesa. Entretanto, a Inês chega, como sempre excitada, pergunta pela Mãe, peço-lhe para ir ter com ela à casa de banho. Mas primeiro lave essas mãos! grito, mas a Inês ri-se, desaparece no corredor, ouço-a a brincar com a Mãe. O Matias e o Edgar entram a discutir, qualquer coisa sobre o carro que ficou mal estacionado, não te pago a multa, declara o Matias e o Edgar fica indignado, começa a protestar

A GOVERNANTA PARTE V

  Só queria saber se a Carolina passou bem a noite, diz a irmã, tentei falar com a Filipa, mas ela tem o telemóvel desligado. Estão na fisioterapia, respondo, já tinham partido quando cheguei. O Edgar disse-me que a D.Carolina não esteve muito confortável durante a noite, que teve que ajudar a irmã a mudá-la de posição. Isto vai demorar o seu tempo. A D.Teresa suspira, sinto que a minha irmã está desanimada, confessa, não sei como a posso ajudar. Basta estar presente, repito o que tantas vezes me foi dito e que aprendi ser verdade, às vezes, é tudo o que é preciso, continuo, e a D.Carolina sabe que pode contar com a D.Teresa. Estou sempre a pensar que podia fazer mais alguma coisa, interrompe a D.Teresa, ela e o Gustavo sempre foram um casal tão unido. Mas a D.Carolina é uma mulher forte, tem é que recuperar e organizar-se, atalho, temos que lhe dar tempo e espaço para que o consiga. Acho que estou a ser muito protectora, concorda a D. Teresa, o Pedro também me acusa disso! Ok, diga-lh

A GOVERNANTA PARTE IV

Ouço uma gargalhada, parece vir do quarto da D.Carolina, curiosa bato à porta e entro. A Inês está com um livro na mão, declama um trecho, acabo por me rir também, a voz, a cara de Inês são muito expressivas. Melhor parares agora, Inês, não aguento muito mais, pede a D. Carolina, tinha-me esquecido das tuas vozes. Mas esse é o meu objectivo, diz a Inês, divertir a Mãe, mantê-la feliz e estavam os manos preocupados! Preocupados com quê? questiona a Mãe, mas a filha encolhe os ombros, dá-lhe um beijo e saí do quarto. Ouço-a falar com os sobrinhos, já está a preparar qualquer coisa, espero que não seja um jogo violento para revolucionar a casa. A D. Carolina suspira, arranjo-lhe as almofadas, posso ajudar em alguma coisa? mas a D.Carolina abana a cabeça, fecha os olhos. A Filipa chega pouco depois, deixo o jantar pronto no forno, alguém há-de fazer o molho para a salada, talvez o Edgar, não sei. Está muito desanimada, explico ao jantar, a Inês fê-la rir, aquela rapariga é muito expressiva

A GOVERNANTA PARTE III

  Antes de voltar para a cozinha, passo pelo quarto da D. Carolina, penso que ela está a dormir, mas ela chama-me. Não consigo dormir, explica, estou inquieta, um pouco dorida, mudo-lhe as almofadas, ajuda-a a sentar-se mais direita, obrigada, diz. Quer um chá, uma torrada? ofereço, mas a D.Carolina abana a cabeça, estou apenas cansada, afirma, a pensar porque é que isto aconteceu? Há coisas inexplicáveis, concordo, ainda hoje não consigo aceitar a morte do meu filho, mas a D.Carolina tem uma família muito unida, não digo que a dor desapareça, afirmo, mas continuamos a viver. Nunca pensei que fosse ele o primeiro a partir, continua a D.Carolina, tinha tantos planos!!! e suspira. A senhora pode continuar esses planos, sugiro, tem o tempo ocupado, os seus filhos ajudam. A D.Carolina sorri, mas não hoje! responde, é a minha vez de sorrir, temos todo o tempo do Mundo! Os netos devem estar a chegar e a Inês também! Que tal se lancharem aqui tipo de piquenique? Mas a D.Carolina confessa que

A GOVERNANTA PARTE II

  E u sei isso muito bem! riposta a Inês, mas posso ler em voz alta, fazer vozes para cada personagem e a Mãe vai adorar, concluí. Não estamos a falar disse, corrige a Filipa e a irmã encolhe os ombros, ajudo-a também a vestir e a despir-se, ok? Que complicados vocês são! Eu vou mudar-me para cá, explica a Filipa, pelas razões óbvias. Só enquanto a Mãe precisar...acrescenta, entre todos, vamos tentar que a Mãe tenha uma recuperação fácil. Os irmãos ficam em silêncio por uns minutos, não sabem muito bem como é que a Mãe está a aceitar a morte do Pai e eu suspiro também. Isso também me está a preocupar, não sei o que esperar, devo ou não falar com ela sobre o Dr Gustavo? confesso, observa-a, se ela falar no assunto, fala, caso contrário, conta-lhe anedotas, inventa histórias engraçadas, fá-la rir, aconselha o meu marido. Quando A D.Carolina entra, a Filipa empurra a cadeira de rodas, a primeira coisa que noto é que está mais magra, os olhos muito tristes, aperta-me a mão quando me vê, ob

