A MUDANÇA PARTE III

 

Adormeço, acordo já o Pai está na cozinha a preparar o pequeno almoço e noto que ele continua mal disposto.

Comemos calados, silêncio continua a ser a palavra de ordem no carro, o Pai quer sempre saber quais são os nossos planos para a semana.

É o que te digo, desabafo com o Luís que exibe sorridente o gesso no pulso e passa o tempo a explicar o que sucedeu, o Pai não gostou nada de ver a Mãe com o amigo Damião. Aliás, acrescento, eu também não gostei muito dele, acrescento, é muito metediço.

Não achei, contraria o Luís, foi muito amável durante a viagem, sabe imenso sobre carros...

Oh, cala-te, exijo, como podes ser tão infantil??? Queres tê-lo lá em casa todos os dias, a mandar em nós?

A mandar em nós, a que propósito? repete o meu irmão, o que é que tu sabes que eu não sei?

Mas tu és imbecil ou quê? grito, deixa-me em paz, Luís...Que mal fiz eu para ter um irmão imbecil? exclamo e deixo o meu irmão especado no pátio.

Á saída da escola, encontramos o Damião à nossa espera, pensei que gostassem de lanchar fora, já falei com a vossa Mãe, explica, e ela está de acordo.

Mas o que é que este gajo quer??? penso e alto, é melhor não, temos muito trabalho para apresentar amanhã, respondo e o Luís dá-me uma cotovelada.

Vá lá, Amadeu, não sejas assim tão sério, diz o Damião, pega na mochila do meu irmão, abre a porta do carro e atira-a lá para dentro.

Vou contrariado, tenho que admitir que ele escolheu uma boa confeitaria e deixa-me escolher o que me apetece.

O Luís não se cala, ignora os meus sinais para ser mais discreto e conta toda a aventura ao jantar à Mãe que sorri.

E, tu, Amadeu, não dizes nada? pergunta-me, o que pensas do Damião? e olha-me expectante.

Tenho que escolher bem as palavras, não a quero magoar, gostaria de ter falado com a avó antes, mas isto está a acontecer depressa demais.

Não sei, acabo por dizer, porque é tão importante saber o que eu penso? e a expressão da Mãe muda, fica triste, preocupada.

Peço licença para me levantar, a Mãe acena que sim com um sorriso forçado e no corredor, o Luís questiona o meu comportamento.

Cala-te, traidor, grito e fecho-lhe a porta do quarto.

CONTINUO



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