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A mostrar mensagens de abril, 2021

A EXPLICAÇÃO - PARTE II

  Quero que fales com o Pedro, desabafa a Laura, quero que lhe digas que é absurdo ter as visitas ao Miguel controladas e ter que ter aquela estúpida da baby sitter sempre presente, desabafa, quero levar o Miguel para a Maiorca, mas ele diz não, fica na quinta contigo e com os avós. É um absurdo! repete. Foste tu que causaste isto tudo com os teus ataques de loucura, observa o Gonçalo, ele apenas protege o filho e já que falas na baby sitter, onde é que ela está? Supostamente, não deves ficar sozinha com o Miguel! Ah, o tom de voz da Laura é descontraído, estávamos na confeitaria, pedi-lhe para ir pagar e escapuli-me. O Gonçalo suspira, valha-me Deus, que mal fiz eu para me calhar esta maluca como irmã! pensa e procura o telemóvel. O que é que vais fazer? pergunta a irmã quando o vê com o telemóvel na mão, vou ligar ao Pedro, o que é que pensaste? responde o Gonçalo, o homem deve estar doido a tentar descobrir onde estás! Tu não regulas bem! NÃO! grita a Laura e a Rita, que está na coz

A EXPLICAÇÃO

  Tenho saudades do Clube, queixa-se a Rita naquele domingo. Ela e o Gonçalo saíram com uns amigos, a noite durou até às tantas e acabam de se levantar. Porquê? pergunta o Gonçalo concentrado a fazer a omolete e a Rita suspira. A Aída foi promovida, continua, o Nicolau está ocupado com as palestras, os seminários e tanto o Major como o António estão interessados na nova vida que têm. Não me interpretes mal, ainda bem que conseguiram estabilizar a vida, mas o Clube deixa de ser tão importante, acrescenta. As pessoas definem outras prioridades, observa o Gonçalo, mas tu também tens novas prioridades e estás feliz com isso. Estou a falar de coisas fora da órbita profissional, protesta a Rita, sinto falta dos debates, dos Mapas que o Major fazia para demonstrar as batalhas, até mesmo dos comentários irónicos do Bernardo. O Gonçalo fica pensativo, pousa o prato com a omolete em frente da Rita e diz, sentes falta de um filho? A Rita olha-o surpresa, podemos tentar, comenta o Gonçalo, sei que

O DIÁRIO DE MEIRELES - FIM

  O Inspector escuta-me atentamente e quando termina, diz, confirmam-se as suspeitas, terei que discutir o assunto com a Chefia para saber como proceder, acrescenta, quando é que tem que dar uma resposta? Suponho que na terça, quarta-feira, esclareço, ficou de me telefonar. Ok, obrigada, Meireles, observa o Inspector, tenho que consultar a Chefia. Até lá, nem uma palavra! Nem ao Mateus, nem ao Fonseca! repete. Aceno que sim, que compreendi e despeço-me. Suspiro aliviado quando entro no carro, até ligo o rádio para descontrair, a Cláudia é que não deve estar muito satisfeita, sussurro, terei que a recompensar de alguma maneira. Depreendo que é nessa altura (descobrirei anos mais tarde) que o Inpsector Bernardes liga ao Chefe da Brigada e lhe conta resumidamente a conversa que teve comigo. Então, o Tavares está preocupado com esse caso, exclama o Chefe, era o que suspeitávamos, quem é que ele quer proteger? Qual é a ligação que ele não quer que se investigue? Não conheço bem o caso, tere

O DIÁRIO DE MEIRELES - PARTE V

  A conversa demora cerca de dez minutos, o Inspector quer saber detalhes sobre uma operação que não é da nossa brigada, " mas implementaste o sistema de arquivo, deves saber como o contornar. Pagamos bem! Tens dois dias! e desliga. Fico a olhar para o écran com ar de idiota como descreve a Cláudia quando entra na sala, admirada por não ter tomado ainda duche, é para isso que temos duas casas de banho, sabes, diz. Não sei o que pensar, não sei o que fazer e a questão mais importante é, porquê eu? Sou vulnerável, fraco? Não estou com a corda na garganta, trabalhamos os dois, os meus Pais têm dinheiro. A razão principal é realmente a que o Inspector Tavares apontou: implementei o sistema de arquivo, posso aceder facilmente e não deixar rasto. Mas valerá a pena? Posso ir para a prisão ou ter que fugir para um País estrangeiro, é isso que quero? Claro que não, decido enquanto dou voltas e mais voltas na cama e a Cláudia acorda, pergunta, o que é que se passa contigo? Este domingo, alm

