O GENRO

 

Então, como vai a Filipa? pergunta-me a Clarinha naquela manhã, ainda estou no vestiário a mudar de roupa, o dia vai ser complicado e duro.

Está a recuperar, respondo, diz que não se lembra do ataque, a Polícia tentou interrogá-la, mas ela recusou-se, e suspiro.

A Clarinha fica em silêncio uns minutos, e os miúdos? e eu volto a suspirar, acho que não compreendem muito bem o que se passou e porque é que a Mãe está no Hospital, explico, a Filipa não os queria ver, mas a Carolina conseguiu convencê-la.

Eles têm que saber a verdade, concorda a Clarinha, não a verdade total, apressa-se a dizer, mas não podem esconder que a Mãe está no Hospital.

Pois, tenho que desligar, os meus colegas têm feito os meus turnos, explico, e trabalhar obriga-me a concentrar noutros problemas, noutras situações. Está a ser complicado...

Calculo, comenta a Clarinha, então, não nos encontramos hoje? e eu sorrio, telefono-te ou mando SMS quando acabar.

Saio do vestiário a pensar como é que me envolvi com a rebelde como a família da Filipa lhe chama, mas a Clarinha é uma mulher inteligente, interessante, imprevisível e é o que me atraí.

Também viu o lado negro das coisas, compreende o que digo, escuta-me e nos últimos anos, a Filipa evitava-me, escondia-se de mim.

A família não ia compreender a minha relação, desconfiam que tenho alguém, mas não fazem perguntas.

Creio que o meu cunhado Miguel desconfia, mas nunca me falou no assunto, nem eu ia deixar.

Com o nosso divórcio, a relação tornou-se apenas polida, sou o Pai dos sobrinhos e nada mais há a dizer.

Não posso dizer que sinto falta daqueles almoços suculentos, agora sou só convidado para as festas dos miúdos que insistem que sejam em casa da avó.

Foi durante uma dessas festas que eu e a Clarinha conversamos mais, fomos tomar um copo depois e acabamos no meu apartamento.

CONTINUA



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