PEDRO PARTE III

 

A noite é agradável, acabo por passar a noite em casa da Maria da Luz e telefono ao Miguel no dia seguinte.

Convido-o para almoçar, conto-lhe da entrevista, o meu filho fica surpreendido.

É uma proposta interessante, um desafio e tu sabes como eu gosto de desafios, explico-lhe quando estamos já sentados no restaurante à espera do prato, é reorganizar um departamento, definir novas estratégias, novas prioridades.

E o ordenado? Justifica a saída da outra empresa? pergunta o Miguel, sim, é o dobro do que estou a ganhar neste momento, continuo, vou estar mais perto de ti, das tuas tias e do resto da família. Por falar nas tuas tias, encontrei-me com elas e elas estão um pouco aborrecidas, não telefonas, não aceitas os convites para almoçar.

Tenho uma vida um pouco ocupada, tenho amigos, justifica-se o Miguel, encontro de vez em quanto o Matias e o Edgar, frequentamos os mesmos restaurantes e bares.

Mas mesmo assim, interrompo, não fica mal ligares de vez em quando às tuas tias, aliás, se realmente me mudar para cá, pelo menos uma vez por mês, vai haver um almoço em família e tu vais estar presente!

Oh, Pai, não achas que isso é um pouco antiquado? protesta o meu filho, eu sorrio, não, não acho, as tuas tias gostam muito de ti, tens nelas amigas para a vida, friso, estiveram sempre presentes!

Pois, diz o Miguel arrogantemente, tenho uma Mãe maluca! não permito esse tipo de conversa, comento, a tua Mãe é uma pessoa problemática, mas continua a ser a tua Mãe, não permito esse tipo de comentário, repito.

Não lhe estava a faltar ao respeito, exclama o Miguel, ela agora está em casa com os Avós, sabes? confidencia, está calma, participa nos eventos da quinta, mas...e cala-se.

Também fico calado, isto é apenas uma fase, a Laura pode voltar a qualquer momento para a clínica e faço uma nota mental para ligar ao António.

A conversa desvia-se para banalidades, o Miguel fala-me dos casos que está a estudar, do mail brincalhão que recebeu da Maria Rosa, tenho que ligar a essa marota, observo e despedimos-nos à porta do escritório do meu filho.

A Maria da Luz telefona poucos minutos depois, quer saber tudo, mas ainda não tenho a certeza de nada, ficaram de me responder dentro de dois, três dias, tenho que regressar.

Ainda vou ao escritório, não há nada de relevante a tratar e vou até casa.

Sento-me no sofá, revejo os pontos importantes da reunião, vou gostar de regressar, estar mais perto da família, dos meus filhos, dos meus filhos.

CONTINUA

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Penso que o Miguel também vive com o medo de ter herdado os genes da mãe. E que usa a distância e a conversa agressiva e arrogante para esconder dos outros esse medo. Não foi nada fácil a infância dele com os constantes despautérios que a doença provoca na Laura.
Abraço e saúde
Por vezes o medo apodera-se e não se conseguem alguns objetivos. Pode ser que não seja o caso. Adorei o episódio :)

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Enquanto as ondas dormem no mar...

Beijo e um excelente dia.

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