A GOVERNANTA PARTE III

 

Antes de voltar para a cozinha, passo pelo quarto da D. Carolina, penso que ela está a dormir, mas ela chama-me.

Não consigo dormir, explica, estou inquieta, um pouco dorida, mudo-lhe as almofadas, ajuda-a a sentar-se mais direita, obrigada, diz.

Quer um chá, uma torrada? ofereço, mas a D.Carolina abana a cabeça, estou apenas cansada, afirma, a pensar porque é que isto aconteceu?

Há coisas inexplicáveis, concordo, ainda hoje não consigo aceitar a morte do meu filho, mas a D.Carolina tem uma família muito unida, não digo que a dor desapareça, afirmo, mas continuamos a viver.

Nunca pensei que fosse ele o primeiro a partir, continua a D.Carolina, tinha tantos planos!!! e suspira.

A senhora pode continuar esses planos, sugiro, tem o tempo ocupado, os seus filhos ajudam.

A D.Carolina sorri, mas não hoje! responde, é a minha vez de sorrir, temos todo o tempo do Mundo! Os netos devem estar a chegar e a Inês também! Que tal se lancharem aqui tipo de piquenique?

Mas a D.Carolina confessa que ainda não se sente preparada para ter os netos no quarto, podem vir cá falar comigo, contar-me o que fizeram na escola, não mais do que isso! pede.

Tocam à campainha, é o Dr Tadeu que traz os meninos, pergunta pela senhora, pode levar os meninos ao quarto enquanto lhes preparo o lanche e os miúdos desatam a correr, vou ser o primeiro, grita o Luís.

Nada de correrias e de gritarias, pede o Dr Tadeu que segue os filhos lentamente.

Ouço-os a conversar no quarto da avó, noto que o tom de voz da D. Carolina é mais forte, está mais animada.

O Dr Tadeu despede-se da sogra e dos filhos, estou atrasado para uma reunião, justifica e cruza-se com a Inês quando saí.

Olha, olha, os meus sobrinhos favoritos já cá estão! diz e o Luís, com as mãos sujas do bolo de chocolate, replica, somos os únicos! e a Inês finge-se espantada, tens a certeza disso? goza e a Matilde desata a rir.

Pronto, acabou a brincadeira! Ainda se engasgam! interrompo, vá falar com a Mãe, veja se ela já quer lanchar.

A Inês sorri, desaparece no corredor e eu trato de limpar as mãos aos dois malandros que disputam agora a última fatia de bola.

Não, já comeram mais do que deviam, declaro, porque é que não vão brincar agora?

CONTINUA

Comentários

Mais um capítulo sedutor de ler. Acompanhando ...
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Cumprimentos poéticos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Elvira Carvalho disse…
Esta D. Margarida foi sempre mais como uma pessoa de família do que governanta. Deve ter encontrado nos filhos e nos netos da patroa um lenitivo para o seu coração de mãe, aquando da morte do filho.
Abraço, saúde e boa semana
Gostei do episodio. As crianças por vezes ajuda a atenuar as coisas, mas cansam :))
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Coisas de uma Vida.

Beijos, e uma excelente semana.

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