A FUGA PARTE III

 

Para ser franco, começa o Miguel, não entendi nada do que a Mãe disse. Tinha que se encontrar, que era a altura ideal para o fazer...

Idiotices, interrompo, a Laura passa a vida a " encontrar-se" e depois fica parada no tempo com a desilusão. Passa uma temporada na clínica e volta ao normal.

O Miguel suspira, achas que essa interpretação é a correcta? pergunta e eu sorrio, é a única que parece ser aceitável... A Laura é uma insatisfeita, confidencio, e quando o Mundo não corresponde ao que ela idealiza, foge...

O Miguel não diz mais nada, tomamos o chá em silêncio, gozamos a presença um do outro.

Talvez seja melhor telefonares aos teus Tios, aconselho, eles podem querer estar cá quando a tua Mãe regressar.

E ela vai regressar? duvida o filho, eu sorrio-lhe, dou-lhe uma palmada amigável na mão, é minha filha, conheço-a razoavelmente bem.

O António deve ter ficado lívido, o Gonçalo furioso e ambos prometem estar na quinta no sábado, querem ter uma conversa séria com a irmã, estão cansados, ela tem que aprender a viver no Mundo, a respeitar as pessoas, repetem.

Mas eu tenho as minhas dúvidas, a minha filha entra em casa como se nada tivesse acontecido e preocupado as pessoas durante dez dias.

Os irmãos estão a exagerar como é habitual, ela só foi dar um giro, apreciar o Mundo com um homem interessante que nem se dá ao trabalho de entrar na sala e explicar-se.

A discussão entre os irmãos é violenta, a Laura sobe as escadas a correr, fecha-se no quarto.

Saio então do meu, bato suavemente à porta e entro, encontro a Laura sentada na cama, ainda com a parka vestida.

Afinal, o que é que eles querem? lança-me a pergunta, só fui dar um passeio, não há qualquer problema em passear, comento, só que as pessoas dizem onde vão e deixam o telemóvel ligado!

Estou óptima, não vou fugir novamente, repito, mas demonstraste uma vez mais que não podemos confiar em ti! continuo.

Vocês são tão antiquados! grita a minha filha, não percebem nada! e eu abano a cabeça, não, minha filha, tu é que não percebes nada sobre o Mundo.

Levanto-me com uma certa dificuldade, estou cansada, acho que não vou descer para o jantar.

CONTINUA


Comentários

Elvira Carvalho disse…
Nos meus primeiros comentários quando comecei a acompanhar as suas histórias, ainda antes do Miguel nascer, eu dizia que achava a Laura egoísta, egocêntrica.
Depois com o diagnóstico de bipolaridade, pensei que era próprio da doença. Hoje parece-me que inicialmente tinha razão, e que mesmo quando a doença está controlada, a sua personalidade mostra o egoísmo e o egocentrismo de que é composta.
Abraço e saúde
Os filhos e a Mãe andam sempre de coração nas mãos!
Concordo com a Elvira!
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A natureza é sabia, mas por vezes dura...
Beijos
Bom fim de semana.

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