O VIDRO DA PORTA - PARTE II
Eu e a Sofia varremos os vidros enquanto o Amadeu desce à arrecadação para ver se encontra alguma coisa para tapar o buraco.
Acha que a empresa que os rapazes contactaram não vai resolver o problema.
Também tenho a mesma opinião, mas não quero desapontar os rapazes. Foram muito correctos: assumiram a culpa e tentaram ajudar.
O António está sentado nas escadas a fumar um cigarro. Sofia olha-o de vez em quando; parece nervosa, distraída.
Proponho fazer um chá enquanto esperamos. Os homens recusam; o Amadeu encontrou uma placa de madeira e os dois querem ver se a conseguem pregar.
Sentamo-nos na cozinha. Vamos passar o resto da noite acordados...
Revejo mentalmente a minha agenda; talvez possa adiar a reunião para a tarde.
" A Luisa trabalha em quê? " pergunta-me a Sofia.
" Tenho uma pequena empresa de serviços. E, a Sofia? " questiono-a.
" Sou recepcionista num gabinete médico. Em part-time, mas fizeram-me uma proposta para trabalhar a tempo inteiro." explica a minha vizinha.
" Isso é bom. Vai ganhar mais, ter mais regalias." comento, mas noto que a Sofia está quase a chorar.
" O que se passa? Tem alguma dúvida sobre a proposta? Sobre o ordenado? Se quiser que leia... " mas a Sofia interrompe-me.
" Não, não, é uma boa proposta. O António não quer que aceite. Foi muito difícil convence-lo a deixar-me trabalhar part-time e agora, nem quer discutir o assunto!" lastima-se a Sofia.
Fico chocada. O António não parece ser um homem antiquado.
CONTINUA
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Hoje:- "Poetizando..." Outros tempos, e formas, de falar ao coração
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