A QUESTÃO FIM

 

O Edgar divaga muito sobre o assunto, não entendo muito bem o que ele diz sobre solidariedade e suspiro aliviado quando ele desvia a conversa.

Talvez seja melhor falar com a Avó Carolina, escrevo nessa noite no diário quando estou sozinho no meu quarto.

Porque na casa da Mãe, temos quartos separados, o Pai acha que é um absurdo, o Amadeu está a entrar numa idade em que precisa de espaço e não quero ter que os estar a separar por idiotices! remata a Mãe.

Fecho o diário, escondo-o no sítio habitual e desligo a luz, não tenho vontade de jogar, ouço os gritos do Luís no quarto ao lado, ele não gosta nada de perder!

A Mãe resolve organizar um jantar de família naquele fim de semana, até convida o Pai e a Marina.

Quase tenho um ataque cardíaco quando sei, mas porquê??? Ela é uma idiota! protesto e a Mãe encolhe os ombros, o Pai escolheu-a, deve ter encontrado alguma coisa nela de que gosto e depois, é a vida dele! acrescenta.

O Pai chega mais cedo, diz que tem que falar connosco e sentamos-nos no jardim, a Marina fica a ajudar a Mãe na cozinha.

A ajudar a Mãe!!! Tem sempre medo de partir uma unha, vai lá ajudar a Mãe!!!! sussurra o Luís e eu tenho que morder os lábios para não me rir.

O Pai está muito sério, vejo que não sabe muito bem como começar, passa-se alguma coisa, Pai? pergunto.

Sim, é uma coisa boa, pelo menos, eu espero que seja boa, responde, eu e a Marina resolvemos casar, diz abruptamente, ainda não acertamos todos os detalhes, mas vai ser em breve.

O Luís fica calado, olha-me assustado, sinto obrigado a felicitar o Pai em nome dos dois, o Pai abraça-nos e volta para dentro.

E, agora? Temos que aturar aquela idiota???? Não gosto nada dela!!! desabafa o Luís, respiro fundo.

Temos que ser diplomatas!!! aconselho, diplomatas com aquela idiota???? repete o meu irmão, e a Mãe? O que é que a Mãe pensa?

O que a Mãe pensa, não nos diz, apenas nos aconselha a ter calma e a respeitar a nova mulher do Pai, mas nós seremos sempre hostis.

Se a Marina percebe ou não, nunca saberemos, porque envolve-se por completo na nova família e trata-nos com amabilidade e generosidade.

Anos mais tarde, compreendo finalmente do que falavam a Inês e o Edgar, mas isso é uma outra história.

FIM


Comentários

A Nossa Travessa disse…

Querida Martamiga
Um final arranjado e arrojado que sinto que escreveste «a três pancadas»- Era preciso acabar a estória e conseguiste ainda que a custo de várias personagens, a saber. teu pai, tua mãe e o teu irmão Luís. Vamos ver se o próximo conto te sai melhor. Porque este, confesso, não me caiu muito bem. E digo sempre a minha «opinião, seja boa, seja má»
Beijos & queijos do Pico dos Açores
Henrique
___________
NB - Deixaste de ir e comentar n'«A Nossa Travessa». Porquê?
Marta,
è uma delícia seguir
sua escrita e aguardar
a proxima.
Bjins
CatiahoAlc.
Que maneira soberba de terminar este conto: "Anos mais tarde, compreendo finalmente do que falavam a Inês e o Edgar, mas isso é uma outra história."... ao jeito do melhor que se escreve e que se lê nos grandes autores: deixar em aberto o futuro e deixar à imaginação do leitor, porque o leitor também "faz parte" da narrativa...

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