O PASSEIO - PARTE IV


Estou tão cansado que adormeço de imediato, nem janto.

Na cozinha, todos jantam em silêncio e é só quando a Matilde e a Clarinha estão já no quarto que os adultos conversam.

" Falei com a agente que estava de serviço no parque e ela diz que, apesar do pânico, o Gustavo foi bastante competente." observa o Inspector Bernardes " Foi essa a palavra que ela usou " competente", fez uma descrição pormenorizada da Clarinha, mostrou uma foto que tinha no telemóvel, levou-os ao sítio onde ela estava a brincar, onde ele e os amigos a procuraram..."

" É teu filho; falas dos teus casos, discursas sobre a importância dos pormenores... ele ouviu-te." interrompe a Madalena e a Rita sorri.

No fundo, o cunhado até está orgulhoso do filho, ela própria está, mas a Madalena continua preocupada.

" Pena que não tenha escutado tudo... Porque já tivemos este tipo de conversa: se estão com a Clarinha, vejam o que ela faz, para onde vai. Sigam-na... O Gustavo falhou redondamente..." continua a Madalena.

" Não discordo, mas ele também provou ser uma pessoa capaz de enfrentar a situação e assumir a culpa." comenta a Rita.

A Mãe não está convencida, ainda está muito magoada.

A Clarinha adorou ver o esconderijo dos patos, ficou assustada porque não soube voltar para trás, o Gustavo não teve culpa, frisa.

" Para a próxima vez, chamas o Gustavo e ele vai contigo, ok? Ficamos muito assustados, não sabíamos onde estavas..." explica a Madalena, mas a Clarinha não percebeu.

A Rita levanta-se, está a ficar tarde, amanhã tem uma reunião importante.

" Amanhã, o Gustavo vai falar contigo. Ouve-o... ele está muito arrependido e precisa que tu o perdoes." pede e saí.

A Madalena entra no quarto das filhas, tira o telemóvel da mão da Matilde e dá um beijo na cabeça da Clarinha.

O filho está a dormir profundamente em cima da cama, a Mãe estende uma manta por cima dele.

Depois, vai para o quarto dela e desata novamente a chorar nos braços do marido.

CONTINUA

Comentários

Elvira Carvalho disse…
É um susto enorme que leva anos a passar. Quando o meu filho foi para a primária, um dia a professora saiu mais cedo e eles ficaram no espaço do recreio guardados por uma contínua.Eu ia sempre buscá-lo às 5 horas e quando cheguei ele não estava. Corremos tudo sem o encontrar, eu por um lado o marido por outro. Fomos à polícia ao hospital ao parque e estávamos numa aflição quando a polícia apareceu com ele. Tinham-no encontrado com outros miúdos mais velhos, a regressar da praia, único sítio onde não nos ocorrera ir por ser um bocado longe da escola.
Ele tinha aproveitado um momento de distração da funcionária e escapara-se com os miúdos da quarta classe que saíam mais cedo. Como alguns deles tinham os pais a trabalhar decidiram ir para a praia e o meu Pedro foi atrás.
Durante anos não consegui esquecer, e quando comecei a cuidar da neta, em 2009, e sempre que saía com ela lembrava-me da aflição que tinha passado com o pai e não tirava os olhos dela um minuto. Tenho a certeza que me vai acontecer o mesmo quando esta que tem agora 10 meses crescer um pouco mais e eu começar a sair com ela.
Abraço, saúde e bom fim de semana
Muito bem! Uma vida "atribulada" preocupante!:)

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Sonho fracassado ...

Beijo, e um excelente fim de semana! :)

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