A ENDIABRADA PARTE III


Acabo por ficar sentada no banco, os meus sobrinhos acenam-me, estão felizes e tenho que confessar que há muito tempo que não me sentia tão confortável.

Adoro actuar e cantar, não posso negar, mas talvez possa explorar outra vertente da profissão.

Os meus irmãos não dizem nada nem a Mãe, mas sinto que gostariam que estivesse mais perto.

E tenho que confessar: nos últimos tempos, não tenho estado muito feliz, perdi aquele papel interessante para uma outra actriz da companhia e não gosto nada de trabalhar com aquele director.

Foi uma relação tóxica, a nossa separação foi dolorosa, abalou-me física e emocionalmente e talvez seja por isso que estava distraída no dia em que tive o acidente.

Foi o que confessei à Filipa, ela acabou por me contar a verdadeira razão porque se mudou para aquela vila simpática e eu estou a pensar que tenho que fazer o mesmo.

À noite, contacto um amigo, será que me podes pôr em contacto com um grupo de teatro local? peço, para já, não quero voltar, quero ficar mais perto da minha família.

Se ficou admirado pelo pedido, não o demonstra, envia-me uma série de contactos e eu telefono ao primeiro nome da lista.

Combinamos encontrar-nos no dia seguinte depois da minha sessão de fisioterapia, a companhia funciona num prédio antigo, mas renovado recentemente.

Dizem que o director está um pouco atrasado, dou uma volta pelas instalações e gosto do que vejo, o reportório centra-se em peças clássicas e explora igualmente autores modernos.

O director não deve ter mais do que quarenta anos, o meu amigo já lhe tinha telefonado, teceu-te grandes elogios, Inês, diz, mas porque é que estás interessada na nossa companhia?

Nasci aqui, fui criada aqui, explico, quero ficar uns tempos, recuperar 100% e sorrio.

O director sorri também, estende-me um guião, estamos a pensar em encenar esta peça, responde, porque não participas na reunião para a distribuição de papeis? 

Aceito o guião, combinamos o dia, a hora e eu volto a casa lentamente.

O quê? Vais voltar ao palco? exclama o Amadeu, e o livro? O que é que vais fazer com o livro?

CONTINUA


Comentários

A Nossa Travessa disse…
Minha querida Martamiga
O tablado é um diabo: tem artes que mais ninguém usa: prende-nos. Posso dizê-lo pois pisei o palco em diversas situações; como diferentes personagens e até me dei ao luxo (só por uma vez...) de ser encenador.
O teu «folhetim» vai-se compondo e às primeiras vistas parece bem encaminhado. Veremos os episódios seguintes...
Beijos 💋💋💋 & queijos de Niza
Henrique
A Nossa Travessa disse…
Olá Martamiga!
Hoje venho aqui para te dar conta que no «BLOG DE TAIS LUSO» saiu uma nota muito elogiosa sobre o meu livro «CRÓNICAS DAS MINHAS TECLAS» que inclui a foto da capa da obra. Permito-me deixar-te uma sugestão: vai lá e, gostes ou não, posta um comentário n'«A NOSSA TRAVESSA». Obrigado.
Beijos💋💋💋 & queijos d Estremoz
Henrique



Estive ausente!
Já li os episódios anteriores, Gostei e estou a gostar. Quem sabem não começa aqui uma nova etapa. Obrigada!
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Quero voltar ...
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Beijos. Bom fim de semana..

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