O DIÁRIO DE MEIRELES - PARTE IV

  Não consigo pesquisar nada sobre a Casa Pirata quando regresso ao gabinete; o Mateus tem uma pista nova que o Bernardes considera relevante para o caso e passamos a tarde a confirmar os detalhes. É o nosso fim de semana de folga, chego a casa extenuado, mas a Cláudia quer ir dançar e não a quero desapontar. Fico surpreendido por encontrar a Bela Antunes no bar acompanhada por um individuo que o Mateus interrogou e classificou de " insolente". Não sei se me reconheceram, só me viram no corredor que leva às salas de interrogatório, mas o facto é que uns quinze minutos depois de chegarmos, os dois saem. Acho estranho, o meu instinto diz-me para os seguir, mas a Cláudia exige toda a minha atenção e passa das quatro da manhã quando entramos em casa. Acordo tarde e mal disposto, não devia ter bebido tanto, queixo-me e a Cláudia ri-se, ninguém te obrigou, diz. Vamos até ao parque fazer um pouco de exercício? convida, mas antes de sairmos, mando um SMS ao Mateus, talvez se consiga

O DIÁRIO DO MEIRELES - PARTE III

  Dizem que fez " desaparecer" provas relevantes, forjou uma assinatura, conta o Sargento,  e estão a investigar-lhe as contas bancárias, porque suspeitam que recebeu " luvas ". A esta altura, o dinheiro deve estar numa conta offshore, observo e o Sargento encolhe os ombros, diz pois. Olha para o relógio, vais chegar atrasado, diz e eu apresso-me a subir as escadas. O Bernardes já está no meio da sala com um ficheiro na mão quando entro. Murmuro uma desculpa, porque é que não bebi o café aqui? penso e sento-me na minha secretária. Não sei quem escreveu este relatório, mas está uma verdadeira lástima, começa o Bernardes, têm que o reescrever e reparem bem na cronologia. A testemunha não está a dizer a verdade, por isso, voltem a falar com ela. Ninguém se atreve a falar, o Inspector entrega-me o ficheiro e eu leio o relatório em questão. Oh, Fonseca, que se passa contigo? recrimino e o membro mais novo da Brigada fica atrapalhado, já te explicamos como o trabalho deve

O DIÁRIO DO MEIRELES - PARTE II

  O Inspector Bernardes é o oposto do Tavares: há reuniões diárias para falarmos sobre o desenvolvimento do caso e decidirmos o próximo passo, dá-nos uma certa liberdade na forma de trabalharmos, mas exige relatórios sempre actualizados, pois " tenho que estar ao corrente de tudo o que se passa!" diz e muitas vezes, até chega antes de nós. O Sargento Luís não me preparou para isto, confesso à minha namorada certa noite, ter que estar sempre vigilante e tentar antecipar-me às ordens! Mas isso é bom! responde a Cláudia, obriga-te a estar sempre actualizado e lembra-te que agora és tu o Sargento e podes também estabelecer os teus métodos. Não sei se sou capaz! insisto e a Cláudia suspira, às vezes, és irritante! Sabes perfeitamente que és capaz, apenas tens que te organizar, mas dizes sempre que não podes, que não sabes! Fizeste a mesma coisa com o sistema de arquivo e no final, até o implementaste com bastante sucesso! É a minha vez de suspirar, ela tem toda a razão, duvido sem

