É MENTIRA - O MAROTO DO TIO BERNARDO
Já
perdi conta aos anos que vivo nesta vila simpática onde todos se
conhecem e se tratam por tu.
O
progresso já se instalou, claro está, mas há regras, porque
conseguimos que fosse declarada Patrimônio Nacional.
É
o local ideal para escrever os meus romances policiais com um leve
toque erótico, e o sucesso que estou a ter surpreendeu-me.
O
meu editor está a pressionar-me para que faça uma pequena viagem de
apresentação do novo livro, mas estou relutante. Desde que a minha
mulher morreu, tornei-me mais solitário e não tenho muito paciência
para elogios e perguntas sem nexo.
Por
isso, quando o Jaime me veio visitar, achei que ele seria a pessoa
ideal para apresentar o livro.
O
Jaime estudou literatura moderna, é tradutor e conhece muito bem a
minha obra. Já leu o novo livro, tem uma opinião sobre o tema que
pode partilhar com o público.
“
Oh, tio, mas não
fui eu quem escreveu o livro. As pessoas vão querer saber como te
inspiraste, o porquê de misturar o policial com o erótico, etc....”
“ Dá
a tua opinião! Diz que me quis afastar do crime tradicional, do
detective corrupto... Inventa...” sugiro,
mas o Jaime não está convencido e abana a cabeça.
“
Oh, tio Bernardo,
está louco. Um livro é muito pessoal; sei lá porque resolveu
escrever uma história sobre uma mulher detective e porque é que ela
tem um "affair" com um stripper suspeito de homicídio. Porque lhe
chamou Renata.” expõe veementemente. Lembra-me o meu irmão Miguel
que também adorava um bom debate.
“ Dá
a tua opinião!” repito “Renata era o nome da tua tia...”
“
Tenho a certeza
absoluta de que a tia Renata não era... maluca, digamos!” confessa
Jaime
Rio-me
também e digo:
“
Mas era sexy....”
e o Jaime atalha envergonhado: “ Não preciso de saber!”
"
Excerto do meu conto sobre a "Mentira" e publicado na Colectânea da Editora Pastelaria Studios com o mesmo nome.
Comentários
Um beijo.