O INSPECTOR
Finalmente.... é a minha vez de falar....
Estive quase sempre na sombra, deixei que a Madalena e os meus filhos fossem os protagonistas das histórias, mas agora tenho que falar...
Da ironia do destino, eu é que tive problemas de saúde e foi a Madalena quem morreu primeiro.
Sinto muito a falta dela, do sentido de humor, da franqueza, da compreensão, pois sei que não é fácil ser-se mulher de um Inspector.
Mas nunca me recriminou...e estou-lhe grato por isso.
Fiquei surpreendido com a decisão da Clarinha, viver comigo para "teres companhia, estou a ficar um pouco farta de andar de um lado para o outro" explica e eu aceitei a ideia, até quando vai durar, não sei, mas a casa está mais alegre, tem mais movimento.
Os meus filhos estão surpreendidos com a minha tolerância, sou um avô simpático e gosto de pensar que sou divertido.
Claro que imponho limites, os netos aprenderam a não os ultrapassar e a vida não pode correr mal.
Agora que sou reformado, pensei em escrever um livro, tenho imensas histórias para contar, talvez fale com a Natália, ela tem bons contactos no mundo editorial.
Não discuto o assunto com os meus filhos, até porque propuseram-me um trabalho de consultadoria.
A culpa foi minha, acompanhei o Gonçalo numa visita à casa que têm na vila, ele queria instalar um alarme, fiz tantas perguntas ao funcionário que a empresa me contactou.
Estava interessada em saber como podia melhorar, fiz imensas sugestões e ofereceram um part-time.
Por isso, hoje estou a fazer uma vistoria, a ver o que falha e como se pode melhorar...e penso na Madalena, no que ela diria.
Acho que não gostaria de me ter fechado em casa todo o dia e a verdade é que eu também não.
É por isso que estou hoje na casa da Rita e do Gonçalo na vila para desanuviar e quem sabe? escrever o primeiro capítulo do meu livro.
CONTINUA
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