O DIÁRIO DO MEIRELES

Os meus Pais não ficaram satisfeitos quando lhe disse que ia ingressar na Polícia. Então, o teu curso? protestam, mas explico que posso aplicar os conhecimentos adquiridos no curso na investigação de crimes. Por isso, após terminar o ano de formação, aqui estou na Brigada do Inspector Tavares. O Inspector é um individuo mal encarado, preguiçoso, que chega sempre atrasado, mas exige que os outros cumpram o horário. Deixa a organização do dia da Brigada ao Sargento Luís, um homem franzino que parece que vai desatar a chorar a qualquer momento. Mas depressa descubro que é inteligente, disciplinado e não aceita tolices. Aprendo bastante com ele e tento não ligar aos rumores que circulam sobre o Inspector Tavares. Segundo dizem, trabalhou com uma das lendas do Departamento, o Inspector Leandro, um homem que descrevem como rigoroso e ao que parece, o Tavares não aprendeu nada, afirmam, porque o Bernardes está a ter sucesso como Inspector! Não sei quem é esse Inspector Bernardes, estou concen

A FAMILIA - FIM

  A Clarinha fica amuada e fica decidido que os Pais vão para a casa de férias na quarta-feira e regressam no domingo à noite. Assim, a Teresa não fica tanto tempo sozinha, decide a Mãe e tu podes começar com a fisioterapia na segunda. A Clarinha fica em casa da Rita e do Gonçalo e a Matilde pede para ficar em casa do Pai, é mais perto da Universidade, diz ela, mas eu suspeito que quer ficar lá sozinha com o namorado. Tem cuidado, aviso-a, tens a certeza que é isto que queres? Já tiveste uma má experiência, não deixes que se repita! Mas a Matilde assegura que tem a certeza, que o Zé Maria é uma pessoa confiável, já falaram sobre o assunto e esta é a altura certa. Ok, se tiveres dúvidas, fala com a Rita. A Mãe vai acabar por saber, mas a Rita pode ajudar-te nisso, concedo e depois de me despedir dos meus Pais, volto para casa. Os Pais partem na quarta-feira, a Clarinha faz uma birra tremenda, mas a Rita lá a consegue acalmar. O Chefe chama-me ao gabinete dele nesse dia, mentalmente reve

A FAMÍLIA - PARTE VI

  A irmã do  Inspector entregou-me o diário dele e descobri-me ao abrir umas caixas lá em casa, continua o Pai, quando o li, percebi muita coisa. O Inspector estava a seguir umas pistas sobre um caso de corrupção e falava no suspeito que confirmamos agora ter ligações ao gangue. Alguém que conhecia, que tu conheces? interrompo e o Pai suspira, um homem da minha antiga brigada e que o Inspector Leandro treinou! observa. Compreendo que deve ter sido duro, comento, e agora o que acontece? e o Pai fecha-se imediatamente, responde-me com o " não posso falar sobre uma investigação em curso". Encolho os ombros, não vale a pena insistir, embora esteja preocupado com uma possível retaliação, estes gangues são doidos! murmuro. O Pai pergunta-me sobre a Catarina, conto-lhe tudo o que aconteceu, é fria, calculista, concluo, nunca me tinha apercebido disso! O Bernardo avisou-me, mas eu estava doido! Tens falado com o Bernardo? e eu abano a cabeça, estamos um pouco distantes! Ele concluiu

A FAMÍLIA - PARTE V

  Que frieza! penso, mas estou tão cansado, tão preocupado com o meu Pai que escondo a Catarina no lado mais escuro da mente. Quero saber mais sobre a operação, vai ser difícil o teu Pai explicar, comenta a Rita, sabes como ele é, as regras são sagradas e eu concordo com isso até certo ponto.  Mas ele foi ferido em serviço e a família tem que saber porquê, insisto e a Rita abana a cabeça, a única coisa que ele disse à tua Mãe foi que, quanto menos ela soubesse, melhor para ela! Talvez o Meireles me possa elucidar, mas lembro-me dos comentários da Rita e eu pouco ou nada sei sobre o homem, quem sabe o que pode acontecer se faço perguntas incomodas. Valha-me Deus, digo em voz alta, sou mesmo filho do meu Pai! Já estou a ver conspirações em todo o lado! Deito-me, mas não durmo sossegado e ligo à Mãe logo às oito da manhã. Ela diz-me que ainda não ligou para o Hospital, está à espera das nove, devem estar na mudança de turno, a preparar os doentes, continua, e se houvesse qualquer alteraçã

