A HISTÓRIA DO MAJOR


Gosto de mulheres esbeltas e ruivas.

Foi uma surpresa quando decidi casar com a Ana, que não era esbelta mas sim roliça e tinha cabelo preto.

Mas tinha uma alegria de viver contagiante que me atraiu deveras.

Seguiu-me sem um queixume para onde fui destacado, fazia amizades facilmente e estava sempre ocupada.

Contudo, tudo mudou com o nascimento dos gémeos, o Francisco e o Frederico e a Ana começou a dizer que era melhor mudarmos para uma cidade grande.

Seria mais fácil encontrar boas creches, escolas, etc e nem de propósito, fui destacado para um vila a uns cem quilómetros da capital do distrito.

Tornou-se incomodo viajar todos os dias e por isso, optei por alugar lá um apartamento.

A Ana e os miúdos instalaram-se na cidade e em breve, tinham uma rotina da qual eu não fazia parte.

Viam-me ao fim de semana, a Ana tentava ser o ponto de equilíbrio, mas a verdade é que eu e os meus filhos tínhamos um relacionamento hesitante, distante.

Quando me reformei e voltei definitivamente para a capital, mesmo eu e a Ana começamos a ter dificuldades.

Um dia, falamos sobre o divórcio, a Ana dizia que talvez fosse melhor, eu achava que não, que tínhamos que tentar tudo, mas ela sentiu-se mal e levei-a à pressa para o hospital.

Foi uma noite muito longa e a Ana não sobreviveu. 

Não entendi muito bem o que o médico disse, foi o Frederico quem organizou tudo e a família compareceu em peso.

Gostavam muito da Ana, todos me diziam para ter calma, mas os meus filhos permaneciam calados.

Depois do funeral, voltaram para a vida que escolheram e eu fiquei sozinho no apartamento cheio de recordações da Ana.

CONTINUA

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Começa bem está história do major. Sou casada com um militar reformado, sei bem como é a vida deles, embora o meu marido e eu só nos tivéssemos separado em 1980 quando fez uma comissão nos Açores porque o seu serviço era entre ilhas andou quase a comissão toda embarcado. De resto estivemos sempre juntos mesmo nas comissões em Angola e Moçambique.
Abraço
Sofá Amarelo disse…
"Gosto de mulheres esbeltas e ruivas"... um começo de texto ao nível dos melhores escritores. Sintomático, apelativo, contagiante para o que virá depois... excelente escrita, muito bom entendimento de como se prende a atenção do leitor...
O Major é uma personagem de coragem, do lado da autora, ou seja, um personagem desafiante e que, agora, mostras um outro lado… muito importante...

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