O DILEMA DE LUISA PARTE II

 

Fico chocada, sou uma pessoa problemática, em conflito comigo e com os outros? penso, mas não me atrevo a dizer isso alto.

Tenho muito que pensar, tento rever os acontecimentos presentes e passados, onde é que falhei e como posso corrigir? e estou tão abalada que não vejo o sinal.

Passo com vermelho, o outro carro bate-me com toda a força e embato contra o separador.

Desmaio e os meus Pais contam-me depois que estive uns dias em coma, que pensaram o pior, que foi um alívio quando disseram que ia sobreviver.

Vais ter meses de recuperação, avisam, não vai ser fácil, mas não te preocupes, tu e o Tobias ficam lá em casa o tempo que for necessário.

O Gustavo também me visita, tu és tão cuidadosa, como é que não viste o sinal? censura carinhosamente e vejo que está aliviado por o Tobias não estar no carro.

Gostava de ver o miúdo, mas um hospital não é o local adequado para um bebé, explica a minha Mãe e tenho que concordar com ela.

Naquela tarde, sentam-me num cadeirão, amanhã vai começar a fisioterapia, esclarece a enfermeira, pensamos que poderá ir para casa no início da próxima semana.

Estou abalada pelos acontecimentos, sinto os olhos cheios de lágrimas, estou a armar-me em vítima, já sei, mas não consigo evitar.

Boa Tarde, é má altura? perguntam-me, mas eu não me dou ao trabalho de responder, olá, boa tarde, insistem, podemos conversar um pouco?

Suspiro, levanto os olhos, encontro uma rapariga de cabelo castanho preso num rabo de cavalo, cara lavada e uns olhos castanhos trocistas.

Bolas, é uma criança que se vai encarregar da minha fisioterapia, murmuro e como se tivesse adivinhado os meus pensamentos, a rapariga responde, sou interna de psiquiatria e gostaria de conversar um pouco consigo sobre o acidente.

Não preciso de uma psiquiatra, digo agressivamente, mas a médica ignora e continua, segundo o relatório, não viu o sinal e gostaríamos de perceber porquê? Todos dizem que é muito cuidadosa, o que falhou naquele momento?

Já disse que não preciso de uma psiquiatra, repito, talvez, mas eu acho que precisa, insiste a Dra Lúcia, as enfermeiras dizem que passa os dias calada, às vezes, finge que está a dormir para não falar com as visitas.

Lembro-me do olhar magoado da minha Mãe, do ar perplexo do meu Pai, ajo como se tivessem culpa de tudo o que me aconteceu.

A Dra Lúcia espera que eu falo, mas para já não consigo.

Como é que vou explicar que a verdadeira culpada sou eu e não sei como explicar isso?

Mas não estamos a falar de culpa, estamos a falar de si, dos seus sentimentos, esclarece a Dra Lúcia quando lho confesso.

CONTINUA

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Talvez ela esteja mesmo a precisar de uma boa conversa com um psiquiatra.
Vamos ver.
Abraço, saúde e bom fim de semana
É isso, uma ajuda psiquiatra não faz mal. Com o tempo vai conseguir falar! .Gostei
*
Rasgam-se pensamentos pelas nuvens
.
Beijo, e um excelente fim de semana.

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