A GOVERNANTA

  E agora? O que é que eu faço? e o meu marido diz, o que sempre fizeste: apoio, conforto...tudo o que eles precisam agora! Na manhã do funeral, a Filipa vem ter comigo à cozinha e chora abraçada a mim, os rapazes pouco falam e a Inês está verdadeiramente abalada. O Dr Tadeu aparece com os filhos uns dias depois, precisam de um lanche mágico, explica, e sei que a D.Margarida é a pessoa ideal para que tal aconteça! Sorrio, as crianças abraçam-me e eu preparo um manjar digno dos Deuses. A Inês deve ter ouvido as vozes dos sobrinhos, aparece na cozinha, organiza um jogo simples e a cozinha enche-se de luz e barulho novamente. Não te dizia? Estás diferente, estás a sorrir! observa o meu marido, foi muito bom ter lá os meninos e ver a Inês a rir-se! concordo, e a Filipa telefonou, a D. Carolina vai ter alta e vem para casa no fim de semana. E que tal está? pergunta o Carlos, encolho os ombros, precisa de fazer fisioterapia, vai demorar alguns meses a recuperar a mobilidade total, a Filipa a

O ACAMPAMENTO FIM

  Sejam responsáveis, é o conselho que a Mãe dá antes de fechar a porta e ir passar uns dias até à vila " rupestre" como lhe chama a Inês. A D. Margarida tem sérias dúvidas, tem a certeza de que vai encontrar a casa em rebuliço quando chegar de manhã. Não pelos rapazes, desabafa com a Teresa, mas por causa da Inês, aquela rapariga nunca está quieta... e quando está, é melhor nem pensar.... Telefona-me, aconselha a Teresa, ou à Filipa e uma de nós vem cá impor a ordem. Não há problema no primeiro dia, o Matias e o Edgar levantam-se a horas, deixam os quartos mais ou menos arrumados. A Inês demora um pouco mais a aparecer na cozinha, mas está vestida e penteada, os irmãos criticam a indumentária, mas a irmã diz que vai ter um ensaio e o tema é " gótico". E tu sabes o que é isso? brinca o Matias, claro que sim, pensas que sou parva??? protesta a Inês e os irmãos riem-se. A Inês fica muito ofendida, a D. Margarida está indecisa, não sabe o que dizer para apaziguar os ân

O ACAMPAMENTO PARTE IV

  Pois, o Gonçalo também só fala do acampamento, suspira a Sofia, está um chato, quer que eu participe no próximo ano, mas eu já tenho planos. Que planos? pergunta a Inês, sabes aqueles cursos de Verão na Inglaterra, na Irlanda? responde a Sofia, eu descobri um curso que me interessa, escrita criativa em inglês, explica. O quê? Escrita criativa??? repete a prima, mas não há cá? a Sofia abana a cabeça, quero controlar a tradução para inglês dos meus livros! afirma. É a vez da Inês abanar a cabeça, está tudo doido, " apanharam" a doença da Tia Laura, só pode ser isso, murmura. O Edgar está todo entusiasmado agora que definiu um rumo, não se preocupa tanto com o que o grupo de "idiotas" diz e candidata-se a outro grupo de trabalho. As pessoas são diferentes, mais receptivas, mais criativas e o Edgar descontraí, empenha-se. Os Pais suspiram de alívio, o Miguel conta-lhe que recebeu uma oferta de trabalho, foi o Tadeu quem me recomendou, explica, tenho a primeira entrevi

O ACAMPAMENTO PARTE III

  A Tia Laura tem um problema médico, responde o Pai lentamente, ela vê o Mundo de uma outra perspectiva. Para nós, pode estar errada, mas ela está totalmente convencida que é o caminho certo. O que o Pai quer dizer, interrompe a Mãe, é que há pessoas que não se adaptam e outras que são arrogantes, que nos querem impor as suas ideias e a sua forma de viver. Eu sou exemplo disso: como não obedeço aos parâmetros da sociedade, acham que sou excêntrica. O Gonçalo abre a boca, muda de ideias e não diz mais nada. Mas que ideia foi a tua de falares na Tia Laura? questiona a Sofia quando ficam sós, não sabes como o Pai fica magoado quando se fala nela? É a irmã gémea dele, está fechada naquela clínica há anos... O Gonçalo encolhe os ombros, não foi por mal, diz, odeio este tipo de segredos! Não é um segredo, corrige a irmã, não a escondemos, apenas não falamos muito nela!, mas para o Gonçalo é a mesma coisa! Entretanto, o Edgar explica detalhadamente tudo o que fez no acampamento, está entusia

