ANTÓNIO PARTE II

 

A Teresa quer viajar para a Índia e para o Nepal, confessa o António num dia em que o Gonçalo aparece de surpresa no escritório e o convida para almoçar.

O irmão suspira, mas ela sempre falou nisso, não sei porque estás tão surpreendido, responde, mas ela quer ficar por lá um ou dois anos, explica o António.

O Gonçalo pousa os talheres, um ou dois anos a fazer o quê? questiona e o irmão encolhe os ombros, absorver a cultura, talvez fazer trabalho de voluntariado, observa, sei que tem tido grandes conversas com a Clarinha sobre o assunto.

E as lojas e o serviço de catering? Isso era o sonho dela! protesta o Gonçalo, pelos vistos, o nosso sobrinho Miguel e a mulher querem mudar para cá por causa do filho e estão prontos a assegurar o funcionamento disso. Tens que admitir que nem os meus filhos nem a Francisca estão interessados em assumir a gerência, comenta o António.

Pois e não há dúvidas de que o nosso sobrinho fez um bom trabalho com a quinta dos nossos Pais, concorda o Gonçalo, é certamente a pessoa indicada para ficar à frente da empresa.

O filho da Madalena, o Gustavo também está interessado, temos que discutir o assunto na próxima reunião da Administração, e o António suspira.

O que há mais? Há outra coisa que te está a preocupar, vá lá, António, desabafa, pede o Gonçalo e o irmão afasta o prato, não tem mais apetite.

As casas, o que é que vamos fazer com as casas? A Teresa diz que não quer nada, não é preciso vender, são dos filhos, tem poupanças que pode utilizar, e o António sente-se cansado.

Também acho um disparate venderes as casas, interrompo o irmão, deixa a Teresa ir na viagem de descoberta e depois, quando ela regressar, decidem tudo, aconselha.

A Sofia e o Gonçalo acham que é um disparate a Mãe viajar e ainda por cima, sozinha para países complicados, dizem.

A Teresa argumenta que é a vida dela, que sempre quis trabalhar em voluntariado e está na idade ideal para o fazer, se não fizer agora, nunca o fará.

E, depois, vocês não querem ligar com uma velhota chata? remata, mas apenas o Gonçalo se ri.

A Sofia não está convencida, tenta que o Dinis a ajude, a Mãe tem que perceber o risco que corre, mas o marido admite que tem inveja da sogra e gostaria de partir assim, sem rumo.

CONTINUA