EM CASA DA MÃE

 

Tenho que passar uma temporada em casa da Mãe, anuncio nessa noite ao Pai que me olha surpreendido, ela está cá? Não estava em França a fazer um workshop? pergunta.

Já voltou, respondo, ela e o seu adorável marido, Maria Rosa, repreende o Pai, não fales assim do marido do teu Pai.

Mas ele parece um cachorrinho, está sempre pronto a fazer-lhe as vontades, protesto, até enjoa tanto...nem sei bem como classificar.

É o marido da tua Mãe, respeita-o, aconselha o Pai, a vida será mais fácil se o fizeres!

Aqui estou no meu quarto, enorme, decorado em tons de azul e branco, um quarto de princesa, troça a Amélia, uma amiga que veio estudar comigo uma tarde.

O resto da casa parece um museu, cheio de antiguidades valiosas e uma das grandes paixões do meu padrasto.

A Mãe bate à porta, foi um tema que discutimos bastante, sempre detestei que as pessoas entrassem no meu quarto sem se fazerem anunciar, mudarem os objectos de sítio sem me perguntarem a opinião.

Por fim, a minha Mãe compreendeu a minha necessidade de privacidade e agora bate-me à porta, entra, senta-se também na cama.

Então, que tal vai o curso? Estás a gostar? observa-me atentamente, Mãe, não sou um dos teus doentes! exclamo, e sim, está tudo a correr bem.

E, o teu Pai? ah, então, é isso que queres saber, penso, o meu Pai está óptimo! explico, gosta do novo emprego, está perto do Miguel e das Tias.

Ouvi dizer que ele estava a viver com alguém, alguém mais novo que ele, e a Mãe sorri-me.

Agora já não está, replico, tenho pena, a Maria da Luz era muito simpática e divertida.

Ah, ela chama-se Maria da Luz? O que é que ela faz? Porque é que se separaram? questiona, ah, não, interrompo, não te vou explicar, é um assunto do meu Pai, não o vou. discutir com ninguém!

A Mãe suspira, levanta-se, é apenas uma pergunta, diz, estás a ficar muito parecida com o teu Pai! Não sei se isso me agrada!

Não, elevo um pouco a voz, não vais falar mal do meu Pai! Porque ele nunca fala mal de ti e não deixa que os outros o façam!

Maria da Rosa, atenção! Tem cuidado com o que dizes, não te admito esse tom de voz! Sou tua Mãe! Cuidado com o que dizes, repito.

Basta não falares do meu Pai, continuo, e eu não digo mais nada!

O " cachorrinho" bate à porta, atraído pelas vozes altas, Beatriz, minha querida, está tudo bem? e olha-me desconfiado.

Eu e a Maria Rosa temos opiniões diferentes, atalha a Mãe, como sempre, a Rosa deixa-se levar pelo entusiasmo!

O idiota sorri, suspira, mas minha querida Rosa, aqui vivemos em paz, não pode haver gritos e afins...deixa a frase no ar, sinto-a como uma ameaça.


CONTINUA




Comentários

O melhor que se pode fazer quando se é filha de pais separados é não falar mal uns dos outros. Cria um ambiente mau! :)
Gostei
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A emoção da voz, em triste noite escura ...

Beijos
Bom Domingo

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