A ENDIABRADA

 

É a minha vez de falar... claro que os meus irmãos são importantes, mas eu mereço umas linhas.

Escolhi ser diferente, optei pela via artística, alcancei alguns êxitos, mas um dia, caí no palco, parti uma perna e eis-me de volta à casa materna.

A Mãe ficou animada por me ter novamente em casa, não gostou muito que a Filipa mudasse para outra cidade e levasse os filhos.

Era uma alegria, comenta a D. Margarida, quando eles tocavam à campainha e gritavam, espero que tenha feito uma coisa boa para o almoço...

Rio, também eu sinto a falta dos diabretes, concordo, mas temos que pensar nos que vão chegar!!! Quem diria que o Miguel, sempre tão sério e exigente e o Matias, tão descontraído, iam casar com duas irmãs e vão ser pais quase ao mesmo tempo?

A festa de casamento do Miguel e da Matilde foi umas semanas antes do meu acidente, optaram por uma cerimonia muito simples e uma festa discreta e estavam tão felizes que não gozei com a situação.

Fiz questão de animar a malta num palco improvisado, o Edgar e o Gonçalo actuaram como coro e já os noivos tinham partido e nós ainda a dançar e a cantar.

Suspiro, a D. Margarida pergunta-me preocupada se tenho dores, mas abano a cabeça, estou aborrecida simplesmente.

Lê, aconselha a Mãe e dou por mim a ler contos que o Matias ou o Edgar me liam quando era criança.

A ideia de escrever um livro infantil surge-me quase de imediato e entusiasmada, peço ao Miguel, ao Matias, até mesmo ao Edgar que me comprem mais livros, decido tornar-me membro da biblioteca.

Que ideia a tua de leres livros infantis! reclama o Edgar, vais adaptar algum dos livros ao teatro?

Por acaso, digo lentamente, até pode ser uma boa ideia; boa, Edgar! Não és nada idiota!!! acrescento e o meu irmão atira-me uma almofada.

É bom saber que estás a recuperar, declara, não gosto de ter ver triste... Não és a Inês, a minha irmã endiabrada, és o fantasma dela!!!

Rio-me, devolvo-lhe a almofada e peço o computador emprestado à Mãe.

CONTINUA

Comentários

Um ritmo de leitura impressionante, direi mesmo ao nível dos melhores escritores... estas narrativas que vens escrevendo há uns anos com regularidade têm de ser publicadas!

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