MATIAS PARTE IV

 

És um palerma, pá! diz o Miguel mais tarde quando os convidados se vão embora, os miúdos estavam entretidos, os dois podiam ter almoçado na sala sem problemas, mas tu resolveste armar-te em esperto!

Está calado! protesta o Matias, até parece que nunca te queixaste por ter que ficar no quarto de brinquedos a aturar estes " idiotas"! Lembro-me muito bem disso!

Até posso ter dito, concede o irmão mais velho, mas eu e a Filipa tínhamos um esquema que resultava, é o que tens que fazer! Falar com o Edgar e trabalhar em conjunto para que ambos gozem o momento!

Qual era o vosso esquema? pergunta o Matias, curioso, mas o irmão abana a cabeça, tens uma cabeça para pensar, faz uso dela, palerma! e saí do quarto.

Palerma! ecoa a Inês, deliciada, palerma, palerma, palerma! e o Matias grita, está calada, Inês! Isso não se diz!

Mas claro está que a Inês continua a cantarolar, palerma, palerma e o Edgar junta-se ao coro.

O Matias fica muito vermelho, cala-te, verme! ordena e a Inês ri-se, repete, verme, verme!

Repete isso, se és capaz! pede o Edgar, indignado, o Matias repete e o irmão atira-lhe um soco que o faz desequilibrar.

O Matias esquece as recomendações da Mãe e do Pai, responde com um outro soco que faz com que o Edgar caia.

A Inês bate em retirada, instala-se no corredor, a observar a luta entre os irmãos.

O Matias está todo despenteado, a camisa fora das calças e há um rasgão na T-Shirt do Edgar.

Verme, verme! canta a Inês e os dois irmãos gritam-lhe, cala-te, Inês.

Mas quem é que a cala? A Inês está deliciada, ninguém tem uma vida familiar tão divertida como a dela, tem a certeza absoluta.

Ainda por cima, aprende palavras tão interessantes que fazem êxito no infantário, mas que as educadoras não gostam nada.

A luta continua, os dois irmãos continuam a insultar-se, atraem a atenção da Filipa que trata de os separar.

Por amor de Deus! O que se passa? questiona, ainda é por causa do que se passou ao almoço? Que criancice! Cresçam!

Os dois irmãos ficam calados, a Filipa suspira, ela seria assim tão parva quando teve treze anos?

Lavem-se, não apareçam assim aos Pais, aconselha, vejam se conversam, se arranjam uma forma de comunicar, não podemos ter lutas todos os dias! E, tu, periquita, e a Inês sorri, és a pior de todos! Aqui, a rir-se que nem uma tolinha! Anda lá, vamos preparar-nos para a cama!

A Inês fica um pouco contrariada, agora que a luta ia entrar numa fase interessante é que a irmã teve que interromper! Isso não se faz, por isso, declara, verme!

A Filipa morde os lábios para não se rir, pois é, menina, eu sou um verme e tu és uma marota!

CONTINUA

Comentários

Muito bom. Gostei!!:)
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Deambulava num sonho inacabado
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Beijo, e um excelente dia!
Elvira Carvalho disse…
Muito interessante a descrição da vivência entre o Matias e o Edgar. Gostei de ler.
Abraço e saúde
Fico completamente preso aos teus diálogos, só ao nível de quem eventualmente gravasse as conversas e as passasse para o papel (neste caso, computador). Muito bom, muito bom mesmo, ao nível das melhores páginas de diálogos que já li. Muitos parabéns.

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