O ACAMPAMENTO PARTE II

Por isso, o Edgar não fica muito satisfeito quando o Pai lhe fala no acampamento, sente que está a ser manipulado, a ser tratado como um miúdo idiota, mas isso não é para miúdos? protesta. Então, não te comportes como um, diz a Mãe secamente, o Gonçalo explica-te tudo, podes ser um monitor sénior, e tu gostas de desporto! frisa. O Gonçalo sorri, trouxe os panfletos, mostra o email que recebeu da organização, responde claramente à todas as questões do Edgar que começa a ficar interessado. Os Pais respiram aliviados, agora só falta encontrar alguma coisa para a Inês fazer, pensam, mas a filha é tão viva que já deve ter planos. O Edgar contacta a organização, aceitam a inscrição como monitor sénior, recebe um mail com todas as instruções. Na véspera da partida, avisa o primo para fingir que não o conhece, o Gonçalo encolhe os ombros, tudo bem, pá, não te chateies com isso! exclama. Mas o Edgar escusa de se preocupar, no acampamento separam-nos por idades, têm o cuidado de não terem no mes

O ACAMPAMENTO

  Estou muito preocupado com o Miguel e com o Edgar, confessa o Gustavo ao jantar à Carolina, estão os dois sozinhos, a Inês ficou em casa de uma amiga, o Matias está a terminar um projecto e o Edgar está fechado no quarto amuado. Os Pais bem tentaram perceber o que aconteceu, mas o Edgar recusou-se a falar e fechou-se no quarto com uma tosta mista, um sumo de laranja e bolachas a ouvir música bem alto. Mais com o Edgar do que com o Miguel, continua o Gustavo, o Miguel só precisa de se organizar, esquecer a Bia, até mudar de empresa, mas o Edgar é um sonhador, está literalmente com a cabeça nas nuvens e a queda vai ser monumental quando se aperceber que não pode controlar tudo. Deve ter sido isso que aconteceu hoje, concorda a Carolina, ninguém fez caso da opinião dele e ele amuou. Estava aqui a pensar que talvez fosse uma boa ideia ele ir para fora nas férias. Fora? Para o estrangeiro? repete o marido, mas a Carolina abana a cabeça, não, não, a Teresa falou-me de um acampamento, o Gon

A ENTREVISTA FIM

  Não tenho sorte nenhuma com as mulheres! A Bia foi uma desilusão, mas a Isaura não!, queixa-se o Miguel quando lhe conto, mas diz-me, qual foi a tua? pergunta-me. Encolho os ombros, estamos na biblioteca, o Luís e a Matilde estão numa oficina de leitura, estamos no bar a beber um café. Suspiro, não sei, respondo, jantamos juntos, a conversa era interessante, acompanhei-a a casa, subi...e a Isaura até não é o meu género, acrescento, mas ao que saiba, não tinhas nada sério com ela! Pois não, concorda o meu cunhado, era alguém com quem podia conversar, que tinha alguma coisa de interessante para dizer. Fico calado, a Isaura é realmente uma mulher interessante, não posso negar isso. O que é que vais fazer? repito e o Miguel volta a encolher os ombros, como dizes, não tenho uma relação formal com ela, não fomos tão longe como tu, frisa, vou continuar a sair com ela, preciso de novos amigos, com esta história do divórcio, perdi alguns, confessa. Não eram teus amigos então! exclamo, sei que

A ENTREVISTA PARTE V

  Com a inauguração da unidade, concluí-se a primeira parte do projecto, para já vai funcionar só para os doentes da clínica, mas entramos agora na fase de negociar acordos com outras unidades de saúde. Talvez a Filipa esteja interessada, penso, a empregada estende-me um tabuleiro com bebidas, escolho um sumo de laranja, procuro a Isaura, mas ela não está presente. Nem tem atendido as minhas chamadas, deduzo que está ocupada com o novo cargo como Directora da ala (a Isaura deu a entender que isso estava em discussão) e fico surpreendido quando o Dr Meira me apresenta a Dra Luísa Cândido como tal. A Dra sorri-me, dá-me os parabéns, gosta da disposição, das cores e afasta-se, tenho mesmo que cumprimentar o Director, desculpa-se, mas telefono-lhe para marcarmos uma reunião? Para quê? murmuro, esta parte do projecto está concluída, a logística da ala já não é comigo e ligo para a Isaura. Estou aqui, diz uma voz atrás de mim, a Isaura está ofegante, estou atrasada, mas o caso era um pouco c

