O VIDRO DA PORTE - PARTE III
Só quando a Sofia murmura " Mas é..." é que depreendo que falei alto.
" Desculpe, desculpe... O que é que a Sofia quer? " desculpo-me.
" Quero aceitar. Agora faz todo o sentido que aceite; os nossos filhos estão na Universidade, têm a sua própria vida. E gosto de estar em contacto com o público, de sair para almoçar com os meus colegas..." explica a minha vizinha.
" Compreendo. Sente-se viva, útil.. Infelizmente, ainda há homens como o António. Foi por isso que me divorciei. A empresa era do meu Pai e o meu ex convenceu-se de que seria ele a gerir quando o Pai se reformasse." confidencio.
" Mas a Luisa não esteve para isso? " pergunta a Sofia enquanto no hall, o Amadeu dá instruções ao António e aos dois estudantes.
" Mais para a esquerda!" grita o Amadeu " Oh, pá, para a tua esquerda!"
Rimo-nos e eu respondo: " Eu tirei um curso de Gestão e já ajudava o meu Pai. Era lógico que eu assumisse a gestão da empresa. Ele aceitava que eu desse uma ajuda, embora estivesse sempre com insinuações que eu ignorava. Só soube verdadeiramente o que ele queria quando o Pai se reformou e ele se despediu do emprego, pronto para assumir um cargo que ninguém pensou em lhe dar."
" Ups! Reagiu assim tão mal? O António nunca concordou; tivemos discussões terríveis e, enquanto os miúdos foram pequenos, eu cedi. Mas agora não posso ceder." confessa a Sofia.
" Não, tem que pensar. E o que pensam os seus filhos? " questiono.
" Acham uma boa ideia. A minha filha diz que pareço mais nova, mais moderna, embora use um uniforme." conta a Sofia, sorridente.
Olho para ela com mais atenção e vejo que tem o cabelo mais cuidado, com um corte mais moderno.
As unhas estão pintadas de vermelho e o roupão assenta-lhe bem.
" Tenho mais cuidado com a alimentação; pratico yoga à hora de almoço." continua a Sofia.
CONTINUA
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Hoje:- Vestes leves, agitadas pelo pensamento
Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira
Emilia