A FAMÍLIA - PARTE IV

  A Clarinha senta-se no meu colo, conta-me as novidades, descreve-me em pormenor o que está a fazer na aula de arte. De repente, lembra- se que há muita gente na sala, que devíamos estar todos a trabalhar, por isso, o que é que estamos a fazer aqui? E onde está a Mãe? pergunta. O Pai foi ferido, está no Hospital, vamos para lá daqui a um bocadinho, explico e a Clarinha abana a cabeça em sinal de compreensão. Também posso ir? mas o Gonçalo interrompe, hoje não, o Pai tem que descansar, amanhã se verá, diz e a Clarinha prepara-se para fazer uma das cenas dela. A Mãe entra nesse momento, parece estar mais calma, mudou de roupa, penteou-se e anuncia, o Pai já está no quarto, acordou, está com alguma dores, mas está a perguntar por nós. Tropeçamos uns nos outros na ânsia de sair de casa, o Gonçalo quase que arrasta a Clarinha para o carro dela, não se preocupem, ela vai ajudar-me num projecto, declara. A Rita não pode entrar, só é permitida a entrada de duas pessoas no quarto, por isso, eu

A FAMILIA - PARTE III

  Partilho uma pizza com a Matilde. A Rita está ao telefone, é um assunto importante, tem que ser resolvido já, desculpa-se. Pergunto à minha irmã o que aconteceu, mas a Matilde diz que pouco sabe, é uma investigação em aberto, não pode falar sobre isso, conta. Mas isso não é importante agora, continua, sabes que os nossos Pais estão juntos novamente? Fico estupefacto, o quê??? e a Rita ri-se. É um segredo, observa, tentam ser discretos, mas como podem ser discretos, se passaram um fim de semana juntos com a Clarinha ou se a tua Mãe não está aqui, está no apartamento dele? Sempre achei que o divórcio deles foi precipitado, comento, que foi loucura por parte do Pai; se eles ficarem novamente juntos, vou fica muito contente. Acho que eles se completam... Pensei ter esse tipo de relação com a Catarina... O que é que aconteceu com a Catarina? interrompe a Rita e a Matilde inclina-se para a frente para não perder pitada, estas duas sentiram sangue no ar, penso. Terminamos e ela vai ser hoje

A FAMÍLIA - II

  Ignoro-o, procuro a minha Mãe, deve estar na sala de espera com a Rita. O médico também lá está, a explicar-lhe que conseguiram remover a bala, não há hemorragias e o Pai reagiu muito bem. Está ainda no recobro, diz, vamos mantê-lo lá mais algumas horas e depois é transferido para um quarto lá para o fim da tarde. A Mãe suspira de alívio, a Matilde desata a chorar e eu fico parado à porta, sem saber o que dizer ou fazer. Ainda bem que chegaste, confessa a Rita, tem sido uma manhã complicada! e eu abraço-a. Oh, Gustavo, diz a Mãe e eu deixo a Rita, acolho a minha Mãe nos meus braços. Ainda bem que ele está bem, sussurro, não, não contes nada agora, mais tarde, peço. O Meireles aparece à porta, já sabe das novidades, quer saber se pode fazer alguma coisa, mas a Mãe limita-se a agradecer. O sargento hesita, abre a boca para dizer alguma coisa, mas acaba por se ir embora. Não sei porquê, comenta a Rita, não confio neste homem e pouco falei com ele! Mas o Pai diz que ele é muito competent

A FAMÍLIA

  Termino a relação com a Catarina no dia em que o meu Pai é ferido. Encontro-a na cozinha, ainda não são sete da manhã, com as malas feitas e com um discurso preparado. Só a interrompo quando fala " na birrenta da tua irmã adoptiva", porque a Maria Clara é, será sempre minha irmã e estarei sempre presente para a ajudar no que for preciso, friso. Pois, é isso que me irrita, largas tudo porque aconteceu isto ou aquilo à Clarinha, diz a Catarina e eu suspiro. Não vou abdicar da minha família, só porque te irrita, observo e a Catarina encolhe os ombros, murmura um " venho buscar o resto das coisas ao fim da tarde e deixo a chave." e saí. Sento-me no sofá, vou chegar atrasado ao trabalho, mas não deve haver problema, ontem, estive a trabalhar até às onze da noite. Ainda tenho que assimilar os acontecimentos, sei que o Bernardo vai dizer que me avisou, que a Catarina era muito vaidosa e egoísta e aqui está a prova. Tenho que concordar, a Clarinha é muito birrenta e pôs a

