MATIAS - PARTE IV

 

Desta vez, só aparece o Miguel que, ao aperceber-se da situação, fala com a " voz de comando".

Na altura, não sei o que é a voz do comando, mas depressa aprendo que, quando fala assim, é melhor não desobedecer.

Os castigos podem ser mais duros que os dos Pais e até ao primo Miguel não se atreve a desafiá-lo.

Por isso, embora proteste veementemente, o Edgar vai para a cama e eu recebo um lenço molhado em água fria para o " galo".

Depois, o Miguel também me põe na cama e eu fico indignado, não fiz nada de mal, mas o meu irmão abana a cabeça, se não o tivesse provocado, nada disto aconteceria, diz.

Fico pensativo, talvez tenha razão, mas a verdade é que o Edgar parece estar sempre a competir comigo.

Será que vamos ser assim a vida inteira? 

Não sei, acabo por adormecer, acordo com a Mãe ao pé da cama, indecisa sobre o que fazer.

Mas eu cheiro qualquer coisa boa, o que será? estendo-lhe os braços e ela põe-me no chão.

Nem espero por ela, o jantar deve estar na cozinha, é melhor o Edgar apressar-se ou eu como tudo.

A D. Margarida fica espantada por me ver aparecer sozinho, o meu nariz não falha, deve ser sopa de cenoura, e eu adoro sopa de cenoura.

A senhora senta-me na cadeirinha, coloca-me o guardanapo e põe o prato à minha frente. 

Pega na colher, mas eu quero comer sozinho, sou um homem! não preciso de ajuda e tiro-lha.

A Mãe aparece então a arrastar um Edgar muito ensonado, que faz birra quando o sentam na cadeirinha.

Mas a sopa cheira tão bem que ele fica bem mais desperto e tenta acabar primeiro que eu.

Eu quero saborear cada colher, oh, Matias, cuidado que está quente! avisa a D. Margarida.

O Edgar engasga-se, começa a tossir, para quê tanta pressa? ralha a Mãe e dá-lhe água.

O meu irmão olha-me de soslaio, vou vencer este desafio, dizem os seus olhos, mas eu não estou disposto a entrar em mais desafios.

Estou cansado, quero comer sossegado, porque é que o Edgar não faz o mesmo? não percebo!

O Edgar volta a engasgar-se, não acaba de comer a sopa, come apenas um bocadinho de bife e de arroz e nem prova a sobremesa.

Eu como tudo, a D. Margarida ri-se, este é mesmo um guloso! e a Mãe sorri, este não comeu tudo, estará doente? mas o Edgar respira saúde.

Há dias assim, não se preocupe! amanhã, ele come melhor, aconselha a governanta, estou atrasada, se perder este autocarro, só daqui a meia hora.

Despede-se, dá-me um beijo na teste, faz uma festa na cabeça do Edgar e saí.

A Mãe pede ajuda à Filipa, esta parece um pouco aborrecida, teve que desligar a chamada, seria o namorado? como lhe chama trocista o Miguel.

Lavamos os dentes, fazemos um último xixi e instalam-nos na cama.

A Filipa dá-me o ursinho, mas o do Edgar não aparece e este recusa-se a dormir sem ele.

Procuram-no no armário, no caixote dos brinquedos, nada; finalmente, encontram-no, caiu para trás da cama.

O Edgar fica sossegado e adormece de imediato.

CONTINUA


Comentários

Elvira Carvalho disse…
Bem traquinas estes miúdos.
Abraço saúde e bom domingo
Parece que os diabretes continuam a desafiar-se! :))
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Envolvo-me no silencio das flores
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Beijos e um excelente Domingo.:)

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