A HISTÓRIA PARTE VI

 

BERNARDO

Sei que estão a preparar uma festa para celebrar os meus quarenta anos de vida, a Mãe a a Matilde fecham-se na cozinha, conversa  privada, dizem, vão dar uma volta e eu levo os miúdos até ao parque para uma  caminhada, uma volta de bicicleta.

O Pai também deve estar dentro do segredo, mas desvia a conversa sempre que falo nos meus anos, quem diria? interrompe-me, vais fazer quarenta anos, sinto-me velho.

Rio-me, o Pai ainda está cheio de energia, respondo, mas a verdade é que estou satisfeito com o rumo que a vida tomou, aprendi imenso enquanto estive fora, em São Tomé e em Cabo Verde e sabia que era um risco abrir uma empresa com o Gustavo.

Mas estamos a ter um sucesso, estamos a ponderar contratar novos membros para reforçar a equipa e pessoalmente, não podia ter encontrado uma companheira tão perfeita.

Sei muito bem os problemas da Matilde, ajudei-a a recuperar e a verdade é que estive sempre apaixonado por ela.

Por isso, decidir viver com ela e mais tarde casar foi o passo mais acertado e a Matilde tornou-se numa mulher sensata, divertida e trabalhadora.

Termos quatro filhos é que não estava bem nos meus planos, mas aconteceu, enchem a casa de alegria e a vida tornou-se menos caótica desde que contratamos a D.Margarida.

Pergunto à Matilde se não será uma boa ideia passarmos o fim de semana fora, afinal só faço quarenta anos uma vez na vida, brinco, oh, e os miúdos? Querem tanto passar o dia contigo!! Estão a preparar uma peça, a Margarida escreveu o texto e está a ser muito divertido, confidencia, mas eu não te disse nada!

Não há problemas, agora estou curioso, afirmo, mas o que é que vamos fazer? Convidar a família e alguns amigos?

Não te preocupes, eu trato de tudo, declara a Matilde, o telemóvel toca, percebo que é a minha Mãe e a minha mulher desaparece no quarto.

O meu Pai aparece cedo no dia dos meus anos, os miúdos abraçam-me aos gritos, querem que eu abra o presente que compraram e depois a Matilde pede-nos para sairmos, não voltem antes da uma da tarde, diz.

Acabamos por ir dar uma volta até à praia, os miúdos deliram e quando regressamos, a Matilde não está, a senhora foi ao cabeleireiro, explica a D.Margarida, mas o almoço está pronto.

Olho para o meu Pai perplexo, ele apenas sorri e entra confiante na cozinha.


CONTINUA



Comentários

Elvira Carvalho disse…
Quarenta anos. Quando comecei a acompanhar esta história, ele era um miúdo que a mãe levou pela primeira vez ao clube de leitura.
Abraço e Viva o 25 de Abril

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