O FIM DE SEMANA - FIM

  Não estejas admirado, continua a minha mulher, desde que descobriste o diário do Leandro, estás mais nervoso, estás distante. Por isso, o que está a acontecer? Suspiro, ok, tem tudo a ver com o diário do Leandro, confirmo, mas não te posso dizer mais nada. Para tua protecção e minha também. A Madalena não diz mais nada, mas sinto que fica preocupada e acabo por passar lá a noite. Os acontecimentos precipitam-se na semana seguinte, os Chefes decidem agir antes de sexta-feira. Todos os detalhes são analisados cuidadosamente e há uma reunião final à meia-noite. O Meireles está presente, é um homem em quem confio, digo aos Chefes que aceitam a minha sugestão. Vê-se que está nervoso, mas eu também estou. Finalmente, vamos ter respostas para a morte do Inspector Leandro. Ás cinco e meia da manhã, estacionamos perto do local, colocamos em posições estratégicas, será? duvida o Meireles, mas não me atrevo a repreende-lo, pois também eu não tenho certezas. Às seis em ponto, invadimos o local,

O FIM DE SEMANA - PARTE V

Os Chefes estão preocupados; uma operação tão complexa como esta demora meses a preparar, mas nós temos que agir rapidamente. Temos que escolher cuidadosamente a equipa, diz o Chefe do Departamento, organizar protecção para o Bernardes, sugere o Chefe dos Detectives. Mas eu recuso; isso daria azo a comentários e poria em alerta o nosso suspeito. Por isso, o dossier relativo ao assalto a minha casa é concluído, " acto executado por desconhecidos" escreve-se no relatório e o Meireles fica intrigado. Tem a certeza de que não quer o caso investigado a fundo? pergunta, há qualquer coisa por trás disto e é grave. Tudo leva a crer que foi obra de profissional, não há impressões digitais... Olho-o muito sério, o Meireles não desvia o olhar, vejo que respira fundo e depois, diz baixinho, oh, inspector, está em perigo? Não propriamente, respondo cautelosamente, mas o caso é muito delicado e está a ser tratado com todas as precauções.  Conte comigo, pode confiar em mim, observa o Meirel

O FIM DE SEMANA - PARTE IV

  Matilde, tem calma.... Respira fundo e conta-me o que aconteceu... O meu apartamento foi assaltado? Forçaram a porta? Não??? Disseram ao porteiro que iam visitar os meus vizinhos e não foram? Ok... vais telefonar a um dos teus tios para ele estar presente quando chegar a Polícia. Eu vou telefonar ao sargento de serviço, comunicar a situação e alguém vai aparecer para tomar conta da ocorrência. O que aconteceu? a Madalena quer saber, mas eu murmuro, explico depois e telefono para a esquadra. É o Sargento Nunes que atende, claro que sim, Inspector, vamos já para lá, não se preocupe, responde e eu desligo. Assaltaram o apartamento? Mas porquê? pergunta a Madalena e eu suspiro, não sei, teremos que ver se falta alguma coisa, mas para já, é importante que a Polícia tome conta da ocorrência, explico. Tenho quase a certeza de que isto não aconteceu por acaso, penso, mas não o digo alto. O Gonçalo telefona-me uma hora depois, a Polícia já lá esteve, fotografou tudo e segundo diz a Matilde, a