A ENTREVISTA PARTE IV

  Jantamos tarde naquele dia, estamos tão cansados que resolvemos ficar na cafetaria, houve um atraso na entrega de um dos equipamentos e os testes demoraram mais tempo do que previsto. A Dra Isaura ficou satisfeita, eu suspirei de alívio pois a inauguração da ala está prevista para dali a dois dias e a empresa de catering precisa de ter acesso completo. Esta etapa está terminada, afirmo, a próxima pode precisar de algumas correcções, mas tenho a certeza de que vai correr tudo bem. A Isaura sorri, nota-se que está muito cansada e parece estar preocupada. Passa-se alguma coisa? pergunto e a Isaura encolhe os ombros, nada que eu não consiga resolver! Afinal, não vou ser nomeada Directora do Serviço, confessa. Também fiquei com essa impressão quando nos conhecemos, exclamo, mas o que é que sucedeu? Não sei bem, responde, mas eu vou ultrapassar a desilusão... Mas diz-me uma coisa, és cunhado do Miguel Rodrigues? Sorrio, sim, fui casado com a irmã mais velha, a Filipa, confirmo, e temos doi

A ENTREVISTA PARTE III

  E falaram das respectivas famílias nesses quinze minutos? goza a Filipa, mas o irmão abana a cabeça, não, de vez em quando, vamos tomar um copo juntos, conta, e a coincidência de ela ser médica e eu ter uma irmã médica veio à baila. Acabei por falar também no Tadeu, continua, e se ela passou o teu nome a alguém... bem, não sei! Quem é a médica? pergunto e quando o Miguel diz que se chama Isaura Meira, Meira? repito, esse é o nome do Director Clínico, será filha, prima ou mulher? acrescento malicioso. Seja como for, atalha a Filipa, eles contactaram-te porque informaram-se sobre o trabalho que desenvolveste, aliás, até pode ter sido um dos teus Professores quem te recomendou! Mas estou curioso, vou querer saber mais sobre essa Dra Isaura Meira. Ocupo o resto da semana a fazer pesquisa, esboço um projecto que discuto detalhadamente com o Director Clínico e o responsável financeiro naquela sexta-feira. Na segunda-feira, vou ver o espaço, falar com os empreiteiros, por isso, nas semanas

A ENTREVISTA PARTE II

  Sou recebido pelo Director Geral, o Director Clínico e o responsável pelas Finanças, vão directos ao assunto, queremos avançar rapidamente com o projecto, explicam. Estão a planear em expandir a área de exames e diagnóstico, querem apostar na tecnologia de ponta, necessitamos de alguém capaz de gerir toda a situação e achamos que o Dr Tadeu é o homem que procuramos, diz o Director Clínico. Faço algumas perguntas sobre os objectivos, prazos, orçamentos, a explicação dada pelo responsável financeiro é satisfatória. Há ainda alguma questão que queria esclarecer? pergunta-me o Director Geral frontalmente. Várias, mas penso que terei reuniões separadas com cada um dos senhores, respondo, esses pormenores serão esclarecidos então. Então, aceita a nossa proposta? interrompe o Director Clínico, terei todo o gosto em fazer parte da equipa, confirmo. Apertamos as mãos, a primeira reunião com o Director Clínico e o financeiro fica já marcada para 6ª Feira, às duas da tarde. A Filipa fica conten

A ENTREVISTA

  Ok, não sou perfeito.... Mas a Filipa também não o é. Ok, confesso que me senti um pouco à margem no seio daquela família numerosa e barulhenta, a minha é mais formal, mais rígida. Não posso negar que me abriram a casa, o coração, fizeram sentir-me parte do núcleo e é isso que quero para o Luís e a Matilde, é um pacto que eu e a Filipa fizemos quando nos divorciamos. Tentamos ser o mais honestos possíveis, queremos que eles confiem nos Pais e falem connosco sobre tudo o que os apoquenta. Claro que sei que vão ter segredos, mas quero que eles percebam que estamos presentes, prontos para ajudar, aconselhar. O divórcio foi um pouco complicado, acabei por vender a minha quota da clínica à Filipa e ando à procura de um novo emprego. Estou a preparar-me para ir buscar os miúdos ao colégio quando o telemóvel toca. Apresentam-se, é do gabinete de Recursos Humanos de uma clínica conceituada, gostariam de saber se posso ir a uma entrevista na próxima 2ª Feira. Claro que sim, respondo, combinam

