A PERSPECTIVA


Não vou negar... fiquei muito surpreendido quando a minha irmã Teresa me telefonou.

Há que tempos não falamos, diz (se não implicasses tanto com a Laura, as coisas seriam diferentes, penso) e tenho uma proposta a fazer-te (fico de pé atrás, pois a Teresa não tem qualquer sentido comercial).

Por isso, combinamos encontrar-nos num restaurante perto do meu escritório, a Laura começa a trabalhar nessa tarde na empresa do António e não há perigo de me surpreender para almoçarmos juntos.

Ainda não compreendi a antipatia que a minha mulher e a minha irmã sentem uma pela outra, a Teresa evita diplomaticamente ir a minha casa, a não ser que a família esteja toda reunida e mesmo assim, a conversa limita-se ao indispensável.

Porquê? O que é que aconteceu para vocês se odiarem dessa maneira? questiono a Laura.

Ora, Pedro, odiar é uma palavra forte, responde, não concordamos com a perspectiva das situações e não encontramos ainda uma forma de nos entendermos.

Mas acho que é mais do que isso, tem que ser, terei que descobrir. Ou talvez nada... posso não gostar e isto tornar-se num grave problema.

A Teresa está mais gorda, tem uma madeixa verde e traz um vestido comprido e solto.

Calça umas sandálias tipo gladiador e fala tão depressa que tenho dificuldade em a seguir.

" Estás mais magro, Pedro. Aquela tua mulher não te dá de comer? Comida gourmet? Nouvelle cuisine com aquelas porções ridículas?"

" Calma... Se eu estou magro, tu estás gorda. O que é que andas a fazer? " pergunto.

" Isto e aquilo. Tenho uma pequena horta biológica e estou a adorar." conta a Teresa, cortando o pão a meio e barrando-o com manteiga.

" E, além disso, o que é que fazes? " e preparo-me mentalmente para ela me pedir dinheiro emprestado.

A Laura não vai concordar, penso, mas a Teresa paga sempre. 

Até ao último cêntimo e no prazo que estipulou.

Não sei como consegue, parece que nunca tem dinheiro suficiente.

CONTINUA

Comentários

Nesse tempo ainda haviam restaurantes abertos
Mas alguém consegue compreender as razões quando duas mulheres se zangam uma com a outra? lol

Acompanhando a Estória

Desejando uma Páscoa Feliz
( tanto quanto possível )
Elvira Carvalho disse…
Com grande dificuldade em ler (ainda não consegui por a leitura em dia) passo a desejar uma boa Páscoa e a deixar um abraço
Este episódio fez-me lembrar eu, ontem, que fiz video-chamada com pessoas familiares que não via há tempos. Amei!
-
"Neste tempo que nos resta..." | Uma Santa Páscoa| .O tempo pode ser curto e o amanhã já ser tarde. A Páscoa continua, as vidas não. Por isso, façamos do nosso próprio lar o imaginário da família em volta da mesa. A praia que gostaríamos de visitar... O parque florido iluminado pelos raios de sol... Façamos a nossa obrigação. Ficar em casa, porque do nosso lar iluminado podemos sempre falar com quem está longe, ou mesmo ali ao lado... PÁSCOA FELIZ.

Beijo e abraço, virtualmente carinhoso.
Luiz Gomes disse…
Obrigado pela ajuda no meu Blog. Uma boa Páscoa e muita saúde para vc e sua família.
Sofá Amarelo disse…
Desta vez vou comentar algo que já tenho falado às vezes: a maneira como arranjas nomes para os protagonistas das tuas histórias. Parece que as tuas personagens só podiam ter mesmo esses nomes que lhes atribuis. Acho muito interessante este aspecto pois é fundamental para o ritmo de cada história. E por isso esta Laura só podia chamar-se Laura, a Teresa só podia chamar-se Teresa e o António só podia chamar-se António, por exemplo...

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