O FIM DE SEMANA - PARTE III

  A Madalena opôs-se ao meu plano de ficar no spa enquanto elas vão explorar os trilhos e a escola de equitação. Vamos gozar este fim de semana em família, diz ela, por isso, vamos todos explorar o trilho e não, interrompe-me antes que eu vocalize a minha objecção, vamos começar pelo mais curto. Contrariado, lá me equipo e sigo-as.  A Clarinha está toda excitada, fala pelos cotovelos e nós interpretamos isso como um bom sinal. A vista é deslumbrante quando chegamos ao topo e lamentamos ter que descer novamente para o vale. Há ali perto um café, a Madalena e a Clarinha instalam-se num banco cá fora a aproveitar o Sol e eu entro para pedir as bebidas. Com umas perguntas discretas, fico a saber que o Inspector Leitão sofreu um ataque cardíaco, a família achou melhor mudá-lo para uma residência assistida. Não, não sabem para onde e eu suspiro, porque esta pista fica em suspenso. A Clarinha entra então, exige saber a razão da demora, estou a morrer de sede, comenta, o que faz com que as out

O FIM DE SEMANA - PARTE II

Os nossos filhos sabem que estamos a namorar, frisa a minha ex-mulher, o Gustavo acha divertido, a Matilde pensa que somos doidos e a Clarinha não diz nada. Rio-me também, a Madalena está diferente, foi bom ter voltado a trabalhar, a alargar o circulo de interesses e amigos. Por isso, estudamos atentamente as brochuras que trouxe, tem que ser um sítio com um parque para a Clarinha se divertir, comenta a Madalena e um spa para nós, acrescento. O problema será se a Teresa não voltar ao trabalho esta semana, exclamo, ou tu não conseguires ter folga, responde a Madalena. Mas o caso está num impasse, é melhor aproveitar agora as folgas, aconselham os Chefes, vamos precisar de toda a sua atenção e tempo mais tarde. Na sexta-feira, vou buscar a Clarinha e a Madalena à loja principal, ainda ficamos um bocado a conversar com a Teresa, já totalmente recuperada da constipação. Temos bastantes planos para as lojas, confidencia a Madalena, vamos apresentá-los na próxima reunião e veremos o que acon

O FIM DE SEMANA

  Há anos que não pensava na Helena, na relação escaldante que tive com ela. Uma loucura completa, foi pura diversão. A Helena era uma mulher muito sensual, muito livre e foi um choque saber que tinha sido casada com o Leandro, um homem tão discreto, tão rigoroso. Profissionalmente, a Helena também o era, mas pessoalmente...era uma outra história e talvez tenha sido por isso que o casamento deles não funcionou. Durante uns dias, fui incapaz de encarar frontalmente o Inspector Leandro, mas ele era um bom professor, tinha tanto que aprender que escondi a Helena no recanto mais escuro da memória. Acho que nem falei nela à Madalena que conheci umas semanas após ter terminado a relação. Quem é esta Helena? Alguma suspeita? a voz da Madalena traz-me novamente para a realidade, tem o diário do Leandro na mão. Devo ter adormecido, ela deve ter usado a chave da Matilde para entrar. Que horas são? pergunto e a minha ex-mulher sorri, passa das sete, trouxe-te um bolo, pensei que podíamos jantar j

EU E O BERNARDES - FIM

  Algum aspecto do caso que se complicou e não sabe como abordar o assunto comigo? penso enquanto revejo o relatório. O relatório está perfeito, o Bernardes assinala as pistas mais importantes, descreve o que está a ser feito. Não sei o que aconteceu com os outros inspectores, murmuro, comigo, o trabalho do Bernardes está a ser exemplar, é organizado, atento ao detalhe, respeita as opiniões dos outros. Então, o que se passa para o sargento estar a agir como se eu fosse um déspota?  De repente, lembro que o Bernardes é o tipo de homem que a Helena aprecia e não me surpreende nada que seja com ele que ela esteja a ter um caso. Coitado do sargento, sorrio, deve ter descoberto que a Helena foi casada comigo e tem receio de me estar a ofender. Tenho vontade de o chamar e lhe dizer que não se preocupe, eu e a Helena não somos amigos, há uma história pesada por trás do nosso divórcio e tudo o que quero é esquecer. Suspiro tão alto que o Bernardes levanta a cabeça e olha-me curioso. Como não d