PEDRO FIM

  A Maria Rosa está encantada, fala pelos cotovelos, descreve-me tudo, o monitor disse-lhe que há um workshop de pintura à tarde, posso ir? pede. Porque não? concordo, nunca ela falou tanto, está descontraída, está sempre tão tensa na presença da Mãe. Não, não posso pensar que é culpa da Beatriz, mas os miúdos percebem facilmente a tensão nos adultos e reflecte-se no comportamento, ouço a voz da Teresa na minha mente e sorrio. Aprendo muito coisa sobre a minha filha naqueles quatro dias: é bem-disposta, divertida, enquadra-se facilmente no grupo. Quando regressamos, a Maria Rosa tem novos amigos, os Pais ficaram com os nossos contactos, prometeram telefonar para combinar um encontro no parque ou um almoço ou festa de aniversário. O que vai dizer a Beatriz a tudo isto? Como é que vamos viver daqui para a frente? Será que a Mãe a conseguiu convencer que não está a agir correctamente? Que tem que pensar na filha e não nela? Suspiro, a Maria Rosa pergunta-me se me sinto bem, sorrio, claro

PEDRO PARTE V

  O advogado da Beatriz está à nossa espera na porta do colégio, tens o direito de passar estes quatro dias com a Maria Rosa, explica o Dr Ribeiro, e estamos aqui para nos assegurar que sais daqui com ela! A Beatriz não pode recusar. Temos mesmo que fazer isto? pergunto, quero evitar qualquer tipo de problema! Mas a Beatriz está a tornar isto um problema, frisa o advogado dela. A directora do colégio não sabe bem o que fazer, lê atentamente os documentos que os advogados lhe mostram e pede a uma auxiliar para ir buscar a Maria Rosa. São cinco horas, as aulas estão a terminar, ouvimos já gritos de criança, estou a ficar ansioso. Batem a porta, abre-se, mas não é a auxiliar que entra, é a minha sogra que segura a mão de uma Maria Rosa que me olha desconfiada. Aqui está a " encomenda", diz, tenho a certeza de que se vão divertir muito os dois. Não te preocupes com a Beatriz, acrescenta, eu volto a conversar com ela. Sorrio, não tenho palavras para lhe agradecer, despedimos-nos à

PEDRO PARTE IV

  O Miguel vem passar uns dias comigo e a Carolina e o Gustavo aparecem de surpresa, entusiasmados com o novo projecto da casa de férias. O Artur e a Clara, o casal que conheci no ginásio, apresentaram-me a amigos deles e começo a ter um circulo de pessoas com quem posso sair. O emprego é desafiante, sinto-me realizado e a única pedra no sapato é o facto de estar a ter problemas com a Beatriz por causa da Maria Rosa. Telefonei-lhe, a miúda vinha connosco, conta a Carolina, mas a Beatriz foi irredutível. Não a compreendo, és o Pai da filha dela! Tens conseguido falar com ela, com a Maria Rosa? Suspiro, ela está sempre a dar desculpas para eu não falar com a miúda, respondo, terei que falar com o meu advogado, porque está estipulado no acordo que a Maria Rosa passe os próximos feriados comigo. Aquele casal amigo deu-me uma dica muito boa, há aqui perto um parque temático para crianças e sei que a Maria Rosa ia gostar. Porque é que as pessoas complicam as situações? comenta o Gustavo, por

PEDRO PARTE III

  A conversa é agradável, a comida óptima e quando nos despedimos, trocamos os nºs de telemóvel. Volto para casa, tomo um duche e começo a abrir outras caixas, esta casa tem que estar em ordem. Telefono ao Miguel, ele tem um jogo esta tarde, está muito entusiasmado e por isso, a conversa é curta, mas estou feliz porque sinto que ele está interessado, integrado no grupo. Tento falar com a Maria Rosa, a Beatriz diz bruscamente que está numa festinha de anos, ok, respondo, telefono ao fim da tarde e a minha ex-companheira desliga antes de me despedir. Suspiro, a Beatriz está a ficar insuportável, penso e continuo com a tarefa em mãos. A Teresa telefona-me, quer saber se estou bem, está preocupada, já conheceste alguém? pergunta, não gosto de nada de saber que estás aí sozinha, sem uma rede de amigos, acrescenta. Rio-me, a minha mana mais nova sempre a pensar nos outros, és uma boa irmã, Teresa! comento, oh, diz a Teresa, conversamos mais uns minutos e desligamos. Estou tão concentrado na