A VISITA

 

O Gustavo gosta do emprego, são exigentes, mas os benefícios são óptimos.

A cidade também é simpática e já tem um pequeno grupo de amigos. Às vezes, aparecem amigos da Universidade para passarem o fim de semana e por isso, raramente está sozinho.

Pena o Bernardo ter tido aquele desastre e ter meses de fisioterapia pela frente; podiam ter ficado na mesma empresa ou se tal não fosse possível, um deles ter encontrado emprego numa outra empresa.

Nunca se sabe, pensa o Gustavo, mas o Bernardo está muito revoltado, culpa tudo e todos pelo que aconteceu e o Gustavo sente que se estão a afastar.

É uma pena, o Bernardo era uma pessoa divertida, leal e o Gustavo sente a falta dele.

Talvez o possa visitar no próximo fim de semana, tem que ir a casa, a Clarinha está a dar problemas, se fores tu a conversar com ela, diz a Mãe, quem sabe? ela pode escutar-te.

O Gustavo duvida, a Clarinha consegue ser muito teimosa, nem sempre compreende (ou finge) o que os outros lhe dizem e persiste em fazer o que quer.

Mas tem que tentar, sente que a Mãe está a ficar desesperada, o próprio Pai confessa que se sente impotente.

E o que diz a psicóloga? pergunta o Gustavo, a Clarinha recusa-se a falar com ela, explica a Mãe, não colabora nas aulas, está a ser uma desgraça.

O que é eu lhe vou dizer? insiste o Gustavo, não sei, responde a Mãe, pode ser que ela se abra contigo, te diga o que quer, já não sei o que fazer!

Apanha o comboio das sete, chega a casa por volta das oito, estão à espera dele para jantar e apenas a Mãe e a Matilde parecem estar contentes por ele estar ali.

A Clarinha parece aborrecida, cumprimenta-o como se estivesse a fazer um grande favor e o Gustavo tem que se contentar para não lhe dar um tabefe.

Que modos são esses? protesta o Gustavo, venho passar o fim de semana a casa, cheio de vontade de ver as minhas irmãs e tu pareces um bicho do buraco!

A Clarinha encolhe os ombros e continua a comer a sopa, o Gustavo e a Mãe trocam um olhar de desespero.

Maria Clara, estou a falar contigo, queres fazer o favor de olhar para mim? repete o irmão e como a irmã finge que não o ouve, segura-lhe a mãe.

Larga-me, estúpido, estás a magoar-me, exclama a Clarinha.

CONTINUA

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Está muito revoltada esta Clarinha.
"A Clarinha parece aborrecida, cumprimenta-o como se estivesse a fazer um grande favor e o Gonçalo tem que se contentar para não lhe dar um tabefe."
Gonçalo ou Gustavo?
Abraço e saúde
Ui, isto não começa nada bem. Temos uma clarinha endiabrada. Lool

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Alma desassossegada...
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Beijo, e um excelente noite

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