EU E O BERNARDES - PARTE IV

  No dia seguinte, acordo de mau humor, ainda bem que não estou de serviço, penso, não me ia concentrar. A Helena voltou e está a trabalhar no Tribunal de Família? Segundo o que me contou o Leitão, regressou há uns seis meses. Curioso que não te tenhas cruzado com ela, disse o Leitão, eu sei porque ela era a responsável pelo caso que eu investiguei há umas semanas. Não respondi, o Leitão percebeu que estava a tocar num ponto sensível e despediu-se, deixando-me aturdido no parque de estacionamento. Quando conto à minha irmã, estás livre? pergunta, vamos tomar um café?, ela fica sem palavras. O que vais fazer? questiona, não lhe vais telefonar ou aparecer no Tribunal para falar com ela? Não é uma boa ideia! Não, não é, respondo, sabes as circunstâncias em que nos divorciamos, nem amigos ficamos! Não a vou convidar para tomar um café e exigir saber porque voltou. Decerto a relação com o outro cavalheiro terminou e aqui sempre tem a família, os amigos, observa a Gina, mas não deixes que is

EU E O BERNARDES - PARTE III

  Nesse mesmo instante, o Bernardes está a terminar a relação com a companheira. A Helena não está surpreendida; afinal, é vários anos mais velha que o Bernardes e é natural que o rapaz se interesse por uma mulher mais nova, queira casar e ter uma família. O Bernardes é um homem interessante, um excelente companheiro e vai ter pena das escapadelas de fim de semana, das idas aos motéis, dos jantares no conforto do apartamento dele. Mas, como disse muitas vezes às amigas, esta relação tinha prazo. Volta à realidade quando o Bernardes lhe fala do novo chefe, é um homem curioso, ainda não o conheço muito bem, mas tem ideias bem definidas e gosto disso, diz. Não vais entrar em conflito com ele desta vez? pergunta a Helena, em seis meses, é a segunda vez que mudas de brigada e eles não gostam muito disso. O Bernardes fica intrigado, como é que sabes? indaga e ri-se. Fui casada com um Inspector, aprendi muita coisa durante esses anos, responde, os jantares interrompidos a meio, a falta de hor

EU E O BERNARDES - PARTE II

  O Inspector Leitão convida-me para jantar. É viúvo há alguns anos, os filhos já são adultos e têm a sua própria vida e jantarmos junto à sexta-feira tornou-se um hábito. Partilhamos o mesmo gosto pela boa comida, boa música e bons livros e não nos falta tema de discussão. Mas, naquela sexta-feira, o Leitão está mais interessado em saber da minha relação com o Sargento Bernardes. Dizem que se alguém é capaz de domar o Bernardes, esse alguém és tu, exclama, por isso, dá-me as tuas impressões. É observador, atento, explica-se com clareza, respondo, aliás, frisei bem isso quando entrou na minha brigada. Pois, eu sei que exiges isso a todos os que colaboram contigo, concorda o Leitão, mas corre o rumor de que o Bernardes é insubordinado, tem dificuldade em seguir ordens. Não digo que não, tive que o repreender uma ou duas vezes, observo, mas talvez o que ele precise é que o ajudem a pensar. O Leitão ri-se, lá estás tu com os teus truques, ok, explica-te, comenta o meu amigo. Ouves o que e

EU E O BERNARDES

  Observo atentamente a pessoa que tenho à minha frente. É alto, atlético (sei mais tarde de que pratica natação e ciclismo) e parece estar muito relaxado. Como se não fosse importante causar boa impressão ao novo chefe. Sorrio, pois os olhos não enganam; são vivos, inteligentes, estudam-me atentamente e eu gosto disso. Telmo Almeida Bernardes, repito, dizem que é um excelente detective, mas insubordinado. Eu não vou tolerar isso, aviso-o já. A minha equipa trabalha com base na confiança e não tolero elementos que causem distúrbios. Por isso, vou fazer-lhe uma pergunta: vou ter problemas consigo, Bernardes? O Bernardes olha-me curioso, está intrigado, nunca pensou que alguém lhe fizesse essa pergunta directamente. Os meus colegas limitam-se a apresentar os outros membros da brigada, presumem que estes expliquem os detalhes do caso em aberto e esperam resultados. Eu gosto de conhecer os membros da minha brigada, conhecer o potencial, os limites para saber o que exigir e geralmente, obte