RECORDAÇÕES - PARTE IV

 

O muro é alto demais para a Clarinha saltar e o jardineiro diz que esteve a trabalhar no terreno ao lado, deixou o portão encostado, os miúdos estavam nas aulas, justifica.

O que preocupa é que há uma estrada de terra batida e que vai dar de um lado à Estrada Nacional, do outro à Avenida Principal.

Será que a Clarinha escolheu o atalho que leva à Estrada Nacional? Será que apanhou boleia? De quem e para onde? Há tantos tarados por aí, segreda a minha voz profissional, a esta hora ela pode estar a quilómetros de distância!

O Meireles parece que adivinha os meus pensamentos, pois diz, não se preocupe, ela decidiu ir para um local que conhece, já o fez antes!

A Madalena volta a telefonar-me, a Matilde acaba de chegar, ninguém a viu no bairro, o que é que fazemos agora? insiste.

Um dos colegas de uniforme comunica que alguém viu uma menina parecida com a Clarinha a descer a Avenida Principal, e não achou estranho ver uma catraia sozinha? Não lhe perguntou se estava perdida? observo.

Se calhar, pensou que ia ter com a Mãe, com alguém adulto, há um parque uns metros mais abaixo, explica o meu sargento e faz sinal ao colega de uniforme para se ir embora, eu estou muito nervoso.

O meu telemóvel volta a tocar, desta vez é a minha cunhada Rita que se lembrou que a Clarinha pode ter ido para a estação de comboios.

Lembra-te de que ela já fez isto uma vez, comenta a Rita, queria apanhar o comboio para ir ter com o Gustavo. A Madalena contou-me que ela estava muito zangada, muito brusca esta manhã e não me admira nada que não esteja neste momento na estação!

Para a estação, grito, alguém que telefone ao Chefe da Estação, ele que esteja atento, que faça uma busca.

Em menos de quinze minutos, entramos na estação e deparamos com a Clarinha no átrio principal, com a mão firmemente fechada na do Chefe da Estação.

Estava num dos bares, pediu um copo de água, explica o Chefe, o dono achou estranho ela estar sozinha, começou a fazer-lhe perguntas e entretanto, recebeu o alerta.

Ajoelho-me em frente da Clarinha, que está muito corada e me olha com um ar de desafio.

Então, Maria Clara, qual é a explicação desta vez? Não achas que já preocupaste toda a gente vezes suficientes?

CONTINUA

Comentários

É muito complicado :)
-
Um brinde que já foi meu ...
-
Um excelente dia- Beijos
Elvira Carvalho disse…
Tal como eu pensei.
Votos de boa Páscoa
Abraço e saúde

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